A defesa da monarquia como regime político viável, no Portugal da actualidade e futuro próximo, parece-me projecto utópico e próprio do reino das quimeras onde viceja um draco-rex a lançar-chamas de luzincu.
O que é uma Utopia? Não há definição fácil mas é possível juntar algumas noções. Não sendo filósofo nem me arrogando conhecimentos que não tenho, procuro o saber de outros para compreender minimamente o assunto. Para o Saber acabado e embalado em vácuo prefiro os originais, sem precisar muito de intermediários enfeitados como intérpretes.
O que é uma Utopia? Não há definição fácil mas é possível juntar algumas noções. Não sendo filósofo nem me arrogando conhecimentos que não tenho, procuro o saber de outros para compreender minimamente o assunto. Para o Saber acabado e embalado em vácuo prefiro os originais, sem precisar muito de intermediários enfeitados como intérpretes.
Ou seja, cito directamente quem sabe muito mais e já deu provas
disso. Para o caso, volto ao Norberto
Bobbio do Il Dizionario di Politica. Assim as ideias aqui expostas
a arremedar gnosiologia são apenas glosas.
Assim, nem toda a gente que escreve sobre utopias será
utópico. "O lugar inexistente"
associa-se ao "Lugar da felicidade"?
Karl Mannheim em 1929 definia a mentalidade utópica como algo "em contradição com a realidade
presente e a quebrar os vínculos da
ordem existente. "
Esta definição integrará
a ideologia revolucionária e a ideologia
conservadora? Adequa-se aos revolucionários da esquerda dos amanhãs a
cantar, os verdadeiros utópicos e também
aos conservadores, os ideólogos, que almejam uma monarquia de reizinhos e
pajens, com os palafreneiros fardados e uma corte de imperiais cavaleiros
dos findos tempos de antanho?
A literatura entrou
no campo da Utopia como terreno de eleição e a obra farol é a de Tomás Moro que glosava o "Lugar inexistente"
com o lugar da felicidade, na busca do Estado óptimo, bem como a de Campanella,
com a Cidade do Sol. Mas não é destas
utopias que aqui curamos.
Numa acepção mais generalizada o utópico "não pretende a destruição da realidade
actual, que aceita no que tem de melhor , para a qual a sociedade que desenha é
uma projecção sua na qual os aspectos positivos aparecem maximizados. "
Naturalmente um utópico recalcitrante denega o efeito e assegura
que a possibilidade está ao alcance da vontade de quem se prestar ao cuidado de
tentar lobrigar o que eles vêem claramente: a ilusão em lança-chamas de luzincu.
Portanto, discutir com utópicos é como pasmar a chover no
molhado, figurando como paspalho.
Os amanhãs hão-de cantar um dia e o reizinho, se a Regeneração quisesse e a Restauração assim o permitisse,
chegaria noutro dia, de nevoeiro denso,
de preferência para dramatizar o efeito da ópera-bufa.
O sonho com os amanhãs a cantar só tem paralelo na promessa de um harém de
virgens que esperam ansiosas cada bombista-suicida feito kamikaze. O sonho com o reizinho é ainda mais
fantabulástico na fancaria: contenta-se
até com um qualquer bastardo que apareça na rifa dos pretendentes ao trono por
inventar. Daí, até poderiam adorar o sol, sempre é o astro-rei...e já aconteceu com outros povos e noutros lugares.
Em Portugal esta causa real está entregue a uma associação
irrelevante e quase anónima e a pajens do género draco-rex a
brilhar luminescências de pouco fósforo. Não há luz natural suficiente para alumiar caminhos e a artificial está pelas horas da falta de recursos.
Entre os associados figuram
individualidades que projectam auras de causas perdidas e os demais devem celebrar a causa com um efectivo e real empenho em ocasionais encontros prandiais e
pouco ou nada mais.
O monarca proposto? D.
Duarte Pio de Bragança, da casa dita. Simpática personagem de uma causa perdida
há mais de um século.
A prole de pequenos príncipes já deve seguir as pisadas do pai,
pretendente sem trono obrigado a fazer pela vida perante uma realidade inconsistente com uma
utopia de restauração.
