Em 29 de Abril de 1976 surgia a Opção, revista dirigida por Artur Portela Filho, logo a seguir às eleições para a Assembleia da República desse ano e que tiveram este resultado:
O ambiente político da época era assim resumido na capa do primeiro número dessa revista assumidamente de esquerda moderada e democrática. A figura da capa era o ícone dessa vertente da democracia. Quem o viu ontem no último acto público de propaganda do PS teve oportunidade de perceber o estado caquético que apresenta e por isso nada disse de relevante, ao contrário de outros tempos. O tempo não perdoa e como cantavam os R.Stones pouco tempo antes ( 1974) "time waits for no one...":
Ora o problema democrático em Portugal é sempre o mesmo de há 40 anos a esta parte e o PS torna-se o pivot desse problema, como já era notório nesse número da revista, o que estes artigos denotam.
Em primeiro, o artigo opinativo do filósofo de Vence, no qual se repetem os mantras da utopia marxista e se relegam para um canto esquecido da História os problemas trágicos que se engendraram nos povos e países em que tal ideologia vigorou. Em 1976 o filósofo de Vence estava preocupado com o "fascismo" que nunca existiu em Portugal e o comunismo pouco lhe interessava discutir porque perderia lugar à mesa da discussão se o fizesse.
Portanto, a tese do filósofo de Vence era simples: os comunistas tinham uma ideologia coerente e sólida, "o que torna o marxismo tão revolucionário" porque eivado de uma convicção íntima e exterior imbatível...e que o socialismo democrático não tinha.
Esta abordagem ( francesismo à la Vence) é corrente e ainda hoje
costumeira na mentalidade de esquerda, mas não se fala muito disto, por
uma razão: aquela ideologia marxista-comunista revelou-se uma das
maiores tragédias do século XX e o PCP mai-lo BE ou o inenarrável Livre não são confrontados
com tal facto, nunca, em termos mediáticos e firmes. A dona Lourença e
associados do Público ou do resto dos media de esquerda, em camarilha ideológica, não estão interessados em debater este problema porque lhes estraga as convicções e o conforto na divisão mental entre esquerda e direita.
Porém, na época, um desses socialistas democráticos com laivos de maçonaria nas veias ideológicas, escrevia do mesmo modo que hoje o fará, com o mesmíssimo contorno de complacência para com um dos partidos cuja ideologia actual é uma das mais hediondas na História universal da infâmia, herdeiro directo do estalinismo e apoiante activo do que se passou em Moscovo nos anos de chumbo do comunismo.
Este artigozito de Cravinho é da mesma ferradura de sempre e foi publicado naquele número um. João Cravinho passava por um pequeno génio e até foi ministro várias vezes. Da Indústria, imagine-se!
Este contexto histórico percebe-se melhor se se ler esta página de entrevista de um histórico da resistência ao regime de Salazar que aqui aplaude e apoia um dos terroristas do tempo, Palma Inácio, que depois se reciclou ideologica e profissionalmente no PS. Emídio Guerreiro, o tal lutador antifassista era à época do PSD e foi seu secretário geral! A tal direita...
Para melhor exemplo do que tem sido o ambiente político de paróquia nos últimos 40 anos, nada nem ninguém melhor que Freitas do Amaral que recentemente apelou ao voto no PS para derrotar "a direita" ...e que no número 4 dessas revista aparecia na capa, assim, premonitoriamente, em travesti improvável:
Em remate: um regime destes que nos conduziu sucessivamente a três bancarrotas e que nos afastou irremediavelmente de uma Europa mais desenvolvida e próspera que aliás estaria ao nosso alcance, antes de 25 de Abril de 1974, com todas as "ajudas" recebidas e tempo mais que suficiente para reparar erros passados, tem futuro assegurado?
É preciso discutir isto.