quinta-feira, novembro 05, 2015
Lágrimas de charlie
A revista Sábado do grupo Cofina, na edição desta semana traz alguns artigos sobre a censura que se abateu sobre o grupo mediático após a decisão da providência cautelar decretada por um juízo cível de Lisboa.
O tom geral dos artigos e opiniões expressas é o de que a decisão judicial é errada, viola o direito à informação e liberdade de expressão e ontem, o Correio da Manhã até trazia uma reportagem com uma académica- Maria Paula Vieira Andrade- a qual tendo sido citada na referida decisão declinou a opção jurídica da juiz por desvirtuar o que escreveu na sua tese que aquela citou. Em resumo, disse que José Sócrates não tem boa reputação que mereça tutela específica porque " É do conhecimento público que muito por culpa sua, o ex-primeiro-ministro José Sócrates não goza de boa reputação, bom nome e/ou imagem que venham sendo lesadas com a actividade da comunicação social".
Vários directores de jornais prestaram depoimento à revista Sábado, como se pode ler.
Um dos mais curiosos é o de André Macedo, o director do DN que se referiu à indefinição do prazo da proibição dizendo que "não faz qualquer sentido e que esta limitação "deve ser conduzida com muito cuidado".
Cuidado é o que não lhe faltou um destes dias, quando recebeu para publicação um anúncio de página inteira, do Correio da Manhã, sobre a censura imposta.
Escreve o CM de hoje, citando o Expresso online de ontem que esse anúncio não foi autorizado para publicação pelo advogado Proença de Carvalho na qualidade de presidente do CA da Golbal Media, ou seja, o patrão do Macedo mandou-o baixar a bolinha e ele baixou. Enquanto for só a bolinha...
Por falar em cinismo a revista Sábado também publica um delicioso artiguelho da autoria de um convidado, precisamente Francisquinho Balsemão sobre a questão magna da liberdade de informação e até cita Thomas Jefferson, o principal autor da declaração de independência dos EUA, para dizer que entre um governo sem jornais ou jornais sem governo prefere sempre esta última solução...desde que os mesmos se auto-regulem, claro está. Se não, nada feito. É isso aliás que espera sempre dos seus jornais, revistas e tv´s. O Expresso, a Visão ( que esta semana não consagra uma linha ao assunto, uma evidência clara dessa tal auto-regulação) ou a SIC-N das lourenças e quejandas, não se ocuparam com este assunto porque é como diz o patrão: liberdade sim, mas auto-regulada...
Entretanto, na mesma revista e a precisar outra vez de pau de marmeleiro, JPP escreve em sentido regulado sobre o assunto. Ora leia-se:
JPP é um must nestes assuntos porque colecciona jornais como quem junta lixo por não ter quem o limpe.
Como sabe bem o que é a censura prévia ( foi vítima do fascismo, coitado...mas não quando andava a distribuir samizadts na clandestinidade do sobretudo pesado, a apelar à revolução proletária, de porta em porta, à noite e sem abrigo) acha que isto foi censura. Ponto. Mas...atenção! Este Correio da Manhã é um pasquim tablóide que merece um puxão de orelhas e por isso devia ter censurado a converseta do Sócrates com o Guterres que isto não é o da Joana...e por outro lado, atenção porque temos agora um ministro que violou o segredo de justiça, ao passar informações a jornalistas quando era director da PJ.
Quanto ao Sócrates, coitado, merece toda a delicadeza da dúvida porque o CM por vezes exagera a "sugerir conclusões".
Por exemplo, aquela dos telemóveis: então dizer que José Sócrates tinha seis telemóveis interessa para alguma coisa? O próprio JPP tem mais que isso, numa gaveta, junto aos exemplares de samizadts não distribuídos, provavelmente amarrotados pelo peso do sobretudo. O facto de os tais seis telemóveis não serem de colecção e terem sido usados e escutados durante a investigação é um pormenor...e como esses há mais. Olha, o do tal Negrão que agora é ministro e enquanto director da PJ violou o segredo de justiça. Então não violou? Está-se mesmo a ver que sim, se passou as tais informações aos jornalistas...e...e...ah!, nunca foi condenado por isso? Nem sequer foi a julgamento? Ora e isso que interessa? É outro pormenor...
Agora mais a sério:
Tal como no caso Negrão, JPP e outros têm convicções sobre factos que conhecem mas não abarcam na totalidade nem sequer na relevância essencial, como se denota nos exemplos dados. Essa convicção virá de factos que podem ser ilusórios ou não.
A ilusão cria-se através da manipulação que é exactamente a táctica de José Sócrates, repetida e sempre replicada em todas as circunstâncias em que foi apanhado com a boca na botija. Nunca se desmancha em tais ocasiões, seja nos casos dos projectos de casas, na licenciatura, nas adrabices dos empréstimos e das trocas e baldrocas escondidas em conversas cifradas, etc etc.
Quem quer ou precisa de acreditar nessa ilusão contínua tem os elementos à mão e os argumentos prontos. Quem procura ser crítico na análise dessa manipulação vai mais longe e interroga-se para além dos factos aparentes.
Um jornal tem essa missão: a de mostrar factos, o mais claro possível e com eles abrir janelas de oportunidade de visão da realidade.
Mesmo assim há quem as feche e continue a preferir a fantasia interior da crença mais conveniente.
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