O "colunista" do Público, João Miguel Tavares teve hoje esta tirada lamentável a todos os títulos:
"embora a herança salazarista tenha sido trágica na Educação, com quatro décadas a doutrinar criancinhas com a trilogia Deus, Pátria e Família e a promover um país pobre, rural e conformado com a sua própria mediocridade"...
Trágica é esta frase de um suposto representante de uma Direita inexistente em Portugal. JMT é um híbrido que emparelha bem com Ricardo Araújo Pereira no programa que animam em tandem com um Mexia que não mexe uma palha e um moderador que modera à esquerda como convém ao politicamente correcto.
Referir o Estado Novo daquele modo é repenicar o estribilho comunista do obscurantismo e do atraso atávico que Salazar deixou como herança aos heróis de Abril, a par daqueloura ainda mais pesada e com mais de 800 toneladas nos cofres do BdP que os ditos acharam por bem aliviar- et pour cause.
JMT terá bebido deste leite de burrra quando era pequeno e lá ficou o germe que de vez em quando aflora como um herpes ideológico que se aloja ao canto do lábio inferior impedindo-o de soletrar devidamente as palavras.
O Estado Novo começou mais ou menos nos anos trinta e nessa altura Portugal tinha um Estado velho e revelho do jacobinismo ambiente que expulsara jesuitas, destruíra escolas, depauperara o país para além do tolerável e tolhera o desenvolvimento económico nas décadas vindouras.
Assacar a Salazar a culpa do desenvolvimento atrasado e a lentidão do progresso, nas décadas seguintes é olvidar os efeitos de uma guerra mundial a que escapamos e os efeitos de outra guerra em três frentes, na África portuguesa nos anos sessenta que nos delapidava os recursos orçamentais em quantidades astronómicas ( 40%).
Gostava de ver os democratas de hoje a fazerem melhor e mais depressa...
Ainda assim, em 1940, em plena Guerra Mundial e nem sequer dez anos de governo de Estado Novo, o panorama da propaganda permitia apresentar isto:
Este panorama pode ser consultado aqui e tal faria bom proveito a JMT e outros interessados...
Além disso, pode sempre ampliar-se um pouco mais a janela de oportunidade para se verem melhor as palermices escritas se espreitarmos nestoutra, da então Lourenço Marques:
Nada disto foi planeado ou construído pela "Independência" indígena mas sim pelo Estado Novo em tempo record, mesmo com mão de obra barata ou próxima da escravatura, como então era ainda plausível. Em toda a África, mesmo a independente. Quem lá viveu sabe. Não sendo o meu caso, pergunto a quem sabe.
A propósito de Moçambique: alguém sabe o que aconteceu ao genro do Guebuza depois de ter assassinado a tiro a mulher, na presença do sogro?
Sabem o que lhe aconteceu? Terá sido suicidado na esquadra de polícia, segundo se conta. Aí tinha recolhido para se proteger de quem o iria procurar...mas alguém procurou saber, em Portugal?
Em Angola o panorama é idêntico.
Quanto a escolas, basta percorrer cada uma das aldeias de Portugal e verificar o ano da construção da escola mais antiga...e sobre o famigerado analfabtismo basta comparar o grau de instrução de alguém que completou o ensino primário, nos anos trinta ou quarenta do séc. XX com alguém que o completa agora. E o analfabetismo tem muito mais que se lhe diga do que a propaganda comunista costuma dizer e JMT assimilou, entranhou e aparentemente não estranhou.
Sobre o conceito de Deus, Pátria e Família, pudera que ainda hoje fosse um conceito estimado, porque não é um arcaismo fóssil como são as ideias peregrinas que enformaram o pensamento de JMT quando escreveu aquela frase lamentável. A não ser que seja matriz e então é trágico mesmo.
Sobre esta miséria de andar sempre a lambuzar o conceito maldito, suscitando logo permissão para irem lamber sabão, passo a apresentar uma pequena parte de uma entrevista a José Afonso, ainda no tempo do fassismo, em finais de 1973, início de 1974 na revista Cinéfilo nº 8.
A entrevista mostra bem que José Afonso conhecia o povo português, pelo menos na sua linguagem e costumes, o que o tornava mais perigoso do que parecia, mas ao mesmo tempo mais interessante e a léguas do que JMT aparentemente julga entender.