Quanto ao resto deve ser "viva o rei!" aquando das saudações
prandiais. A simpática agremiação merece
louvor por recordar a família alargada e com vínculos de sangue realista
configurando-se na sociedade como associação elitista atestada pelos pergaminho no Tombo. Os castelos foram levados pelo tempo e as casas senhoriais perderam as honras por usucapião.
No entanto, durante os últimos cem anos os bravos adeptos da causa real deixaram progredir e prosperar o
jacobinismo reinante sem um pio dos ascendentes de D. Duarte.
A causa real rendeu-se a Salazar e não houve Pio que se ouvisse, claro está, uma vez que o Pio
que se viu apareceu pela primeira vez a dar vivas à cristina republicana do
MFA, logo em 1974. Foi assim:
"Vivo intensamente este momento de transcendente importância para a Nação. Dou o meu inteiro apoio ao Movimento das Forças Armadas e à Junta de Salvação Nacional"...
Era mesmo preciso fazer esta figura naqueles trajes? É desta elite que surgirá o tal rei de Portugal e dos Algarves, como afiança o lança-chamas de luzincu?
"Vivo intensamente este momento de transcendente importância para a Nação. Dou o meu inteiro apoio ao Movimento das Forças Armadas e à Junta de Salvação Nacional"...
Era mesmo preciso fazer esta figura naqueles trajes? É desta elite que surgirá o tal rei de Portugal e dos Algarves, como afiança o lança-chamas de luzincu?
Mais: depois de um hiato
de vinte anos silenciosos para com a real causa e respeitosos para com a causa real do regime vigente, apareceu na
Olá, sem grandes teres ou haveres, ainda a taramelar ideias feitas em
sussurro e não concitou carisma ou real
crédito.
Casou com o grande estrépito dessa revista e desde então o real Pio calou-se outra vez, para não assustar a manhã de nevoeiro que virá...um dia, qualquer dia....
Casou com o grande estrépito dessa revista e desde então o real Pio calou-se outra vez, para não assustar a manhã de nevoeiro que virá...um dia, qualquer dia....
Os pajens fazem coro nesse silêncio, cantando o hino que já
ninguém conhece e servirá de santo e senha para entrar na dita associação.
É deste nadir que surge a ideia salvífica de um lança-chamas quimérico e utópico.
Pois bem, neste devir nostálgico de um tempo que nunca foi vivido e num espaço inatingível, o melhor é irem dar banho ao cão pois por aqui se pode ver a dimensão quimérica da utopia real: a mordedura do mesmo cura-se com o pelo do dito.
Quanto à questão latente acerca da causa real de Salazar, parece-me que não vale a pena entrar em apostas porque os jogos estão feitos.
Revista Resistência de Julho/Agosto de 1977, um dos últimos expoentes de uma direita portuguesa que então ainda resistia a tudo e a todos os que regiam o país.
Os artigos em causa de que se colocam recortes são da autoria de Barradas de Oliveira ( o primeiro) e António José de Brito ( o segundo). Ambos concluem o óbvio: se Salazar era monárquico guardou segredo de tal coisa e era séria porque o levou para a tumba...que está no Vimieiro.
Por outro lado, a direita que estes dois autores representam também foi com eles para a tumba. O que resta são apenas lança-chamas de luzincu que nem dão para alumiar discursos antigos lidos à pressa.
Daí às utopias é a distância de um sonho.
Pois bem, neste devir nostálgico de um tempo que nunca foi vivido e num espaço inatingível, o melhor é irem dar banho ao cão pois por aqui se pode ver a dimensão quimérica da utopia real: a mordedura do mesmo cura-se com o pelo do dito.
Quanto à questão latente acerca da causa real de Salazar, parece-me que não vale a pena entrar em apostas porque os jogos estão feitos.
Revista Resistência de Julho/Agosto de 1977, um dos últimos expoentes de uma direita portuguesa que então ainda resistia a tudo e a todos os que regiam o país.
Os artigos em causa de que se colocam recortes são da autoria de Barradas de Oliveira ( o primeiro) e António José de Brito ( o segundo). Ambos concluem o óbvio: se Salazar era monárquico guardou segredo de tal coisa e era séria porque o levou para a tumba...que está no Vimieiro.
Por outro lado, a direita que estes dois autores representam também foi com eles para a tumba. O que resta são apenas lança-chamas de luzincu que nem dão para alumiar discursos antigos lidos à pressa.
Daí às utopias é a distância de um sonho.