terça-feira, agosto 15, 2017

António Araújo, o intelectual perdido na História contemporânea

No DN de hoje aparece uma entrevista "de Verão"  a António Araújo, apresentado com credenciais: historiador, crítico literário, responsável pela escolha dos autores da colecção retratos da Fundação Francisco Manuel dos Santos". Araújo também é conselheiro do presidente da República. É "licenciado e mestre em Direito e doutor em História". Publicou já vários livros sobre direito e história contemporânea e um deles mereceu recensão crítica aqui: Da direita à Esquerda-Cultura e sociedade em Portugal, dos anos 80 à actualidade.

Araújo tem sido alvo de comentários pelo que diz ou escreve, neste blog. Devo confessar que me irrita, o que este indivíduo diz ou escreve. Não devia, mas é assim. A razão para tal é a importância que lhe vão dando como oráculo dos tempos modernos, do mesmo modo que há 40 anos davam a um Eduardo Lourenço e a estirpe intelectual parece-me ser a mesma.
Enquanto Lourenço é da geração anterior, a do antifassismo militante e relapso, mesmo depois dos anos 50 e 60 e dos fenómenos que ocorreram no Leste europeu que vieram dar razão a Salazar e Caetano depois dele.
Araújo é da geração seguinte, nascida nos anos sessenta e que não viveu esse período final do século XX como devia ser vivido para se poder contar com toda propriedade. Araújo escreve de cor e por ler muito e não me parece que apreenda uma certa essência da alma de muitos portugueses que viveram nesse tempo e davam o corpo e o manifesto por um regime que permaneceu durante décadas em Portugal, sintonizado com o que era o povo real, analfabeto e inculto e ao mesmo tempo a elite que então se formara para transformar o país. 

As conversas com Araújo descambam sempre para o lado da análise sociológica e política, com a História contemporânea de permeio. Não sei qual o conhecimento de História de Araújo para poder perorar sobre os assuntos avulsos que retoma nas entrevistas, particularmente sobre o período salazarista e pós-marcelista. Sendo doutorado em História Contemporânea que significa tal coisa? Que leu muitos livros sobre este período que nos afectou a actual existência? E leu o quê? E percebeu o quê? E aprendeu o quê? Quem o examinou no doutoramento certamente lhe deu o summa cum laude, mas...e daí? Quantos doutorados em História Contemporânea temos em Portugal que estudaram o que Araújo estudou, leram o que Araújo leu e foram examinados pelos professores que doutoraram Araújo? Dezenas? Centenas? E um tal Rosas e uma tal Flunser não terão o mesmo género de qualificações académicas e afinal escrevem asneiras como quem debita um rosário de amarguras? E que dizem as teses daqueles todos que parece que nem se publicam como diz agora Araújo na entrevista ao DN de hoje?

Araújo, publicamente vale pelo que escreve em artigos ou livros que se lêem. Confesso que leio e compro para descobrir algo que nunca li ou uma ideia original que me dê alento para ver se alguém assim tão intelectualizado academicamente mostra algo que seja revelador do que nós, enquanto povo deste rectângulo, somos e principalmente fomos, o que me parece ser a tarefa fundamental de um historiador.
Em tudo o que Araújo escreveu a propósito e que tenha lido, até hoje, não descortino nada de novo, nada de revelador e pelo contrário leio o que me parecem aleivosias e opiniões idiossincráticas com que não simpatizo por me parecerem enviezadas pela insuficiência analítica e distorção da inteligência.

Esta entrevista que fica e que mais tarde comentarei, continua nessa linha, com algumas observações que me merecem reparo que farei mais tarde.

Araújo parece-me uma síntese de Eduardo Lourenço e Eduarda Dionísio dos tempos da modernidade, do pós-esquerdismo militante. Um desperdício.



14 comentários:

zazie disse...

Mr. Chance "I lik to watch".

João disse...

Acho piada aos "intelectuais de direita que saíram do armário". Depois não aponta um único. Porque o Pedro Mexia ou o JP Coutinho são da direitinha, o que é bem diferente. E o Vasco Pulido Valente e o Rui Ramos não são propriamente novos valores da área.
O provincianismo sim, existe. Mas nas elitezinhas de caca, que no século XIX iam a Paris, agora preferem Nova Iorque e Londres mas continuam tão deslumbradas e patetas como na altura. É como a dra. Ferreira Alves, que há uns anos dizia que tinha assistido à estreia de uma peça numa dessas cidades tal como seria normal para quem se prezasse (as palavras não eram estas mas a ideia sim).
Vão lá fora, vêem umas coisas, depois o país parece-lhes muito pequeno para tanto talento e genialidade. É também por isso que não podem com o Estado Novo, Salazar era "tão provinciano", que horror. Só foi a Espanha ter com o Franco (tratam sempre toda a gente assim, são muito dados - é o Proust, o Flaubert, o... -depois não sabem que Salazar foi à Bélgica e a França antes deles. Aliás, eles também não iam à Bélgica até muito recentemente, também é um país provinciano).

muja disse...

Em relação aos "voyerismos", aproveito para dizer que acabei de ler ontem ou anteontem o livro "Os Meus 35 Anos com Salazar " de Maria da Conceição de Melo Rita - Micas - e Joaquim Vieira, que muito recomendo a quem interessar.

Edição de qualidade e bem escrito (em português de gente).

