Se no tempo de Salazar os costumes eram outros, como eram os costumes no tempo de Salazar e do Estado Novo tardio?
É sobre isso que vou tentar mostrar alguma coisa e do modo habitual: com recortes de jornais. Para mostrar o tempo que passou nada melhor que factos registados desse tempo e imagens que no-lo devolvam na memória, seja de quem o viveu seja o de quem o interpreta agora através dos sinais. Julgo que é uma boa forma de conhecer o tempo antigo que ainda perdura na memória de muitos, tentando perceber o que mudou, como e quando.
Não vejo outra forma de perceber o passado, sem ser através dos sinais que deixou e muitos mitos advêm da dificuldade em rememorá-lo ou em compreendê-lo através dos signos e testemunhos.
Em 1969 surgiu nos escaparates uma revista de cariz popular, dedicada a espectáculos e manifestações culturais populares. Quando surgiu em Dezembro de 1968 tinha o nome de Cine Disco e depois de alguns meses de publicação quinzenal assumiu o nome de Mundo Moderno, um achado fabuloso porque mesmo moderno.
Nessa altura de finais de 1969 as manifestações culturais que se produziam cá dentro do país e as que vinham de fora, passavam pelo crivo da censura que era não só política mas também de costumes ( como noutros países europes o era também) .
A produção cultural-musical em Portugal era incipiente e centrava-se em festivais da Canção com imenso auditório nacional, por causa da divulgação televisiva a preto e branco. Nesse ano de 1969 começaram a aparecer os baladeiros e apareceu na tv o zip-zip.
Porém, do estrangeiro vinha a música pop e rock e os êxitos de lá eram os de cá, com um intervalo de alguns meses, suficientes para se publicarem os discos por cá, passando-os no rádio.
Assim, foi em 1969 quanto a mim que se operou uma mudança significativa neste campo musical popular e a revista traduziu isso em páginas de interesse pelo assunto.
Este número do início desse ano é exemplar da mudança que se operava na sociedade portuguesa, a começar pela capa, sem qualquer referência à foto e ao assunto.
As letras das canções pop do momento não se encontravam em mais lado algum ( no caso de Revolution dos Beatles, nem sequer no disco "branco")
A revista tinha um concurso de "misses" que consistia na publicação de fotos de interessadas que concorriam... enviando deste género:
O fenómeno "hippie" aparecido e desaparecido na California em 1967, ainda era notícia por cá, em 1970, no número de 1 de Março desse ano...
Por outro lado, a música popular de qualidade tinha o seu espaço radiofónico no Em Órbita que nesse mesmo ano fez um "top".
Bob Dylan e o festival da ilha de Wight não foi esquecido no nº 37 da revista, de 1 de Junho de 1970.
A par disso publicavam-se alguns textos que dão uma imagem do Portugal de então que alguns ensaios não conseguiriam.
Vale a pena ler, sem grandes comentários porque acho que se apanha um retrato aproximadoo do que era a nossa Nação na primavera de 1970, há 45 anos. E como mudou...