segunda-feira, dezembro 05, 2016

A análise comum sobre o comunismo

Este artigo de alguém que conhece o comunismo por dentro e por fora é sintomático do tipo de análise que deveria ser comum nos media mas não é por razões que deveriam ser indagadas porque são estranhas e eventualmente encontrarão explicação esotérica e psicológica.

Milhazes, o correspondente Observador:


Porque será que o Partido Comunista Português é praticamente o único partido comunista que ainda sobrevive na Europa? Por duas razões fundamentais: pelo subdesenvolvimento de Portugal em relação aos países ricos do continente europeu, que continua a manter desigualdades sociais grandes, e pelo facto de esta força política defender aquilo que noutros países europeus é defendido pela extrema-direita.
Ninguém esperava que o XX Congresso do Partido Comunista se transformasse em algo minimamente semelhante ao XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética de 1956, reunião em que os líderes soviéticos reconheceram os crimes (não foram erros, nem desvios) do regime estalinista. Como disse o deputado comunista António Filipe numa entrevista ao Observador: “Esses balanços estão feitos”.
Esses balanços estão feitos também em relação aos regimes comunistas de Cuba, Coreia do Norte, Vietname, China, ou ao regime “democrático-familiar” de Angola. Segundo os comunistas portugueses, qualquer um desses regimes é melhor do que as democracias europeias. Mas, em todo o caso, propõem para os mais cépticos uma via própria para o socialismo.
António Filipe dá um exemplo curioso para provar que em Cuba não houve, nem há presos políticos: “Vimos agora na recente visita do presidente Barack Obama, em que um jornalista norte-americano perguntou ao presidente Raul Castro porque é que não libertava os presos políticos e a resposta dele foi: ‘Diga-me lá quais são que eu liberto-os de imediato’”.
Ora, o deputado comunista deve ter-se esquecido que essa resposta não foi original, mas utilizada por dirigentes de outros regimes comunistas e totalitários. Os líderes soviéticos diziam exactamente o mesmo em relação a conhecidos dissidentes. Por exemplo, é o caso do grande poeta Iossif Brodski, Prémio Nobel da Literatura. Ele foi condenado por não ter um emprego, e não pelas ideias que defendia. Ou seja, assim não se poderia chamar preso político a uma pessoa que cometeu um crime de delito comum (quem não tivesse um emprego na URSS era considerado um criminoso — Brodski afirmou no tribunal que era poeta, mas o juiz não aceitou essa explicação e condenou-o). Esse método é actualmente utilizado na Rússia, onde Vladimir Putin deu precisamente a mesma resposta que deu Raúl Castro aos jornalistas quando lhe fizeram essa pergunta.
Nada de original tem a política do PCP em relação ao apoio de um governo do PS, considerado pelos comunistas “partido burguês” e de “direita”. Como é sabido dos clássicos do marxismo-leninismo, os fins justificam os meios e são permitidas alianças até com o diabo, desde que favoreçam a causa. Daí a política do “participa, mas não entra”.
Porém, os comunistas serão os primeiros a roer a corda quando as coisas começarem a dar para o torto. Por exemplo, a domada Intersindical passará à ofensiva.
Houve tempos em que o PCP se gabava de ter mais de 200 mil militantes, mas hoje são pouco mais de 50 mil. No entanto, ainda é cedo para tirar conclusões sobre a morte irreversível desta força política. Tendo em conta a situação política, económica e social que se vive em Portugal e na União Europeia, é previsível que o PCP tenha ainda muitos anos de vida, a não ser que o seu mais perigoso adversário, o Bloco de Esquerda, lhe continue a roubar o nicho por ele ocupado no sistema político português.
Além do atraso crónico em relação ao núcleo central dos países da União Europeia, fruto da incompetência dos partidos centristas, das ligações obscuras entre os poderes financeiro e político, da corrupção, etc., que fazem com que muitos cidadãos procurem soluções noutros quadrantes políticos mais radicais, em Portugal, devido à ausência de forças da extrema-direita, o PCP e o BE chamam a si também o papel que esse sector político desempenha noutros países da UE, estão juntos no combate contra o projecto europeu.
Exceptuando a xenofobia, exigências como a saída do euro ou até da União Europeia são comuns a ambos esses sectores políticos extremos. Em alguns sectores, o discurso de Jerónimo de Sousa ou de Catarina Martins não ficam atrás dos de Marine Le Pen no que diz respeito à “defesa dos interesses nacionais”.
Também não é por acaso que esses sectores apoiam a política externa de Vladimir Putin, vendo nela uma ajuda na destruição da União Europeia e no “combate ao imperialismo”.
A burocracia de Bruxelas e os governos dos países membros da União Europeia mostram cada vez menos capacidade de dar um novo alento ao processo de coesão, o projecto europeu está cada vez mais à deriva, criando um clima fértil para que forças extremistas conservem ou aumentem mesmo o seu poder de influência, para que surjam políticos populistas capazes de fazerem recuar a Europa a épocas sombrias.

E já agora esta também tem interesse, mas bate na mesma tecla do conformismo assolapado nas redacções:


1. Posso começar com uma citação? Ao falar sobre a campanha eleitoral para a Assembleia da República, o secretário-geral do PCP chamou a atenção para as “duas direcções fundamentais da sua actuação”. Eram elas: “Por um lado, evitar uma maioria da direita […] CDS e PSD e, por outro lado, criar condições para uma maioria de esquerda”. “Temos insistido na necessidade do acordo dos socialistas”, esclareceu, porque senão “o PS vai aliar-se à direita, vai aliar-se ao PSD e talvez ao CDS”. Depois de conhecidos os resultados eleitorais, e perante o sucesso do seu duplo objetivo, defendeu, com convicção e esperança, que “haveria possibilidades para a formação de um governo de esquerda assente nessa [nova] maioria”.
Todas estas citações são, obviamente, de Álvaro Cunhal, que falava sobre as primeiras eleições legislativas da democracia, em 1976. Está tudo nas Obras Escolhidas de Álvaro Cunhal — Tomo VI, 1976 (Edições Avante!). 

