Observador:
A defesa do ex-primeiro-ministro viu chumbado novo trunfo para conseguir libertar Sócrates. Apesar de não considerar o pressuposto de perigo de fuga, o Tribunal da Relação manteve a medida de coação.
Entretanto, o advogado Araújo, ontem, vendo a jornalista do CM, Tânia Laranjo, a reboque e de microfone na mão, a fazer perguntas, disse-lhe que devia "tomar banho mais vezes", porque "cheirava mal". Além disso, na mesma altura, proferiu outros mimos extensíveis aos demais jornalistas enquanto caminhava sob as arcadas da Praça do Comércio, referindo-se indistintamente à "gajada" e "canzoada", termos apanhados a vol d´oiseau, pelos microfones amplificados dos mesmos e que captaram conversa privada entre si e o colega que o acompanhava.
Coisa diversa e reveladora de um instinto que me abstenho de qualificar, por economia de adjectivo apropriado, foi o que disse depois em Évora, às portas do ep onde se encontra o seu cliente, recluso 44.
Em conferência de imprensa improvisada para a mesma "canzoada", referiu-se ao professor Costa Andrade, autor do parecer informal, escrito no Público, sobre a natureza da pretensão de habeas corpus baseada na (in)competência do STJ.
Disse então que o professor, enquanto fora deputado gostava muito de andar de avião e que " ainda um dia destes vamos falar das viagens de avião do professor Costa Andrade".
A natureza intrínseca desta alusão despropostitada e direccionada ad hominem é estranha. O professor Costa Andrade foi deputado nos anos da Constituinte e depois nos noventa, na legislatura em que governava Guterres e o PS. Portanto, os factos insinuados e que o foram com inequívoco sentido de o denegrir publicamente, ocorreram há vinte anos.
Vir agora com alusões deste tipo, revela o carácter de alguém que sendo advogado devia ater-se à defesa dos direitos e interesses do seu constituinte. Para já, tem sido uma defesa inconsequente e eventualmente prejudicial para esses interesses. Se entre estes se contam o ataque pessoal à honra de um professor de Direito Penal, um dos maiores que o país tem, é de temer o pior quanto a outros coelhos a sair daquela cartola, incluindo os que visam os magistrados.
A atitude é inédita e se o seu cliente a patrocina ficamos entendidos sobre o que se está a passar...