O jornal francês Le Monde publicou um suplemento especial sobre os Impérios que existiram ao longo dos séculos e também nós fomos contemplados com o nosso império colonial e marítimo começado no séc. XVI.
Torna-se muito interessante ler a história de alguns desses impérios que desapareceram do mapa político há séculos ou décadas, apenas. Tal leitura dá-nos uma perspectiva realista e mais consentânea dos "ventos da História" que ajuda a relativizar o que nos aconteceu no séc. XX, com a nossa retirada dos territórios africanos que foram nossos durante séculos e que alguns choram amargamente como se tal fosse uma amputação da própria natureza da nossa Nação.
A revista francesa L´Histoire já tinha publicado um número especial em Abril de 2014 dedicado ao nosso "Império ultramarino" e a análise que então fazia merece estudo e atenção, porque contrasta um pouco e coloca em perspectiva mais adequada as ideias do tenente coronel Brandão Ferreira, tal como expostas nos três artigos que publicou no O Diabo sobre o Mare Liberum, um dos quais, o último, foi aqui reproduzido.
A revista começa por contar o que nos aconteceu no séc. XIX com o caso do mapa-cor-de-rosa, provavelmente a maior humilhação que sofremos depois de séculos. E que ficou impune por fraqueza nossa. Não tínhamos poder militar para opôr aos que nos falavam mais alto, nomeadamente os ingleses que queriam fazer coisa sua os territórios africanos do Cairo ao Cabo, na faixa central, interior, da África. A nossa aliança secular com a "pérfida Albion" manteve-se e como lembrou o nosso presidente da República, recentemente e perante a soberana, herdeira dessa gente, a mesma até veio cá, por duas vezes, sendo recebida com pompa e circunstância, no tempo de uma República que surgiu em parte por causa da fraqueza da monarquia, também nesse aspecto.
O tempo que decorreu até ao advento do Estado Novo foi de opróbrio e resignação perante os ingleses apesar da farronca mostrada em pasquins e cafés do Terreiro do Paço. O melhor exemplo é o da imagem que mostra a família real a andar pela praia, para o exílio enquanto os mirones espreitam do cimo da ravina amurada.
Décadas depois foi a recuperação da dignidade perdida, devido a Salazar cujo relevo político é explicado pela revista em seis páginas ilustradas. A última ilustração nunca a tinha visto...
Essa recuperação de dignidade devêmo-la a Salazar e a mais ninguém e era justiça que lhe deveria ser feita.
Salazar recuperou os velhos mitos da grandeza da Pátria e dos feitos dos heróis de antanho e deu novo alento aos portugueses, com essa propaganda. Em 1940, a celebração em Exposição do Império Português foi o auge dessa gesta. O ensino reflectia essa imagem de grandeza da Nação que dera "novos mundos ao mundo", nas ilustrações, histórias e textos literários, com destaque para Os Lusíadas de Luís de Camões.
Para se ver melhor o que éramos, o que tínhamos sido e ainda o que outros foram em circunstâncias semelhantes importa relativizar o que a revista do Le Monde faz, assim:
A história dos Impérios mais recentes e dos países mais próximos pode assim resumir-se no casos da França, Grã-Bretanha, Espanha e finalmente Portugal:
O Império português é o primeiro dos impérios europeus da Idade Moderna. Seguiram-se os outros e todos caíram, pela independência concedida aos respectivos povos autóctones. O português, naturalmente caiu também. E afinal o espanhol é que pretendia "evangelizar" o mundo...e por isso a América Latina é católica.
É perfeitamente utópico e de um realismo fantástico julgar que tal não sucederia e seríamos o único país europeu a manter um império colonial contra tudo e contra todos, no séc. XX e nos seguintes.
Portanto, conjugando estes factos históricos com as explicações dadas por Kaulza de Arriaga e outros para o desmantelamento do nosso império colonial que sobrou dos sec. XVI e XVIII ( data da ocupação do interior dos territórios africanos segundo a revista) deverá assumir-se a inevitabilidade do desaparecimento do nosso império devido aos "ventos da História", precisamente.
Outros Impérios bem maior e significativos que o nosso desapareceram. O nosso não seria excepção...e julgar o contrário é ignorar esse devir histórico.