sábado, novembro 02, 2013

A inteligentsia comunista. O caso de José Jorge Letria

Hoje no Diário de Notícias, no suplemento Q, dirigido por Pedro Tadeu,  infausto director do antigo 24 Horas, jornal que o mesmo assegurou que não leria se não fosse o seu director, antigo comunista, tirocinante no defundo o diário, aquele da "verdade a que temos direito" ( slogan de José Carlos Ary dos Santos, comunista também ) publica um artigo de Jonathan Mirsk, na Literary Review, sobre Mao Tse Tung ( ou Mao Jedong, como agora se pronuncia).
O que se torna aterrador nesta publicação e neste artigo é descobrir que os hediondos crimes contra a Humanidade cometidos por Mao e Estaline já eram conhecidos no tempo em que Tadeu e outros só juravam por um regime idêntico ao que provocou estas tragédias contra a Humanidade.
Nada então os demoveu porque achavam que era tudo propaganda do Ocidente contra o comunismo que adoravam e que se algum facto do género tivesse acontecido ficava por conta dos "excessos" das revoluções, neste caso contra a burguesia. E assim aplacavam qualquer prurido de consciência e de inteligência borbulhante naqueles neurónios virados a Leste.
Passados estes anos, o quociente de inteleigência que demonstram é o mesmo porque tal nunca muda.
Talvez por isso temos ainda  no nosso parlamento os representantes directos desta ideologia do terror que não tem qualquer comparação com o "fassismo" que imputam ao regime do Estado Novo mas a quem associam as piores barbaridades em reflexo dos tempos em que os seus camaradas passaram na prisão. Por actividades subversivas que se associavam a pretenderem implantar em Portugal um regime semelhante a este que agora se denuncia.
A inteligência desta gente não lhes permite raciocinar e fazer o paralelo e principalmente o exercício de arrependimento pela estupidez ou maldade consentida. São incapazes de tal coisa e no entanto julgam-se os mais sábios. Muito superiores à "direita"... 

O melhor exemplo recente de tal mentalidade é dado pelo actual presidente da SPA, José Jorge Letria, autor, cantautor, autor-cantor, poeta-cantor, cantor-poeta, professor-autor, autor e professor e outras coisas mais como jornalista. Autor celebrado de canções com dois acordes como " Quem tem medo do comunismo?" ou "Só de punho erguido a canção terá sentido"...
Ler o seu livro autobiográfico " E tudo era possível", publicado recentemente, é uma viagem no tempo aos fenómenos que ocorreram imediatamente antes e depois de 25 de Abril de 1974 e porque nos tornamos um país de bancarrota e sem destino à vista.
No livro aparecem, bem visíveis, as provas sobre a influência mediática da Esquerda no panorama nacional, político e intelectual que perdura nos dias de hoje  e influencia os debates públicos e as decisões do tribunal Constitucional.
Os nomes citados e os episódios narrados valem bem as poucas horas de leitura das suas quase trezentas páginas, muito suaves e com escrita jornalística banal. Não percebo como este indivíduo chegou onde chegou, mas o livro ajuda a entender.

JJL foi comunista logo a seguir ao 25 de Abril. Do PCP, entenda-se e avesso por isso mesmo ao "esquerdismo" que era para os seus militantes uma "doença infantil do comunismo". O socialismo verdadeiro e sério, adulto portanto, era aquele que se retrata no artigo supra citado. Um socialismo real e com métodos eficazes de combate à burguesia e à "reacção".

JJL com o passar dos anos foi desanuviando a inteligência das peias atávicas e lá entendeu, já no final dos anos setenta que alguma coisa não batia certo naquela ideologia em prática nos países que visitava e que supostamente seriam modelos para nós e para isso lutaram contra o "fassismo", tendo sido presos por tal façanha. Lamentam-se sempre muito dessas prisões sem pensarem um momento só que a lógica política e revolucionária  que seguiam não lhes poderia assegurar outro destino, mesmo legalmente. O que aliás inflingeriam aos adversários se a situação política se alterasse a seu favor. Tal esteve quase a ocorrer em finais de 1974 e nem a arbitrariedade das prisões seguidas aos acontecimentos de 28 de Setembro de 1974 lhes esclarece o bestunto sobre tal lógica. Essas prisões, arbitrárias, sem mandados, sem culpa formada de espécie alguma, sem resquícios da mais leve legalidade, não os incomodam minimamente porque os presos eram "fassistas" e contra o "fassismo" lutavam eles e eram os arautos dessa nova legitimidade que se recusavam a reconhecer a quem os prendeu. Enfim, sobre a inteligência destas lógicas estamos entendidos.

