Como já têm alunos formados nessa escola, o saber recolhido anda a espalhar-se como malina malcheirosa empestando todo o ambiente mediático.

Desde logo há uma diferença notória entre ambas as revistas. A da direita publica imagens e refere a sua proveniência ( Getty images ou AGE/Fotobanco.pt, no caso mostrado); a da esquerda não se dá ao cuidado, a não ser nas imagens de proveniência nacional e actuais. O resto é tudo pirata, incluindo a imagem da capa. E nem se diga que é apenas uma ou outra. No artigo sobre Lutero e a Reforma, da autoria do "coordenador editorial", Pedro Olavo Simões , são dez imagens tiradas não se sabe de onde. E seria interessante saber, para não dizer mais.
Apesar disso pode ler-se algo especializado, mesmo enviesado, nos tempos que correm, em Portugal. É um fenómeno recente porque antes existia quase nada para se poder ler do mesmo modo. Sobre História contemporânea dos últimos 50 anos, nem sequer livros havia e hoje as edições amontoam-se nos escaparates em títulos sucessivos sobre as mesmas temáticas, de origem caseira ou traduzidos.
Porém, a História abrange outros períodos, mesmo a nossa. Portugal não começou no tempo de Salazar e do seu terrível fassismo e para esconjurar males passados é preciso ir mais longe no tempo e conhecer o que se passou.
Para saber o que era um certo Portugal no século XIX, a origem imediata da contemporaneidade que nos relatam os rosas e flunsers será preciso ler Oliveira Martins. Vasco Pulido Valente ensinou há bastante tempo, quando recomendou o Portugal Contemporâneo, que tal autor era o guru dos actuais historiadores, sobre essa época. Uma fonte primária de conhecimento. Oliveira Martins também escreveu sobre os filhos de D. João I. Esta crónica é da Grande Reportagem de Março de 1985.
Como hoje se fala muito na Inquisição, a maioria das vezes com uma propriedade duvidosa, conviria ler o que sobre a mesma escreveu Alexandre Herculano, "o maior historiador português", segundo se escrevia no livro escolar do início dos anos setenta, Alma Pátria, Pátria Alma: " é o nosso maior historiador. Deixou-nos Poesias, Lendas e Narrativas, Eurico o Presbítero, Monge de Cister, O Bobo, História de Portugal ( até D. Afonso III), História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal e 10 volumes de Opúsculos."
Estávamos bem servidos nessa época em estudos sobre História? Nem por isso. Faltou sempre o estudo de divulgação que havia noutros países, europeus e não só.
No início dos anos setenta o conhecimento e leitura sobre acontecimentos históricos contemporâneos advinha do estrangeiro traduzido por cá. Jornais ou revistas especializadas não havia mas apareciam os originais estrangeiros e as traduções principalmente em compilações como estas da d. quixote, de 1971/1972:
Os volumes destes "cadernos" eram compactos , relativamente acessíveis e traziam o ar do tempo que se respirava lá fora, geralmente soprado do lado esquerdo. Assim se foram formando os "ventos" que viriam a soprar depois por cá e ainda não desapareceram.
Tirando isto também havia artigos avulsos e "livros condensados", alguns sobre História, nas Seleções do Reader´s Digest de proveniência brasileira. Todos os meses era um maná para quem queria saber algo mais sobre tudo. A divulgação, segundo os americanos foi, durante alguns anos a minha fonte primária de conhecimento de algumas realidades histórias. Foi lá que num certo mês li a história da captura de Che Guevara...assim como a história de dois guerreiros japoneses que se esconderam nas selvas do Bornéu, durante anos a fio, depois do fim da II Guerra por julgarem que ainda não tinha acabado.
Nos primeiros anos da década de setenta- 1971 e 1972- a instrução periódica da História obtinha-se através de revistas de cultura geral, como estas brasileiras:
Esta trazia um artigo desenvolvido e ilustrado sobre Israel e os 4 mil anos de história. A família Bloch teria ascendência judaica, mas então não sabia. Foi a primeira vez que vi o muro das Lamentações em ilustração.