Falou-se aqui há pouco sobre a questão do nome de Salazar na ex-homónima ponte; pois revela a senhora que foi ele quem ordenou que se pusesse o nome em letras de ferro, ao invés de gravadas em relevo no cimento como era comum, para que fosse mais fácil tirá-las depois...

Foi mesmo a última obra feita dentro do prazo e dentro do orçamento desde o 25 de Abril... Ahahaha!



muja disse...

E o livro também traz muitas e interessantes fotografias da colecção privada da autora.

joserui disse...

Li quando saiu, gostei bastante… voltei a rir-me ao relembrar essa das letras. Para provinciano revela um excelente sentido de humor, estilo inglês :) . Para não falar da habitual inteligência e leitura do país… se calhar se tivesse o azar de estar vivo diria "está bem assim e não poderia ser de outra maneira".

Unknown disse...

Do A. Araújo apreciava, sobretudo, a sua veia de crítico literário, irónico, mordaz e acutilante, especialmente de literatura que nunca pretendi ler e, mais das vezes, sequer teria tido conhecimento que existia não fossem as críticas de A. Araújo!
Quando, realmente, deu largas à sua veia de historiador, desisti do personagem! Como ensaísta e critico cultural é manifestamente pobre! Li-lhe o da direita à esquerda e perdi a paciência ao 100º cliché requentado!!
De facto, há gente que não sabe até onde deve ir e não ir mais além!!

lusitânea disse...

Ainda vou ver a bissectriz devidamente assessorada pelo doutorado Araújo a mandar apagar do mapa as estátuas de racistas como andam a fazer nos states e no uk.Com a tal mão de obra africana que sendo muita mete medo...

lusitânea disse...

O Afonso Costa também foi valentão durante uns anos.Mas acabou por fugir e nunca mais cá voltou.Tal o cagaço...

Ricciardi disse...

Ele há duas figuras em Portugal com vaidade suficiente para batizar uma obra com o seu próprio nome. Uma já sabemos, e até no pormenor de alto ou baixo relevo a gravar pensou, garante o mujinha. A outra figura é José Sócrates, esse vaidoso. Também eles era menino para usar o seu nome numa qualquer obra pública. É o estilo. Quem não se lembra do figurao a colocar a careta de lado a ver qual o melhor ângulo.
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Ter o topete de batizar uma obra com o próprio nome não é para todos, embora todos provavelmente tenham sentido pulsão em faze-lo não fora algum sentido de decência.
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O que seria, portanto, se por exemplo o Costa batizasse uma qualquer obra importante com o seu próprio nome?
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Diriam justamente que o homem não bate bem da bola. Que atingiu o clímax da pouca vergonha. Por essa razão, a maior parte dos governantes não usam o próprio nome para batizar obras públicas. Vá, usam o nome de pessoal ideologicamente mais próximos e não passa disso porque tem alguma contenção para sobrelevar a autoestima.
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Rb

lusitânea disse...

O Salazar além do nome na ponte deixou-nos escrito em pedra:
Tudo pela Nação, nada contra a Nação
Como desde o 25 a nação tem vindo a ser triturada às fatias fininhas a caminho do socialismo científico e da raça mista...

Ricciardi disse...

O socialismo foi metido, em boa hora, na gaveta. Don Quixote, os dons quixotes, ainda vêem socialismo onde ele não existe.
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Eu cá prefiro raça mista a raças puras (seja lá o que isso for). Quanto mais rafeiros os cães mais eu gosto deles. Não têm 'pancas', são bons companheiros.
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Porém, há uma coisa que não entendo. Se Portugal foi um país colonial, multiracial, porque é que os adeptos do salazarismo se incomodam tanto com as raças?

Portugal é um país que precisa de imigrantes como de pão para a boca. O coelho tem razão, porém, pelas razões erradas. Portugal Não precisa de qualquer um de facto.

Precisa que se incentive a imigração de pessoal com potencial. Cérebros. Financiar estudantes estrangeiros de excelência era muito bom. Venham eles donde vierem. All free.

Incentivar ainda mais o acolhimento de pessoal sénior estrangeiro do norte da europa para viver.

Dar nacionalidade a todos os descendentes de emigrantes lusos.

Fazer um acordo shenguen com os palops.

Raça mista?

Não, raças misturadas.

Rb

lusitânea disse...

Um adepto do crime sem castigo.Deve ser amigo dos chineses que também se dizem não vingativos...
Ser roubado em África e agora salvar África!E ficarmos ricos com bons cérebros à Mamadou Ba...

lusitânea disse...

Entretanto 5 cinco 5 anos de prisão prometem os internacionalistas aos operários e camponeses que não aceitem com um sorriso o seu capataz escurinho depois de terem entregue tudo o que tinha preto e não era nosso com expulsão em massa dos brancos e sem bens...

ps
não se fala dos mortos porque eles nunca existiram...

Maria disse...

Novamente um excelente comentário, João. Parabéns. Tudo quanto se escreva a enaltecer as qualidades de Salazar como o extraordinário Governante e Grande Português que foi, assim como a denunciar os defeitos que são imensos e absolutamente nenhuma qualidade dos corruptos e gatunos (a maioria deles pedófilos e todos maçons), que nas horas vagas fazem de conta que nos governam, nunca serão demasiadas. E quantas mais vierem bem-vindas sejam.

O Público activista e relapso