domingo, dezembro 01, 2019

Creedence Clearwater Revival, maiores que os Beatles...em 1969

O postal que segue baseia-se noutro que aqui escrevi há uma dúzia de anos e versa sobre um grupo americano essencialmente do final dos anos sessenta do século que passou, os Creedence Clearwater Revival.

Nos EUA, há 50 anos,  este grupo era porventura o mais famoso e até vendia mais discos que os Beatles.
O ano de 1969 foi dos mais importantes na música popular o que já é reconhecido há muito, como mostra esta edição da Guitar World de Junho de 1999.


Nesse ano o grupo publicou três discos grandes, lp´s, cujos singles foram sucessos nas tabelas de venda de todo o mundo.

Os discos eram estes, na edição original da Fantasy Records americana. A edição original destes lp´s não estava disponível em Portugal na época, a não ser para quem viajasse para os EUA e lá os comprasse. Era esse, aliás, um dos modos de alguns terem acesso a estas obras originais que suplantam as edições locais e de outros lados, incluindo as edições inglesas.
Nos anos oitenta consegui arranjar edições espanholas destes discos, cujas prensagens deixam muito a desejar relativamente a estas, muito superiores no equilíbrio dos sons e clareza de reprodução dinâmica, para não falar nas próprias capas, cujo cartão é de outra consistência, mesmo na impressão cromática:



Actualmente, porém, será possível adquirir todos os discos do grupo em lp´s com uma qualidade idêntica ou eventualmente superior aos próprios originais ( já testei tal diferença com o disco Pendulum). E aparecem numa caixa...com um preço adequado à qualidade oferecida. Mas para tal será preciso procurar algures que não no sítio original que indica a indisponibilidade do produto...





Born on the Bayou, contendo o single por excelência, do grupo, Proud Mary, saído em Janeiro de 1969, assim recenseado pela revista Guitar World em número especial de Junho 1999:




Green River, em Agosto de 1969 e que continha as músicas do single  Bad moon rising e Lodi. Os Creedence estiveram em Woodstock.





E Willy and the poor boys, em Outubro de 1969



A revista Uncut de Fevereiro de 2011 resumia claramente: maiores que os Beatles...



Em Portugal também eram figuras de sucesso. Este é um single de 1969 editado por cá:



Nessa altura o Jornal de Notícias, mesmo com lapsos de escrita trazia essa mesma foto, que recortei.




A revista Mundo da Canção, lançada em final de 1969 deu-lhe atenção em  Setembro de 1970, no nº 10:




A revista americana Rolling Stone deu-lhe a capa em 21.2.1970:



Porém, em 5.4.1969 já tinha traçado um perfil do grupo, num escrito de Ben-Fong Torres:



   O primeiro Lp do grupo saira em Junho de 1968, intitulado simplesmente CCR. Continha a canção Susie Q, de Dale Hawkins e que começa de modo suave, com uma pequena frase de guitarra , com meia dúzia de notas que se repetem ao longo da canção e marcam um ritmo hipnótico, que porém nada tem a ver com as composições psicadélicas em voga nessa altura. Contém um pequeno efeito, no meio da canção em que entra a voz de John Fogerty, como se fosse transmitida por telefone. Em entrevista à Rolling Stone nº 649 de 4 Fev. 1993, J.F. dizia que lamentava ter inserido essa parte na canção, mas que foi a primeira canção de sucesso do grupo.
Os CCR foram o primeiro grupo de que gostei, na música popular. Mais que os Beatles, na época. 

Em 1969, a canção Proud Mary do LP Bayou Country, tornou-se um refrão de todos os dias: “rollin, rollin, rollin on the river...”
 Foi só essa, mas era o bastante para nunca mais despegar. A canção tinha uma característica que se repetiria noutras do grupo: a rítmica férrea, o tempo médio, com variações seguidas e em cascata que pareciam evidentes, e que eram sublinhadas pela bateria de Doug Clifford e pelo baixo de Stu Cook. A canção começa logo com uma dessas batidas em cascata e a meio, logo a seguir ao refrão, muda o tom e tem outra variação que sublinha a beleza da música simples, de sol e do, que um grupo composto por duas guitarras , uma ritmo e outra lead, a que se junta a guitarra baixo e a bateria, pode atingir.
O grupo era liderado pelo fundador John Fogerty, nascido em 1945 que além de compor quase todas as canções, produzir e arranjar as músicas, tocava guitarra solo e cantava como poucos na música rock. A voz, só por si, era um documento da vocalização rock.
A música dos CCR, em si, é um expoente do rock n roll, e nas palavras de Greil Marcus, nas notas do disco Chroniclebest of publicado em 1976, há pelo menos quatro canções nesse disco que literalmente o definem como uma forma musical e uma versão do espírito americano: “Proud Mary”; “Green River”, “Fortunate son” e “Up around the Band”. Cá por mim,, talvez se acrescentassem mais algumas: “Bad moon rising” de Green River; “Down on the corner” de Willy and the poor boys”; “Looking out my Back Door”, “Who´ll stop the rain” e “Long as I can see the light”, de Cosmo´s Factory; “Have you ever seen the rain”, um grande êxito e ao mesmo tempo uma canção que atravessou os anos como um clássico da música pop e que faz parte do disco Pendulum de Dezembro de 1970 que também continha Hey Tonight e Hideaway.

