VPV, no Observador:
Só sexta-feira à noite percebi o que se estava a passar. O Presidente
Marcelo, o primeiro-ministro, o presidente da Assembleia da República e a
própria Assembleia enlouqueceram com Salvador Sobral. Não há a menor
dúvida. E, para quem ainda duvide, basta ligar a televisão. Não me
lembro de ver um espectáculo remotamente parecido (a Câmara dos Comuns,
por exemplo, a aplaudir de pé Gardiner, Simon Rattle ou os Beatles). O
populismo da classe dirigente portuguesa, toda ela, nunca desceu tão
baixo. A pressa em roçar-se pela fama de um pobre cantor indefeso e
desarmado mostra bem quem é esta gentinha da política, que Portugal
inteiro despreza. Por um voto e um pouco de presuntiva simpatia, roubada
ao próximo, vende unanimemente a sua dignidade e a dignidade das suas
funções. O carácter, para ela, não passa de uma ficção. Agora sabemos
quem nos governa.
A ideia que perpassa no aproveitamento político destes fenómenos parece simples: juntando-se ao sucesso alheio e sublimando-o para um plano nacional, também poderão usufruir da vantagem em popularidade e notoriedade positiva.
Tudo o resto virá por acréscimo e os media não esperam outra coisa senão vender mais uns exemplares ou conquistar mais uns pontos de "share".
Ainda por cima a cançoneta é bem boa.
Para contrariar este populismo apenas resta a iconoclastia, parece. Seja bem vinda.