domingo, março 08, 2015
Passos Coelho: a questão é de ética ou política?
Este cronista do Público representa bem o satus quo do comentarismo mediático relativamente a mais este "caso Passos".
Escreve assim, depois de alcandorar a gravidade do caso aos píncaros da ética nec plus ultra: "o problema de Pedro Passos Coelho não é essencialmente ético, é fundamentalmente político". E explica a razão: PPC apresentou-se com figura angélica e impoluta na política e agora vê-se que tem telhados de vidro. É este o sentido da argumentação. A estupidez é evidente se se pensar que afinal chegou a hora de indagar se o candidato a futuro PM, o Costa, preenche os requisitos que futuramente lhe podem ser fatais...
Ontem, o editorial do Público ainda era mais explícito no equívoco, uma vez que escreve despudoradamente revelando a intenção do grupo editorial do jornal: "há uma semana parecia ser possível um passeio até às eleições. Agora tudo será mais difícil".
É impossível ser mais claro nas intenções políticas querendo parecer que se é isento, como um jornal deve ser.
O que o Público revela é o comprometimento político da sua direcção contra a actual coligação política no governo. Se as sondagens fossem as de há uns meses nunca haveria notícia sobre PPC e as dívidas prescritas e pagas à Segurança Social. Nunca. Tal como não haverá notícia sobre a situação ainda mais complexa em termos pessoais relativamente a certo tipo de fenómenos de multiplicação de rendimentos do Desejado Costa. O Público pegará no assunto só e quando tal se revelar incontornável...ou quando tal se afigurar conveniente, como o fez com a licenciatura do antigo PM, hoje recluso 44.
É essa insuportável hipocrisia jornalística feita de cinismo profissional e pessoal de quem dirige este tipo de jornais que incomoda e descredibiliza. O Público não merece crédito jornalístico porque embarca em campanhas políticas, geralmente para atacar os opositores ao actual governo que execram sobremaneira. A esquerda do PS ou mesmo de outros partidos, incluindo os radicais, encontram sempre acolhimento favorável e relativamente acrítico nas páginas do jornal e demais media. O Público alinhou nessa corrente política de contestação e serve agora os pratos de résistence aos partidos que são autores da receita desta culinária politico-partidária. O Público acoberta este jornalismo actualmente. E isto não é jornalismo mas outra coisa, mais ignóbil e indigna porque um jornal não deve fazer política partidaria pura sem o revelar explicitamente e dando a entender que pretende o contrário.
É política, o que o jornal tem feito, tal como o cronista escreve e o editorialista revela nas entrelinhas claramente.
Deste modo torna-se relativamente inútil tentar desconstruir esta armadilha política, analisando os factos no seu contexto. Haverá sempre o argumento do género exposto: um PM que exige sacrifícios não tem condições para governar quando no passado foi laxista. É este, essencialmente o argumento.
É confrangedor, mas resulta se replicado em uníssono por uma caterva de comentadores televisivos e ressoando noo estribilho decorado da miríade de papagaios que os seguem.
Com esta artilharia pesada de argumentos fátuos ainda conseguem o efeito pretendido: a demissão do PM para arranjar umas eleições "à maneira" de um syriza ou de um podemos.
No fundo desta questão reside apenas este assunto político e mais nada de nada. A ética não tem qualquer importância nisto e se o problema é político torna-se mister colocar a política no pelourinho das comparações entre políticos, incluindo já o tal Costa que aqueles jornais e media em geral apostaram em conduzir ao poder político e tal lhes estava a fugir no horizonte.
Ou seja, abrir uma caixa de pandora que a democracia dos últimos vinte anos guarda em reserva para se degustar em modo vintage.
Este caso lembra o assunto de Sá Carneiro e de uma dívida pretensa a um banco. Tal como em 1979-1989, um assunto anódino e esquecido foi repescado para a luta política, arvorado em grandes parangonas de indignação ética.
Os seus autores são quase os mesmos de agora: a esquerda comunista e radical aliada ao socialismo democrático que perdia votos em prol de Sá Carneiro.
A dívida de Sá Carneiro à banca foi descoberta pelos sindicalistas comunistas e socialistas que fizeram tábua rasa do sigilo bancário e passaram o assunto para os jornais, inicialmente o do partido comunista, o diário ( o tal da "verdade a que temos direito") e depois pelo o Jornal, digno representante da corrente syriza de antanho, tal como o Público de hoje em dia.
O tema já foi tratado aqui, in illo tempore:
(...) convém recordar um artigo de página de O Jornal de 18.7.1980, poucos meses antes de Sá Carneiro morrer. Na altura, a luta eleitoral levou o jornal comunista O Diário, dirigido por um sectário-mor da estirpe de Miguel Urbano Rodrigues, a encetar uma campanha digna dos melhores jornais da actualidade.
O assunto momentoso desse período pré-eleitoral de 1979-80 era a dívida de Sá Carneiro à banca de então, nacionalizada e por isso com segredos menos que protegidos: abertos à militância dos camaradas.
Hoje, tal como então, os media estão dominados maioritariamente por essa esquerda difusa e permanente na sociedade portuguesa. Ontem na tv de Balsemão ( militante nº1 do PSD) só se ouvia o anão e silva e quejandos...por isso, o assunto é como é e não vale a pena argumentar com relativismos e tentar explicar o absurdo dos argumentos éticos que se querem fazer passar por políticos e se confundem nas mentes turvas de quem apenas pretende uma coisa: apear este governo do poder, de qualquer maneira.
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