terça-feira, julho 10, 2018

A ética da casa dos segredos na faculdade de Direito de Lisboa

João Miguel Tavares n o Público tem dedicado a atenção à FDL a propósito do pouco singular caso Farinho que se resume ao facto de um professor de direito ajudar alguém a escrever um livro. A singularidade só aparece se tal ajuda foi de monta, ou seja, de tal modo que o autor não seja o que figura na capa mas o seu fantasma ( ghost-writer).
No caso Sócrates, atento o montante envolvido, a natureza peculiar do cliente, com laivos acentuados de aldrabão compulsivo e as circunstâncias que envolveram o relacionamento conhecido entre ambos ( através da divulgação de escutas telefónicas comprometedoras) tudo indica estarmos perante um caso singular de atentado à ética elementar que um professor de Direito deveria respeitar e a faculdade sancionar.
Nada disso aconteceu nem mesmo depois de se saber que o ghost-writer é relapso e envolveu a mulher por causa de eventuais trafulhices fiscais virtualmente indetectáveis. No pasa nada, para os sapientíssimos e veneradíssimos membros do Conselho Científico da DFL. Nada viram, nada escutaram, nada souberam. E como o nada em ética é água destilada, lavada,  baptizaram com o nome Farinho o novel professor, integrando-o no "quadro" do mesmo saco, com outras regalias e estatuto a condizer. Qualquer dia tem a borla e o capelo e há-de passear no pátio de Coimbra para avaliar a ética e saber de outros futuros doutores para o mesmo saco científico.

Recorde-se o primeiro, de 25.10.2016 e os comentários que então aduzi sobre o assunto do "saco de Farinho":


Como referi "o problema então seria o de a Faculdade de Direito se pronunciar acerca de um seu docente andar a receber "por fora" a fim de ajudar um político a escrever uma obra de literatura política. Para tal teria recebido cerca de 40 mil euros, o que torna a "colaboração para revisão do livro e notas de rodapé" a "revisão mais cara da História".

Por notícia veiculada no passado Sábado pelo mesmo cronista, aqui comentada, o professor Farinho já pertence "ao quadro" da FDL, por decisão soberana do seu Conselho de sábios cujos nomes foram devidamente apontados e são muitos...



Na edição de hoje, o jornalista volta à carga:


Se alguém ainda não soubesse fica a saber: a ética, na FDL ( e noutras) é um fenómeno associado à lei republicana. Fora disso não dá de comer a ninguém, como dizia uma socialite pindérica que apresentava uma casa dos segredos ou coisa que o valha.

Por outro lado, o Conselho Científico da FDL ( e de outras) é vasto de nomes experimentados nas leis, pelo que a vergonha, não podendo declinar-se no plural não encontrará par, nesse meio.

Sem comentários:

A obscenidade do jornalismo televisivo