terça-feira, março 29, 2011

O discurso dos prós

Decorre neste momento o programa de tv Prós & Contras, sobre "E agora Portugal?"

A animadora do programa já citou Mário S. e convidou para o programa professores. Universitários. Todos, incluindo João Salgueiro,o mais prático e inteligente; Lídia Jorge que se farta de citar autores para lhes rebater os ditos, de modo inconsequente; José Gil, o confuso dubitativo que se dribla na fluência discursiva e parece nem saber o que está a dizer, perante o olhar suspeito dos restantes; Eduardo Paz Ferreira, o situacionista que acha que os políticos merecem todo o crédito pelo sacrifício que fazem em nos governar, esquecendo Brecht e o seu poema "como é difícil governar!"; António Nóvoa, académico irrelevante; Tolentino de Mendonça que a apresentadora chama de professor e aparece como teólogo, sendo simplesmente padre, com um discurso de púlpito, sobre a pobreza franciscana. E também um iconoclasta universitário, António Feijó. E o professor Hespanha, encasacado num agasalho de lã e um professor de Economia de Coimbra, com pendor para o lado do CES do professor Boaventura.

Todos eles alvitram opiniões sobre o destino de Portugal. O discurso, divagante e deletério, repete os temas e os motes dos últimos 30 ou 40 anos. O discurso da maioria poderia ser reportado a 1980 ou até 1974, com excepção dos professores esquerdistas que defenderiam o gulag estalinista com o mesmo à vontade com que agora o criticariam.
Neste momento está a perorar o professor Paz Ferreira, um desses exemplos, que acaba de fazer um comentário encomiástico aos Deolinda, Camané e outros similares, achando que estes artistas são de uma excepcionalidade extraordinária e sem paralelo na Europa.

Este Paz Ferreira nunca ouviu a Banda do Casaco. E os intelectuais portugueses podem continuar a ler o Jornal de Letras.
Salva-se João Salgueiro. Porque conhece factos e não apenas autores e teorias.

5 comentários:

João Amaro Correia disse...

isso, claro. e humildade.

j

António Soares disse...

Caro colega bloguista,

Muito verrinosa, mas perspicaz, a sua apreciação do debate "E agora Portugal?". Só a encontrei, e li divertidamente, já depois de ter comentado esse mesmo debate em
http://na-torre-de-marfim.blogspot.com/2011/03/e-agora-portugal-debate-pros-e-contras.html

É claro que o meu enviesamento não permite fazer uma apreciação tão profunda como a sua ao programa e aos intervenientes. Salut, ao seu texto.

josé disse...

António Soares:

Li com agrado o que escreveu no seu blog. Tenho pena que não tenha sido um pouco mais específico na ironia e mais pesado no sarcasmo que não usa.

Todos teríamos a ganhar em ler coisas que desmistifiquem contos e lêndias.

A minha apreciação sobre o tema do debate enfrenta sempre um fenómeno que se torna corrente: a dificuldade em obtermos os cromos difíceis de encontrar. Os que temos na caderneta que aparece nas tv´s são sempre os que saem mais vezes, como era natural no meu tempo.

Joao Bispo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Joao Bispo disse...

Gostei da apreciação. Sou completamente contra endeusamentos, ainda mais para com pessoas que parece que fazem gosto em não ser claras.

Por falar em cromos, apanhei pela primeira vez há uns meses o Daniel Oliveira no Prós e Contras. Nunca o tinha visto na TV antes (não sou espectador do Eixo do Mal), mas o impacto foi tão grande que ainda hoje a memória ficou. Não me lembro do colega que ficou sentado ao lado, mas também não desiludiu.

A obscenidade do jornalismo televisivo