sexta-feira, março 04, 2011

A sociologia de praça

Para que serve um sociólogo, em Portugal? Para quase nada que valha a pena. Talvez sirva para ensinar as mesmas balivérnias que lhe ensinaram enquanto aprendeu na escola e pouco mais. Esse pouco mais é escrever em jornais.
Um dos que ostenta o título de sociólogo para escrever sobre n´importe quoi lhe dê na veneta semanal é um tal Alberto Gonçalves, um anódino que escreve na última página da Sábado e que quase nunca leio porque deixei de comprar a revista. Ontem, para acompanhar uma francesinha, comprei. E li umas considerações avulsas sobre a história do miúdo, Rui Pedro, desaparecido há treze anos em Lousada, em consonância com o teor do editorial da revista, também ele subscrito por um eventual sociólogo, neste caso de pacotilha porque não assina o nome.

A tese sociologicamente apresentada em modo de argumento andante de chaffeur de praça, é a de que a Justiça, essa entidade obscura que vai atenazando a subida consciência sociológica destes cronistas de revista, é uma fraude.
Estes sociólogos formados na praça das opiniões importadas, acham que nesta dúzia de anos a tal Justiça se tornou "cega, surda, muda e paraplégica". Esta é a tese do anódino. A do anónimo ainda vai mais longe: "incompetente".

No alto da sua competência sociológica engendraram a tese abstracta, com os factos que conhecem: os mesmos que o chauffeur de praça, ouvidos no forum da TSF ou lidos na capa do Correio da Manhã. E por isso os argumentos não divergem dos que se poderão ouvir aos taxistas do antigo campo das cebolas.
Em falência notória fica-lhes a realidade que não conhecem mas alardeiam ao leitor ingénuo e complacente e principalmente o bestunto, muito aparentado ao do profissional que passa o dia ao volante e assenta praça a observar os modelos de sociedade que vê à sua volta, sem descortinar subtilezas.

Para o sociólogo português, a investigação deve ser um espécie de galinhola que vive no lodaçal, tal como os maçaricos, à procura de minhoquices.
Por isso a produção teórica sobre fenómenos sociais relevantes é próxima do lodo: obscura e para besuntar doutoramentos.

Como é sabido, em sociologia a construção dos "modelos" ainda não chegou aos calcanhares da economia que abarrota de teóricos do investimento científico que nos conduziu directamente a uma crise financeira sem precedentes e à falência de bancos.
Os sociólogos ao menos, com excepção daqueles que assumem o calibre de um Boaventura Sousa Santos, ainda não atingiram tais cumes de surrealismo e por isso dedicam-se à escrita avulsa sobre temas que não conhecem de todo, mas assumem cátedra de sabedoria de praça.

Temos por isso um Pacheco Pereira, sociólogo nas horas vagas em que ensina e este, agora, na Sábado.
Sobre Justiça, meios de investigação criminal, métodos, estatísticas criminais, eficiência investigatória, direito penal ou processual sabem o mesmo que o que conduz pessoas na praça: inépcias argumentativas. Balivérnias.
Apertece citar um estudioso das ciências, Thomas Khun, que dizia "O que uma pessoa vê depende daquilo que para que olha, mas também daquilo que a sua anterior experiência conceptual e visual lhe ensinou a ver."

Questuber! Mais um escândalo!