sexta-feira, dezembro 30, 2016

O estado da informação em Portugal tal como contado no CM

O Correio da Manhã de hoje traz as estatísticas das vendas de jornais e revistas.


O comentador de media, Eduardo Cintra Torres,  mostra o que se passa nas tv´s:



A propósito disto tenho sempre mostrado um pequeno apanhado de opiniões avulsas, publicado no Diário de Lisboa de17 de Janeiro de 1974 porque nos dá uma imagem relativa do tempo que passou e da evolução sofrida pelos usos e costumes.



Julgo não andar longe da verdade se disser que as pessoas em 1974 e em geral estavam melhor informadas sobre o que se passava na realidade nacional do que hoje.

Na RTP de então, única televisão disponível ( além da espanhola para quem vivia na raia) os comentadores eram da situação ( João Coito, por exemplo) mas eram poucos e as opiniões já se sabia ao que vinham, na medida em que eram emitidas por alguém que não procurava questionar o regime ou aspectos delicados do mesmo, como as guerras em África, nas três frentes de Angola, Guiné e Moçambique.

Tal era aceite como normal perante a Censura do regime e a proibição da esquerda comunista se manifestar publicamente. Tal como noutros países aconteceu em determinadas épocas, até na Alemanha em que o partido comunista chegou a ser proibido, nos anos cinquenta.
É por isto e só por isto que a esquerda andou sempre a clamar contra o fassismo e a vituperar ainda hoje o passado obscurantista de Salazar e Caetano.

Não obstante, as pessoas em geral pensavam pela sua cabeça e tinham opiniões sobre os assuntos, como hoje. Sabiam que o PCP andava a maquinar contra o regime, clandestinamente, mas se alguém fosse apanhado seria preso porque havia lei para tal. Muitos heróis do antifassismo se forjaram assim. Saberiam porém que o PCP queria um regime como o soviético e com as características do mesmo? Isso já é duvidoso, relativamente aos próprios militantes que não conheciam essa realidade, censurada pelo próprio PCP, do mesmo modo que hoje acontece.

A diferença entre esse antigamente e hoje é quase nula na medida em que a Censura existente tem o mesmo sentido: ocultar das pessoas em geral a realidade factual e a explicação de acontecimentos, mesmo passados, sempre à luz de interesses político-ideológicos precisos e inquestionáveis.
Tal como dantes, isso acontece  nos media de hoje, com personagens que não tendo a estatura moral ou intelectual de um João Coito, assinam como adelinos farias ou judites, ou mesmo lourenças. São da mesma estirpe, porém, dos apaniguados de antigamente que redigiam as notícias com a Censura em cima a vigiar.  Beberam a mesma personalidade profissional e falam a mesma linguagem encriptada dos zombies.

Hoje em dia, para além disso, há uma diferença mais séria e que reside na circunstância de a informação ser pretensamente livre de censura ou produzida em "liberdade", o que não se cansam de apregoar aqueles que a dominam. Mas não é. A censura interna existente nos media é tão grande ou maior que dantes e a censura interna que advém de quem redige notícias para publicar será ainda maior porque nem é possível o estratagema antigo da redacção encapotada de notícias nas entrelinhas. Hoje em dia a censura é total e cortante em certos casos, porque não se admitem veleidades que ponham em causa a situação pessoal e profissional de quem as redige, partidaria ou ideologicamente ou mesmo pessoalmente, relativamente a certos figurões  que mandam na sombra.
A Lusa, por isso mesmo, é um cóio, sem mais. Um cóio de censura que segue o código não escrito do politicamente correcto e do que interessa a quem manda no momento. Na RTP idem , aspas. E na TVI aspas, idem.

Estamos por isso bem pior informados do que em 1974. Aparentemente será um paradoxo, mas não é. E tem ainda uma agravante muito séria: o grau de corrupção dos agentes políticos, hoje em dia não tem qualquer comparação possível com o que se passava em 1974.  E isso parece-me indiscutível até mesmo para quem acha que a Liberdade é que é o valor máximo conquistado no 25 de Abril de 1974.

Essa mesma Liberdade, porém, impede que se conheçam bem os contornos dessa corrupção gigantesca que nos rodeia, porque está entranhada nos media, como se fosse a própria seiva que os alimenta. Veja-se por exemplo o caso apresentado por Eduardo Cintra Torres, na tv pública...dos farias e quejandos.

E isso não acontecia em 1974, como mostram estas imagens do DL de 17 Janeiro desse ano. Este jornal está digitalizado ( embora graficamente muito mal e só a preto e branco) na Fundação Mário Soares que todos pagamos.
 



Ou por exemplo este "telex" enviado de Londres por Joaquim Letria ( que ontem esteve na tv a falar do "fassismo" e outras coisas) em que se mencionava, em 20 de Julho de 1973 a oposição à guerra em África por ocasião da visita a Londres de Marcello Caetano. " "Por outro lado, jornais e tv continuam a referir-se à história do massacre de Wiriamu e uma fonte da embaixada disse que havia o perigo de Portugal passar a ser conhecido apenas pelas características que esta onda de acusações lhe apontam: um Estado fascista que mantém uma guerra colonialista onde chacina nativos".



Esta frase está aí na primeira pagina do jornal e exprime a opinião do próprio jornal, dirigido por Ruella Ramos que dali a menos de um ano o transformou em "arma de combate" pelo comunismo.

Era esta a liberdade de informação que não havia?

Questuber! Mais um escândalo!