sexta-feira, julho 20, 2018

O mundo antifascista de Maria José Morgado e a doidice que não passa

O Público de ontem publicou uma entrevista extensa com Maria José Morgado, a actual procuradora-geral distrital de Lisboa, durante muitos anos responsável pelo DIAP de Lisboa e antes magistrada do MºPº , responsável por julgamentos no tribunal da Boa-Hora e ainda ligada a episódios rocambolescos na PJ do tempo de Adelino Salvado, o juiz "de direita" que recebeu o pedido de demissão daquela através de um fax obnóxio mas denotando um estilo, revelador aliás, de uma natureza.

Nesta entrevista MJM fala de tudo um pouco e principalmente das saudades que sente do marido José Luís Saldanha Sanches com quem partilhou  a  vida e a ideologia.

É sobre esta e a notoriedade de MJM que vou comentar a seguir, porque me parece importante perceber a importância que ainda lhe dão e mostrar ao mesmo tempo que há uma obscenidade que lhe subjaz.



Qual é a ideologia-base de MJM? Uma, muito simples: o antifascismo, agora em mutação para a "honestidade".
"Os fascistas eram os maus, a ditadura, a opressão, a guerra colonial. Os outros eram os que queriam libertar o povo e fazer a revolução. Eu queria a revolução. Para mim não havia dúvidas, era um mundo a preto e branco. Seria mais difícil tomar posição se fosse agora. E corria os riscos que fossem necessários para ir para o lado da revolução. Era a minha luta, ia travá-la. Ainda bem que não fizemos a revolução, porque éramos completamente doidos e só faríamos disparates".

Simples de entender, portanto. Eram doidos, só faziam disparates. Mas estavam do lado dos que queriam a revolução contra os "fascistas", em nome de um ideal difuso mas concretizado logo a seguir.

Quem são os fascistas contra quem se rebelavam? Eram os que apoiavam o sistema de regime e governo de Marcello Caetano. Um fascista, portanto.  E todos os chavões do antifascismo ( colonialismo, exploração, desigualdade, ditadura, etc. ) acompanham ainda este discurso intemporal e matricial.
O léxico continua igual e nunca desapareceu e por isso emerge da entrevista, o que denota a ausência de mudança estrutural nessa forma de pensar.

Há alguma arrependimento de MJM, apesar daquela declaração sobre a doidice da época quando MJM já tinha 25 anos de idade e portanto, já tempo suficiente para ter o juízo todo? Não, não há porque o "o fascismo" de Marcello Caetano continua a ser fascismo, hoje em dia para MJM.

E sobre isto estamos conversados porque a doidice continua e não há meio de desaparecer. Uma pessoa que continua a chamar ao regime anterior ao 25 de Abril como "fascista" não merece mais comentários a não ser para lhe mostrar como era o regime que queriam, e por isso lutavam com denodo quixotesco pela ideologia, mesmo doida, em vez do tal fascismo que era o sistema em que a maioria do povo vivia, sem sobressaltos de maior ou queixas de importância grave.

Para isso nada melhor que mostrar aqui, preto no branco como era tal ideologia de "doidos" e como se apresentava publicamente e ainda apresenta, porque os doidos de então continuam vivos e ainda mais radicais, mas cobardes na sua coerência estupidificante. Estou a falar do surreal MRPP, partido de um advogado Garcia Pereira, também muito requisitado nas tv´s ,tal como MJM. Só não aparece o doido-mor,  Arnaldo Matos, sem remissão alguma porque esse continua a viver em 1974-75, mas com o apoio do Estado a um partido que deveria ser proibido segundo a sua própria lógica.

E começo por aqui. Porque razão estas pessoas que acreditaram piamente em teorias e ideias de doidos, continuam a perorar nos media? Porque se arrependeram e desse modo pretendem mostrar aos outros que não devem seguir essa doidice? Não.
Porque são pessoas inteligentes e cujo fulgor intelectual ofusca outros que nunca acreditaram nas doidices e apesar disso nunca são chamados a perorar? Também não evidentemente. Porque são uma espécie de animais em vias de extinção e por isso mesmo  dignos de protecção? Também não mas está mais próximo do que considero ser a verdadeira razão.

