domingo, novembro 08, 2015

A hegemonia de Esquerda não é mito, em Portugal



Sobre direita e esquerda em Portugal escrevi tanto que apenas uma síntese se torna necessária:

Desde o dia 25 de Abril de 1974 ou mais propriamente da semana a seguir a esse dia que a Esquerda comunista e socialista tomaram a palavra pública em Portugal e nunca mais a largaram, em grande escala mediática.
O discurso da esquerda tornou-se perversor na sociedade portuguesa desde então e nunca mais se ouviu  na mesma escala outro discurso que não esse. 

E qual é esse discurso de esquerda? Em primeiro lugar a vituperação bem sucedida do anterior regime como "fascista" sem que alguém pudesse contrapôr o epíteto "comunista" com a mesma carga pejorativa e ideologicamente marcada de efeito deletério eficaz.  

Apesar de o regime anterior, particularmente o dos cinco anos de governo de Marcello Caetano, pouco ou nada ter de verdadeiramente fascista, na acepção que o termo deve comportar, a verdade é que a designação pegou em antonomásia completa e redundante, de tal modo que toda a expressão mediática hoje em dia se refere a esse regime como o regime fascista e é assim que se ensina nas escolas, desde a infância em livros escolares.
Foi essa a principal vitória de esquerda comunista e socialista em Portugal: mudar a linguagem de tal forma que os termos deixaram o significado corrente e saltaram a semântica. 
É qualquer coisa de formidável o que sucedeu porque assente numa manipulação ideológico-política que se transportou para as ideias correntee comummente aceites e até com expressão constitucional. 
Em segundo lugar e decorrente dessa exclusão a  Esquerda assumiu desde logo o discurso do anti-sistema capitalista, com a proposição de outro sistema cujas variáveis assentam sempre numa ideia básica: em primeiro passo foi a protecção dos operários, camponeses , soldados e marinheiros e com a evolução social, uma modernização semântica se operou: a defesa dos trabalhadores. 

O propósito é imbatível culturalmente e se for acrescentado de proclamações grandiosas de defesa dos mais desfavorecidos e da supressão das desigualdades sociais, ganhador absoluto de eleições em todas os actos que se sucederam em Portugal. Foi-o desde logo, em 25 de Abril de 1975 e continua de há quarenta anos a esta parte.
Com discursos de circunstância adaptados ao correr dos tempos, essa Esquerda conseguiu implantar no texto fundamental da Constituição, em 1976,  essa ideia básica e determinante: Portugal como sendo um país apostado em "abrir caminho para uma sociedade socialista", que é a redacção do preâmbulo que subsiste até hoje nessa Constituição. Esse texto, ainda mais radical em 1976 porque defendia abertamente o caminho para uma sociedade sem classes, estabelecendo claramente uma matriz comunista, foi votado favoravelmente, em compromisso ou não, por todos os partidos representados na AR com excepção do CDS. Sabe-se porém, por declarações do seu líder de então, Freitas do Amaral ( e é ver onde foi parar...) que o partido não se reclamava de direita alguma, mas sim de centro e até socialista.  Sobre isto estamos conversados e espanta que ninguém se sirva destas evidências para atirar às lourenças de agora a estupidez que ostentam.

O que oferecia a esse propósito a  Constituição do anterior regime, até 1974?

Nenhum preâmbulo e no Título I a referência à "Nação Portuguesa". No artº 5º e também no 6º fazia referências programáticas ao que o Estado devia fazer pelos cidadãos: definição do Estado Português como uma República unitária e corporativa, baseada na igualdade dos cidadãos perante a lei, no livre acesso de todas as classes aos benefícios da civilização e na interferência de todos os elementos estruturais da Nação na vida administrativa e na feitura das leis.  ( artº 5º). No parágrafo único desse artigo definia o que se devia entender por "igualdade perante a lei": " envolve o direito a ser provido nos cargos públicos, conforma a capacidade ou serviços prestados, e a negação de qualquer privilégio de nascimento, de nobreza, título nobiliárquico, sexo ou condição social, salvas, quanto à mulher, as diferenças resultantes da sua natureza e do bem da família, e, quanto aos encargos ou vantagens dos cidadãos, as impostas pela diversidade de circunstâncias ou pela natureza das coisas."
No artº 6 definiam-se os.  objectivos que incumbiam ao Estado e que eram também iminentemente sociais, para todas as "classes". 
Portanto, essa Constituição era anti-jacobina por excelência e de esquerdismo tinha o que é comum na natureza humana tal como entendida nesse tempo. Falava em "classes" porque elas existiam e sempre existiram, mesmo nos sítios onde se proclamou a sua abolição, com as classes dirigentes das vanguardas das datchas e privilégios.

