Um dos episódios mais vergonhosos e estúpidos de todo o PREC que se instalou em Portugal praticamente desde as primeiras semanas a seguir ao 25 de Abril de 1974 foi uma coisa chamada "dinamização cultural", "uma campanha de propecção socio-cultural, alargada de norte a sul do país, que, no fundamental, consistia no facto de intelectuais e artistas procederem a espectáculo e outras práticas pedagógicas e formativas que resultariam num real enriquecimento das populações. junto das quais se buscavae se propunha um contacto directo e fraternal".
Isto dizia-se no boletim editado regularmente pela Fundação Calouste Gulbenkian, para as bibliotectas fixas e itinerantes. A Fundação adaptou-se completamente aos esquerdistas comunistas e o boletim reflectia essa visão ideológica de pendor colectivista.
Em 1975 as campanhas da tal dinamização andavam no terreno e eram assim explicadas:
Na foto da direita vê-se a "tropa" junto das "populações locais" em plena actividade. Pelo ar seráfico da circunstante pode ler-se o interesse profundo que essas campanhas despertavam e disso dá conta o pequeno (des)apontamento.
Tais campanhas tinham assim objectivos claros de propaganda da revolução e dos seus benefícios para as populações que as mesmas recusavam obstinadamente entender, por serem de extracção "reaccionária", avessas a mudanças e portanto refractárias à modernidade por influência da Igreja.
Uma das campanhas com mais impacto logístico foi a operação "nortada" protagoniada pelos "comandos" de Jaime Neves, no início de 1975 e portanto ainda longe do papel desempenhado por este comandante, no 25 de Novembro desse ano, em prol de uma das facções do MFA, a saber, o "grupo dos nove".
Nessa campanha, melhor explicada neste recorte da Vida Mundial de 16 de Janeiro de 1975 se pode ler todo o idealismo de um combatente de elite, pronto para ser despachado em missão de evangelização da revolução dos cravos...
A revista francesa Paris Match, de 1 de Março desse mesmo ano mostrava algumas imagens desse "corpo de elite" que fora para Trás-os-Montes na operação "Nortada", supondo-se que terão ido à lã dos preconceitos reaccioinários e vindo tosquiados de desilusão..
Não obstante estas tristes figuras para quem assumia tanto garbo militar, a verdade é que os comandos de Jaime Neves tiveram um papel determinante nos acontecimentos do "25 de Novembro", como se mostra por estas passagens do livro Abril nos Quartéis de Novembro, dos jornalistas esquerdistas Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso.
Ao ler estas "justificações" ficamos com a impressão de que o golpe do 25 de Novembro "começou sozinho" e que afinal os comandos de Jaime Neves pretendiam "ir mais longe" logo que se tornou clara a vitória das "forças moderadas" ( grupo dos nove). Não foi porque o dissuadiram ou não o deixaram, o que vai dar ao mesmo. Jaime Neves e os seus comandos integraram-se em pleno no processo revolucionário que se interrompera por momentos e quase os obrigaram a pedir desculpa pela interrupção porque o programa continuou...
Em suma: o 25 de Novembro em termos militares foi a mesma rábula que o 25 de Abril em que as semelhanças com a guerra do Solnado são tentadoras.
É costume dizer-se que a partir do 25 de Novembro a "direita" retomou o poder e acabou o prec. Este suicídio colectivo e em marcha acelerada terminou, de facto, mas apenas na instituição militar. O resto continuou bem vivo e actuante e dali a pouco começava outra aventura: a das FP25, com os resquícios dos doidos do prec, alguns deles ainda hoje no asilo ideológico em que se meteram.
Porém, nunca se terminou com o esquerdismo comunista, porque dali a meses tínhamos uma Constituição "à maneira" que deixava intocáveis as nacionalizações e deixou-se lavrar o fogo da linguagem esquerdista na pradaria dos usos e costumes, até hoje.
A sociedade portuguesa se não estava modificada até então, ficou-o nos anos a seguir. O grande vencedor do 25 de Novembro foi o esquerdismo moderado do PS e a social-democracia do PSD que conquistaram a alforria eleitoral que nos conduziria às duas bancarrotas em perspectiva.
E ainda há quem diga que as pessoas não mudam...e na verdade em relação a alguns capitães de Abril tal se verificará. Ainda andam por aí, feitos lémures de 1975 a catequizar jovens das escolas sobre os grandes benefícios do 25 de Abril de 74 que trouxe a luz ao Portugal apagado de então.