Esta gente continua nos media porque quem manda neles são pessoas que ou foram ideologicamente próximos, ou aprenderam com quem foi ou são simpatizantes de doidos, desde sempre.  Não vejo outra razão plausível para termos em prime time televisivo ou em primeiras páginas de jornal as ideias peregrinas de alguém que se afirma ter sido doido durante a juventude e idade adulta, quando poderiam ter sido outra coisa, na medida em que a informação disponível era abundante e clara.  Não quiseram saber de críticas, de factos ou de História sequer. Quiseram apenas seguir a "doidice" que os animava, suspeito que estruturalmente. Ainda por cima com ideias que não desapareceram de todo e se reafirmam quando surge oportunidade.

Em relação a essa doidice ideológica há muito mais a dizer.  E começa logo pela fase que inicia o destaque da entrevista: " parecia possível acabar com a pobreza e a desigualdade. Não é possível".

Pronto! Com 67 anos descobriu que afinal era tudo uma utopia. Pobreza de espírito? Ignorância? Idiossincrasia de doidos? Não sei, mas tudo se mistura numa frase destas.  E tem a sua importância e deveria afastar estas pessoas de cargos de responsabilidade. Este modo de pensar é estrutural e não meramente conjuntural. Perante circunstâncias propícias, tal como os psicopatas, voltariam ao "crime" e à "doidice".  Basta ver como definem o "inimigo" ou seja, o que combatiam antes e continuam a combater interiormente, no espírito que sempre tiveram, porque o espírito nunca muda. As ideias podem mudar mas o que as move nunca se altera, porque é o carácter e a personalidade.  Estas pessoas são perigosas porque sempre o foram e elas próprias devem saber bem disso.

Em 1974 Maria José Morgado e o marido José Luís Saldanha Sanches pertenciam ao MRPP, um movimento de origem estudantil, com pouco ou nada de base operária e camponnesa. Tanto um como outro eram filhos de pequeno-burgueses urbanos que do campo e das fábricas saberiam o que viam nos jornais, se tanto.  O pai de MJM era "um representante da opressão colonial" ( repare-se que isto é uma afirmação de agora, na entrevista) ou seja, um inimigo da classe que depois queriam integrar como detentora do poder popular.
E como se criou essa consciência de classe? " Nas roças de café, havia no fundo trabalho escravo, pessoas que vinham do sul de Angola e que eram exploradas. Eu percebia que havia uma população pobre que era oprimida e isso causava-me infelicidade".  Pronto, não adianta mais fazer o discurso da utopia porque a estrutura mental é essa e sempre foi essa. Não adianta nada. A utopia nasceu ali e enraizou e é essa a base do esquerdismo de sempre e de todas as latitudes.  A luta de classes é a matriz intelectual de MJM e de muitos outros e não há volta a dar a isso.
O MRPP e o esquerismo maoista, a "doidice", essa carece de melhor explicitação porque substituir o "fascismo" de Marcello Caetano por um regime do tipo maoista é mais que doidice. É estupidez e revela a inteligência e o carácter de quem lutou por isso com unhas e dentes de greves de fome. Estupidez, portanto, como a própria deveria reconhecer e assumir, com humildade, coisa que realmente não tem nem a poesia alguma vez lhe dará.

Vamos lá à doidice:

 A revista O Tempo e o Modo foi uma publicação animada por alguns que também lutavam contra o "fascismo", ainda em 1963, mas que  não foram muito mais longe do que a aspersão com água benta intelectual ao que consideravam o mal. Não gostavam de Salazar nem do salazarismo; os pais já não tinham gostado e queriam tirar o poder político a quem o tinha para serem eles a mandar. Em nome de uma ideologia indefinida e que em alguns casos resultou na doidice assumida. Foi isto essencialmente.