 A Constituição de 1976 que perdura  essencialmente até aos dias de hoje foi obra dessa Esquerda,  em amálgama comunista e não comunista, ou seja socialista tendência social-democrata.A ideia básica que se instilou no texto foi a da luta de classes, uma ideia de esquerda marxista. 

Lutar contra esta Constituição e contra as ideias que defende é um imperativo de quem não se conforma com tal Estado de coisas.  E por isso é necessário mostrar que é filha da Esquerda e portanto  um rebento bastardo do que deve ser uma sociedade equilibrada. 
Por isso mesmo não concordo com esta exposição de ideias simples salpicada de impropérios irrelevantes.
Essencialmente, as ideias de Esquerda em Portugal concentram-se nessas duas acepções ideológicas.
 São de algum modo a demonstração do triunfo das ideias de Gramsci, o pensador italiano da ideia de hegemonia cultural.  Gramsci que morreu em 1937,  passou onze anos nas cadeias de Mussolini, o verdadeiro fascista titular indiscutível do epíteto degenerado pela esquerda comunista. 

Segundo Gramsci e copiando ideias da revista quinzenal francesa Society, num número recente ( 30 de Outubro a 12 de Novembro)   a criação da hegemonia cultural carece de influência num universo de ideias, de símbolos e imagens  no qual o povo se reconheça.  Torna-se necessário exercer um peso sobre a filosofia, a criação artística e a língua.  Gramsci era de extrema esquerda e as suas ideias servem de referência para quem quiser combater as hegemonias culturais, sejam elas quais forem.
Em Portugal, portanto, estou convencido de há décadas que a hegemonia cultural é de esquerda e por isso não me canso de o apontar e dizer.
Significa tal coisa que luto pela inversão ideológica e pela derrota da esquerda   em favor de uma direita qualquer ? Nem tanto.
Essa direita qualquer  actualmente não existe em Portugal e os poucos utópicos que se reclamam dessa direita qualquer são do género barata tonta com feromonas concentradas de salazarismo. 
É uma direita serôdia que  não sai do beco onde se meteu por incapacidade em alterar o sentido  por influência nefasta dessas feromonas com prazo ultrapassado.

Vive da utopia reinante e actuam os seus próceres como pajens da fantasia, sempre frustrada pela inconsequência ideológica e de sentido alterado pelo humor  variável e renitente ao bom senso.  

Assim, essencialmente a questão que se coloca nos dias de hoje, na sociedade portuguesa que liga a estas coisas ( e deve ser infinitesimal e irrelevante para significar algo de importante e  essencial) é determinar a origem do fenómeno, catalogá-lo, circunscrevê-lo e dizimá-lo, se for possível. 

Sabendo-se que as ideias que não comungam necessariamente dos propósitos esquerdistas de igualdade geral e ilusória, de jacobinismo militante e de luta de classes constante são raras, esparsas e sem lugar definido porque não sustentam qualquer órgão de informação nos dias que correm ( com excepção de O Diabo, quase me esquecia de referir. Um jornal relativamente caro, semanal, graficamente mal feito e com necessidade de renovação de escribas ocasionais na opinião, mas ainda assim imprescindível para ler Pedro Soares Martinez), o que fazer senão fustigar as ideias de esquerda típica sempre que as mesmas pretendem passar por normal e corrente a sua explicação do mundo, da vida, das pessoas e das coisas?

A hegemonia cultural fez-se desse modo e denunciar tal situação é para mim um imperativo de consciência na medida em que o nosso mundo, assim,  não está equilibrado e justo. E é esse o único valor que me anima: recuperar algum equilíbrio perdido na nossa sociedade. 

Logo mostrarei como isto pode ter acontecido, no meu modesto entender.

Questuber! Mais um escândalo!