Outra análise sobre o PCP, no Público de hoje e que arrisca a exposição das contradições sem tirar conclusões lógicas...

 

8 comentários:

Floribundus disse...

o pcp é uma aberração
assim que puderem estaremos todos em
hospitais psiquiátrico´
gulags

a geringonça foi preparada com muita antecedência pelo monhé

na França o segolene saiu por baixo da porta

na Itália teremos o ragioniere Grillo
porca miseria

na Áustria a extrema-direita teve 46%

joserui disse...

O Milhazes tem inegáveis conhecimentos históricos e lá da máquina, mas não acerta uma. Se fossem as desigualdades a explicar o comunismo, o Mundo de hoje devia-se preparar para ser varrido por eles, a começar nos EUA. As desigualdades são um combate de qualquer pessoa de bem, a começar nos católicos. O que se viu e vê nos regimes comunistas foi o inverso: uma classe opressora riquíssima e o resto pobre por igual. Ninguém quer ser igual aos pobres, que é o que o comunismo sempre ofereceu com ideologias e soluções contra-natura.
Para mim a explicação é mais prosaica: Portugal esteve longe desses horrores comunistas e eles ainda conseguem enganar muito gentinha. Os jovens são naturalmente parvos, mas começam grandes revolucionários comunistas que nunca ouviram falar do Gulag e acabam burgueses. -- JRF

joserui disse...

E olha se o Milhazes analisava o comunismo e a extrema esquerda, sem a devida extrema-direita aqui mais uma vez metida de calçadeira. Defendem o mesmo? Deve ser algum vazio que se instalou na sociedade portuguesa e a sua natureza huh… naturalmente aldrabona. Já falei dos Verdes, em que planeta foram alguma vez ecologistas os comunas destruidores do ambiente em qualquer lugar que se instalaram? E onde e quando se tornaram nacionalistas? Eu sempre ouvi falar no internacionalismo, ou seja, exactamente o inverso. Mas para o Milhazes defenderem o "interesse nacional" é algo credível e comparável à direita nacionalista. São enganadores e trafulhas. O único nacionalismo que existia era o soviético, os países que caíram sob esse regime foram vendidos, mais os seus interesses nacionais, por tuta e meia. Era isso que o PCP tinha equacionado para Portugal, tal como equacionou e concretizou nos nossos territórios ultramarinos. E apesar dos crimes, o PCP lá continua a cantar os amanhãs, com a cobertura total dos media e da sociedade. Quando deviam ser ostracizados, no mínimo desde o 25 de Novembro (e não é deste ano). -- JRF

joserui disse...

Conclusão, esta análise do Milhazes é uma valente merda. Esta conversa dos presos políticos e respostas habilidosas é outra treta. É o mesmo jogo mediático de Trump nos EUA. Não é com a verdade que se combate o comunismo. Esse jogo já eles venceram há muito e continuam exímios jogadores. Os comunistas são imunes à verdade. -- JRF

muja disse...

Concordo com o JRF.

Já aqui vociferei contra essa mania imbecil de criticar o PCP por comparação e equivalência à extrema-direita.

Essa partida já na venceram eles há muito... Além disso, extrema-direita, como toda a gente sabe, vai do Passos Coelho ao KKK, passando pelo Hitler, Mussolini e até o imperador Hirohito do Japão...

E também se não entende o que tem de extremista advogar a saída do Euro ou da União Europeia... E se é verdade que isso nos outros países é defendido por outros, isso explica-se simplesmente pelo anacronismo (outros diriam coerência) do PCP. O PC francês nos anos oitenta defendia exactamente o mesmo. Portanto, não é por aí...

muja disse...

O Milhazes tem alguma coisa contra o Vladimiro.

Não sei lá o que é, mas tem. Talvez tenha comido MacDonalds a mais...

Enfim, está bem a análise para o analisado: ambos estão com trinta anos de atraso.

É isso que explica que o PCP apoie, pelo menos no palavreado, o regime russo. Ainda vêem a Rússia como a URSS, embora, na prática, esteja nos antípodas. É como as dores fantasma que sentem algumas pessoas que perdem ou a quem lhes são amputados membros...

Também é curioso que alguém tão entendido nas maquinações dos estados soviéticos e suas enxertias se revele tão ofuscado pelo "projecto europeu".

O "projecto europeu" anda à deriva porque deixou de ser um projecto económico que, talvez, pudesse ter funcionado, e foi sub-repticiamente transformado em projecto político em nome da "coesão". Como todos os antecedentes, vai passar à história. Como e com que estardalhaço, é o que estamos para ver.

joserui disse...

Hehe… também ia dizer essa da extrema -direita, mas não tive tempo. É tudo, desde que lhes sirva a dialética. Mas ainda ia acrescentar que na prática, não sendo tudo, está tão fragmentada e tão tomada de assalto por psicopatas que é inútil. Há alguns projectos de direita interessantes, mas que eu saiba são poucos e conheço mal. -- JRF

muja disse...

Mas é curiosa esta coisa do Euro e da UE.

É extremista querer sair do Euro e da UE a não ser... in extremis, quando desabar tudo!

Só nos saem duques e cenas tristes...

O Público activista e relapso