Em 1974 os doidos do MRPP tomaram conta desse asilo de intelectuais de café, na avenida de Roma, em Lisboa e outras paragens obscuras e fizeram isto que em Setembro desse ano era claro indício da doidice completa dos que aí escreviam ( Amadeu Lopes Sabino, Jorge de Almeida Fernandes, João Ferreira de Almeida, João Martins Pereira, Nuno Júdice e Luís Lobo, mais Luís Filipe Sabino, Armando de Abreu, Arnaldo Matos, Fernando Pernes, José António Meireles, Luís Miguel Cintra, João César Monteiro)

Em Setembro/Outubro de 1974 o delírio intelectual animava a revista tomada pelas hostes de doidos do MRPP.

Assim:


Quem é que em 1974 poderia desconhecer quem era realmente Estaline? Só um doido. Pois era o herói deles, claro está. E outros ainda, com esta idiossincrasia:






 Estes doidos, com estas ideias, em 1974 sabotaram a economia nacional, conduziram o país à primeira bancarrota e minaram ideologicamente a linguagem corrente, conseguindo efectivamente, até hoje, identificar o regime anterior, de Marcello Caetano, como o Fascismo. Maria José Morgado ainda hoje pensa assim.
Destruíram o tecido produtivo mais importante do país, escorraçaram aqueles que apelidavam de fascistas e exploradores do povo, nas pessoas dos milionários a quem nacionalizaram e confiscaram os bens.

Esta gente que arruinou o país durante décadas e que ainda hoje sofremos as consequências merece alguma consideração mediática de condescendência? Ainda por cima quando se declaram doidos? Quem é doido, afinal, nos dias de hoje é quem lhes dá voz activa e os escolhe para cargos de responsabilidade. No fundo, estruturalmente nunca se modificaram e foram eles que originaram a corrupção de que tanto fala agora MJM. A corrupção do tal "fascismo" não tem comparação com a que surgiu com o esquerdismo vigente, porque o caldo de cultura que a origina é a ausência de princípios morais que o tal "fascismo" tinha e este não tem. "A ética é a lei". Ou dito de outro modo e como muitos do autêntico povo diz: "precisávamos de dez Salazares!"

Estes doidos nem sequer queriam a companhia de outros doidos, como os do PCP que apelidavam de revisionistas, ou seja à sua direita e de quem eram inimigos figadais.



Não obstante publicaram no número seguinte um artigo delicioso da autoria de José Estaline que os caracterizava muito bem mas nem se deram conta do retrato:




Devido à hostilidade que o MRPP mantinha com o regime saído do 25 de Abril, em gestação e dominado pelo PCP e MFA conivente, Maria José Morgado e José Luís Saldanha Sanches foram presos, por motivos políticos ( ou seja, pelos motivos de índole idêntica  pelos quais apelidavam o anterior regime de fascista).

Em Novembro/Dezembro explicavam a luta da camarada Maria José Morgado, então "doida" e que se curou miraculosamente, talvez com a água benta das instituições que se lhe seguiram:


Não obstante os atestados de cura duvido muito que algumas destas razões culturais tenham sido efectivamente ultrapassadas por quem assim se curou miraculosamente:


Duvido por uma razão singela: as ideias que foram antigas e que aqui e acolá ainda brotam à superfície mediática, tal como os amores antigos não morrem facilmente. O objecto pode desaparecer mas fica a nostalgia e a memória de quanto foram boas...

E isso é fatal para a credibilidade seja de quem for. Há um remédio para isto: calem-se por amor de um Deus em quem não acreditam. Tenham ao menos pudor e respeito por quem não partilhou a doidice e lhe sentiu os efeitos perniciosos e continua a sentir.

Sintam-se responsáveis por isso e calem-se, de uma vez para sempre. Não incomodem quem lhes disse que estavam errados então e continuam a estar. Ou seja, não queiram dar lições de democracia ou coisa que o valha a ninguém. Não me chamem fascista ou reaccionário e lavem a boca com sabão sempre que falarem de Salazar do modo como o fazem.

Para entender melhor de onde isto veio e onde foi parar, melhor será ler este recorte tirado daqui ( mas que também terei nos meus arquivos):


O nome Fernando Rosas diz alguma coisa? Deveria dizer porque é outro dos doidos.


Sem comentários:

A obscenidade do jornalismo televisivo