JJL, para mostrar o desencanto com o "modelo", que intitula como " o secreto adeus à utopia", uma confissão de um arrependimento postiço porque nunca verdadeiramente interiorizado como o reconhecimento de uma estupidez de pensamento ( ao contrário de um José Luis Saldanha Sanches que assim considerou publicamente),  conta alguns episódios pessoais ( parece que só assim aprendem...) e relata um deles quando efectuou uma viagem a Angola, em Maio de 1978, em plena guerra civil que os comunistas quiseram e JJL apoiou ( e mostra como, no livro) e que matou millhares de angolanos durante anos a fio, mais dos que durou a chamada por eles "guerra colonial". Nem isso os afecta, na tal inteligência. A guerra civil contra o imperialismo de Savimbi e outras forças tinha o apoio dos comunistas portugueses, claro está. A democracia que defendem é mesmo essa.



Para além desse episódio muito edificante sobre o comportamente dos comunistas cubanos em Luanda, há o relato de fenómenos que JJL observou in loco, em Moscovo, em finais de 1979 ( altura em que o ídolo Álvaro Cunhal jurava que o advento da AD seria o regresso do "fassismo"). Fica aqui porque é triste verificar como as pessoas pensam e actuam depois, em conformidade e principalmente como é que se tornam incapazes de alterar o seu percurso político mesmo sabendo que estão erradas e que o que defendem é um logro, um embuste e um crime, no fim de contas porque tinham obrigação de saber que o que Estaline fizera não diferia em muito do que Hitler tinha feito. Que justificação arranjavam então para reciclarem a inteligência? Os "excessos", os "desvios" à pureza do ideal e pronto, ficava tudo sossegado. Tal como a Igreja Catolica tem a Confisssão e o Arrependimento como acto redentor, assim a ideologia comunista arranja correcções programáticas em congressos para reciclar os erros e continuar na mesma senda.


Apesar disto que JJL soube na época tal não foi suficiente para alterar o rumo ideológico. Ao longo dos anos os "antifassistas" e comunistas continuaram a ser os preferidos intelectualmente, apesar de defenderem precisamente as ideias que conduziam directamente àqueles resultados perversos que só eles não viam porque não queriam ver. Não há cego pior do que aquele que não quer ver e esse é o melhor aforismo que se lhes aplica. Um verdadeiro manual da cegueira, estes comportamentos dos comunistas portugueses que perdura até à hora actual. Os Jerónimos, Bernardinos e Filipes, muito democratas no parlamento, rapidamente deixariam de o ser, com os melhores pretextos e justificações se a ocasião se proporcionasse e ao longo das décadas esperam por tal momento como a vinda de um messias em que não acreditam. Os portugueses fazem de conta que eles são democratas e eles lá vao continuando a fazer de conta que paralmentam democraticamente.

Precisamente em 1975 um jornalista americano do New Yor Times, Hedrick Smith ( que colaborou na equipa que denunciou a Administração americana em 1971 por causa dos "documentos do Pentágono",  publicou um livro simplesmente intitulado "Os Russos".


Nesse livro publicado entre nós em 1977, pela Europa-América ( Lyon de Castro, maçónico do PS) relatam-se dezenas ou centenas de episódios do genero relatado por JJL. Este tomou certamente conhecimento deste livro, na época.
Os comunistas e jornalistas de então desvalorizaram o livro considerando-o um elemento da propaganda anti-comunista...e assim arrumaram o assunto para os alfarrabistas.
Tal como JJL escreve no seu livro eles sabiam destas coisas porque liam; mas desvalorizavam imediatamente, relegando-as para a irrelevância da propaganda e sobrevalorizando os ideiais incorruptos da utopia que só muito mais tarde reconheceram, os que o reconheceram.
Como se vê, o PCP actual continua a pugnar pelas mesmíssimas ideias e princípios que foram abandonados quase em todo o lado, menos por aqui.
Porquê?
E porque é que a denúncia destas barbaridades, desta impostura gigantesta e destes crimes contra a Humanidade encontram ainda hoje, em Portugal, um biombo de cumplicidades  "fraternas" que se misturam com amizades passadas e que impedem o esclarecimento de todo um povo?
Porque é que os antigos comunistas, mesmo os que "apostataram", como Vital Moreira ou este José Jorge Letria, continuam sempre com a mentalidade antiga da "camaradagem" ideológica que não os afasta desta peste negra e os reconduz sempre ao redil ideológico de uma esquerda falida e os denuncia pontualmente como arrependidos apenas na fachada, tal como os cristãos-novos do século dezasseis que faziam alheiras com carne de frango?
O que subsiste na inteligência destas pessoas para assim procederem? Acho que sei: o amor assolapado a uma "igualdade" que no fundo de si mesmos nunca praticaram porque nunca a sentiram quando foram amamentados.
E tal é um drama psicológico digno de um autor. Mas daqueles a sério. Um Lobo Antunes, por exemplo... se não fosse como eles.


Questuber! Mais um escândalo!