Esta ainda era mais interessante e tenho vários números. O de Dezembro de 1971 trazia uma reportagem desenvolvida sobre os "quadrinhos". Foi a primeira vez que vi ilustrações a cores de Corto Maltese ( ainda nem era conhecido em Portugal, tal personagem) e Pilllipe Druillet, além de Burne Hogarth. Foi uma descoberta.
Nas dez páginas finais tinha uma entrevista com Franz Stangl, o comandante do campo de concentração de Treblinka, traduzida do Daily Telegraph. Parece que isto será uma "fonte primária"...e o que diz na entrevista não pode considerar-se fantasioso...
Em 7 de Outubro de 1973 um anúncio no jornal A Capital chamou a atenção para uma novidade:
Quando apareceu à venda tornou-se imperdível e era a Bertrand quem a vendia, por 30$00 o que era caro, para a época.
A revista Vida Mundial custava então 5$00 e continuou a custar até meados de 1974, altura em que passou para 10$00. Em 1976 já custava 15$00, fruto do progresso económico da democracia que nos trouxe então a primeira bancarrota. Se tivesse continuado o fassismo provavelmente continuaria a custar os mesmos 5$00 ou quando muito uma pequena percentagem mais, porque assim foi relativamente às revistas estrangeiras. Por cá, a Economia não gostou muito da democracia abrileira e assentou-lhe logo duas bancarrotas.
Também esta revista ajudava a conhecer a História como prova esta entrevista a um historiador que então então estava em voga e agora não está e colocava Deus na História e hoje não se coloca: Arnold Toynbee.
Até meados da década de setenta a História em publicações periódicas de vulgarização não passou além disto.
No final de 1978 apareceu a revista História, publicada pelas edições do O Jornal, a Projornal, dirigidas por José Carlos Vasconcelos, um eanista e pintassilguista e ainda salgadozenhista nos anos vindouros. Portanto, um esquerdista.
O nº2 trazia artigos de A.H. Oliveira Marques sobre Afonso Costa, por exemplo. A maçonaria entreajuda-se.
Afonso Costa, aliás, já fora objecto de um número especial da Vida Mundial em 5.3.1971 por ocasião do centenário do nascimento.
O artigo da História de 1978 não era substancialmente diferente ou não fosse Oliveira Marques um mação de primeira água:
De 1978 até agora, quase 40 anos, a História em Portugal contou-se periodicamente através dessa revistinha de esquerda maçónica.
Como é que podemos ter alunos que tenham aprendido a História de modo diverso se os professores que ensinam nas universidades eram os que escreviam na revista?
Em Abril/Maio de 1990, por ocasião do centenário do nascimento de Salazar quem escreveu o artigozinho? César de Oliveira. Um dos MES...
Portanto, sobre História em Posrtugal estamos entendidos: é um assunto de esquerda desde há décadas a esta parte. Um reduto ideológico que explica em parte como chegamos até aqui, às duas revistas mostradas acima.
Quem quiser saber de outro modo tem que ler o que se escreve no estrangeiro e sempre foi possível ler por cá tais revistas, mesmo no tempo da figura caricaturada acima.
Até a Espanha tem duas ou três revistas de qualidade, desde há décadas. A França nem se fala. Outra diferença entre essas revistas e as nacionais reside num pormenor que aqui se nota: tanto as espanholas como as francesas quando abordam um assunto, explicam as fontes onde foram ler e mostram onde se pode ler mais sobre os assuntos.
Por cá nem fontes primárias, secundárias ou terciárias se indicam quanto mais livros ou artigos para aprender mais. Nem proveniência de fotos. Nem sequer explicações sobre a escolha de certos temas. Graficamente as revistas de cá ainda deixam muito a desejar e por isso.
Entre nós o tema História ainda se aborda assim, como numa entrevista de 1987 no Jornal de Letras ( do mesmo grupo de O Jornal):
Nessa altura de há trinta anos este antigo monge ainda tinha relevo mediático. Hoje é um tal Rosas e uma tal Flunser.
Porca miseria!