Have you ever seen the rain é uma daquelas canções que marcaram indelevelmente o gosto pela música pop. O tema é anódino: fala de chuva a cair num dia de sol, e metaforicamente de alguma coisa que pode correr mal quando tudo parece estar bem. Toca-se no tal ritmo médio e a variação sublinhada pela secção rítmica, de batida certa, sendo quase acústica e com um fio de órgão que acompanha a voz única de John Fogerty. É definitivamente uma canção de rara felicidade musical e está certamente entre as dez mais de toda a música pop, para mim.

Segundo John Fogerty, na entrevista já citada, um disco de rock n roll, feito como deve ser, deveria conter o seguinte: 1º, um bom título; 2º, um bom som ;3º ter pelo menos uma grande canção, que seja válida por si e possa ser cantada independentemente do disco; por último, um grande disco de rock n roll deve conter uma parte de guitarra original e apelativa e dá como exemplos, o início de Bad moon rising, Up around the bend e Born on the bayou, que contém acordes que encaixam nessa definição. É um som simples de tocar e soa bem numa pequena aparelhagem.
 Não é preciso uma grande sistema de alta fidelidade para apreciar toda a beleza da coisa. É essa a filosofia da música dos CCR, tal como definida pelo próprio génio do grupo que depois de um extenso interregno desde 72, altura em que o grupo se desfez até 1987, nunca mais tocou em público as canções antigas e que em 1973 publicou Blue Ridge Rangers; em 1975 o primeiro a solo, com o próprio nome em título e em 1985 Centerfield, a solo, seguido por último de The eye of the zombie.
A propósito da música dos CCR, as influências mais notórias radicam no rock n roll dos anos 50-60 e na música de Elvis Presley, Carl Perkins, Johnny Cash ou Jerry Lee Lewis. Por isso, o disco Green River, além do baixo eléctrico de Stu Cook, apresenta ainda em simultâneo um baixo acústico; a voz tem um ligeiro eco e a guitarra eléctrica e rítmica de Tom Fogerty, é ainda dobrada por uma guitarra acústica , tudo gravado em 16 pistas, uma inovação tecnológica para a época.
Em 1972, o grupo desfez-se por desinteligências entre os membros, particularmente devido ao facto de ser o grupo de um homem só e que impôs aos restantes membros a sua receita para o sucesso. Nessa altura, o score ia em oito singles e oito albuns de ouro, consecutivos .

E em Portugal, como é que o grupo era visto?


Na revista Mundo da Canção de Dezembro de 1970, o crítico Tito Lívio, escrevia “ CCR no limiar possível da comercialidade” , parafraseando a Rolling Stone que então já dedicara um número ao grupo (Fevereiro de 1970) e definia a música  como sendo um “rock simples, num retorno às fontes primitivas da pop, música colorida, sem problemas, jogando com o factor importante de uma voz poderosa extraordinariamente realçada. A construção das suas músicas obedece sempre ao mesmo princípio de efeitos antecipadamente garantidos: uma introdução de guitarra heavy, um trabalho vocal vigoroso, um improviso de guitarra e de novo uma parte vocal a finalizar.”

Era assim, a crítica musical nessa época. A acompanhar o texto, a fotografia a preto e branco dos membros do grupo sentados na relva, onde se destacavam as calças de ganga e as botas de cowboy, e que conferia uma imagem de marca que influenciava o gosto de quem começava a reparar nessas coisas. A foto podia ser esta:

Imagem: livreto que acompanha o disco Chronicles-the 20 greatest hits, de 1995 ( disco original de 1976).

Em 2002 a revista Guitar World Acoustic deu-lhe uma capa, de antologia:



Sem comentários:

O Público activista e relapso