Repare-se nesta pequena nota do director do Diário Económico, agora muito presente na SIC-N em programas de notícias de "ratos e ratas sábios".
Diz assim em dado ponto: "quando no final de 2012, prestou declarações no DCIAP, a "convite", o juiz Carlos Alexandre passou-lhe uma declaração segundo a qual não era suspeito de qualquer crime no âmbito do caso Monte Branco".
Esta frase contém um erro grave e inadmissível num jornalista que dirige um jornal deste género. Tão mais grave quanto uma qualquer consulta ao Google, resolveria de imediato a asneira e nem o seu próprio jornal a cometeu : quem passou a declaração de inocência a Ricardo Salgado em finais de 2012 foi a PGR/DCIAP e não o TIC de Carlos Alexandre.
E porque razão é importante esta distinção entre a entidade que realmente passou a declaração de "conforto" a Ricardo Salgado e que foi a PGR ( porque o DCIAP dela depende ) da ainda anterior directora no cargo?
Porque além do mais, o seu a seu dono e sobre isto houve então divergências entre estes donos e compete a quem dirige o inquérito emitir este tipo de declarações.
Procurei tal "comunicado" ou "informação" no sítio da PGR e não encontrei. Sobre o assunto, apenas logrei a leitura de uma nota para a comunicação social, nº 11/2012, de 7 de Dezembro.
Ora o referido comunicado existiu, como deram conta os jornais da época ( precisamente o Económico onde dirige o referido Costa) e no ponto quatro dizia-se o seguinte:
"Face aos factos até agora apurados nos presentes autos, não existem fundamentos para que o agora requerente, Dr. Ricardo Salgado, seja considerado suspeito».
Esta declaração é singular e complexa porque representa uma espécie de declaração de amnistia e que permitiu a leitura que os media então fizeram: Salgado está safo do Monte Branco. Pagou o imposto ao abrigo do RERT e este intrumento legal permitir-lhe-á dizer que está inocente como um anjinho papudo.
Esta declaração tão confortável para Ricardo Salgado é estranha porque além do mais, numa interpretação possível da lei, o efeito esgotava-se apenas nesse pequeno âmbito do RERT e nada mais. Não impediria investigações ulteriores sobre os mesmos factos, como realmente não impediu, ao contrário do que se poderia supôr e até por aqui se supôs.
Ora como se vê, o mesmo suspeito que deixara de o ser, nunca deixou realmente de ter essa espada de dâmocles sobre a sua conduta e encontra-se neste momento sujeito a medidas de coacção relativamente ao mesmo assunto: os dinheiros que estavam lá fora, na Suíça, sem justificação legal. Nem o RERT lhe valeu. E porquê, já agora e porque os jornais de hoje não esclarecem de todo, a não ser o que a jornalista Felícia Cabrita escreve no Sol de hoje?
Ricardo Salgado está sujeito a inquérito porque não terá declarado tudo, tudinho o que devia no âmbito do RERT. Não pagou todos os impostos e agora tem um problema sério, como o de Isaltino Morais, porque já não se pode valer doutro salvífico RERT, como se foi valendo ao longo dos anos. Em linguagem que o mesmo compreende, "acabou-se a mama".
Escreve Felícia Cabrita que " O DCIAP detectou entretanto, nesta investigação, que cerca de quatro milhões de euros não foram declarados fiscalmente enm regularizados no RERT. Foi uma verba que Salgado introduziu através de uma offshore, a Quintus, para comprara acções da EDP durante a operação de privatização desta empresa, em 2011."
Talvez esteja aqui a explicação para as actuais desventuras penais do banqueiro Salgado. Porém, quanto à privatização da EDP, já foi escrito aqui qualquer coisa a propósito e talvez valha a pena ler, para ter um quadro mais estereoscópico e um retrato mais nítido desta marosca que evidentemente tem mais gente envolvida. De alto coturno, parece-me e que já andam a pôr as barbas de molho, mudando de casa...
Aguardemos para ver se a Justiça algum dia chega a este pobre país e quem merece castigo o tenha mesmo a sério, porque é essa a noção de Justiça: dar a cada um o que lhe é devido. Para tal só é preciso que o dr. Salgado colabore mesmo com a Justiça e diga o que sabe sobre o assunto, explicando conversas avulsas de pindéricos que não tinham onde cair mortos e andam por aí a arrotar milhões escondidos.
Nota à parte: foi muito estranho ter visto o filho de Proença de Carvalho, dito especialista em direito comercial , a defender num interrogatóriao judicial em que se poderiam ponderar medidas de coacção mais gravosoas que as aplicadas, a assistir penalmente um arguido destes. Muito, muito estranho mesmo.
Porque será que me lembrei assim de repente, das últimas agruras de Sarkozy em França?
7 comentários:
"Post" muito interessante (é a praia da casa)
Já quanto à justiça!?...
Que justiça pode existir, quando o produto do eventual crime, serve para comprar a liberdade? É, que assim sendo, o "crime" afinal compensa!
José
Sendo especialista do assunto, diga-nos lá porque razão o Salgado tem de declarar em Portugal o rendimento obtido em Angola e depositado na Suíça?
Não faria mais sentido declarar esses rendimentos em Angola? Uma vez que não os auferiu enquanto trabalhador de uma empresa nacional.
Nota: a minha duvida não é sobre a legalidade da coisa, é mesmo sobre a lei que regula os rendimentos.
A infracção, se existiu, é tributária e penal.
O Isaltino tinha rendimentos na Suíça, vindos de fontes inquinadas. Não se provou a natureza dessas fontes e por isso foi absolvido, mas provou-se que defraudou o fisco e branqueou capitais, segundo parece.
Este caso é semelhante.
Mas o problema é o rendimento ou as fontes inquinadas?
É que se for as fontes e elas são angolanas isto não devia ser investigado por lá?
Se são os rendimentos, qual a diferença para o Ronaldo do futebol, que joga em Espanha e faz publicidade cá?
O "Dr. Salgado" vai tanto colaborar com a Justiça, tal como Mário Soares vai doar a sua fortuna aos pobrezinhos de S. Vicente de Paulo...
A propósito, o cão gordo anda muito calado...
Não há ninguêm que lhe ponha um microfone à frente para ele debitar sobre o Salgado?
Se calhar, neste caso,tem que 'limpar as armas'...
"A propósito, o cão gordo anda muito calado..."
Anda calado por vários motivos, mas os media têm respeitinho e não falam o que sabem sobre as suas saídas ao estrangeiro. Recentes.
É sempre a mesma coisa, com esta canalha: toda a gente sabe o que se passa e ninguém diz nada.
Sabe o Marcelino; sabe o Octávio e sabe naturalmente a dona Reis e também a rata sábia.
Ninguém diz nada. O CM devia titular: "o estarola M.S."
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