Os jornais portugueses de hoje não têm cartoons como o do jornal de Minneapolis, nos EUA. Têm factos, fotos e opinião avulsa e de momento.
Perante um acontecimento desta magnitude o que procura qualquer pessoa saber que as tv´s ainda não tenham mostrado?
Opinião, factos e fotos ou exegeses apressadas e paridas à pressa, com cegueira ideologicamente garantida?
Basta reparar nas primeiras páginas de dois jornais nacionais. Um, o Público, tido como "referência" de uma esquerda bloquista e livre, subrepticiamente gramsciana, subsidiado generosamente pelos bolsos fundos da SONAE; o outro, o Correio da Manhã vilipendiado pela bempensância corrente( alguma dela lamentável e que se associa objectivamente à dessa esquerda livre) que vende quase dez vezes mais que aquele ( et pour cause).
O Público:
No interior, um editorial que não consigo ler porque irrelevante, acrescido de vinte páginas com artigos de notícias travestidas de opinião diletante e profissionalizada na doutrinação subliminar e a opinião propriamente dita misturada nos artigos paginados Não me interessa para nada saber o que pensa do assunto uma tal Rita Siza, ou os Alexandre Martins e João Pedro Pereira ou uma tal Ana Dias Cordeiro um um tal Félix Ribeiro. Muito menos o que escreve uma tal Clara Barata sobre a ausência de culpa dos refugiados.
Quem são estas pessoas para me darem uma opinião que bem dispenso, ao mesmo tempo que relatam factos esparsos sobre o assunto, com fotos que não mostram minimamente o que sucedeu na realidade, a não ser um portfolio de duas páginas que relatam cronologicamente factos sem qualquer dramatismo fotográfico? Para o Público os corpos mortos não existem, as imagens chocantes ficam arquivadas e os relatos na primeira pessoa são filtrados pelos jornalistas.
Que me interessa saber agora "em nome de quê?" se cometeram estes atentados quando essa pergunta terá resposta mais adequada com o recuo do tempo?
Porque é que um jornal destes se ocupa ideologicamente destes assuntos quando deveria mostrar o que sucedeu para que as pessoas pudessem saber antes de formar opinião?
Este jornalismo "novo" que pretende imitar o new journalism deixa a desejar o essencial: os factos no contexto e com as fotos que os mostram e a apresentação do clima em que ocorreram com as personagens que neles intervieram.
Temos interpretações jornalísticas de quem vê a posteriori, de quem lê os outros e reproduz opiniões e de quem ficciona relatos plausíveis de hipóteses ponderáveis. E tudo condimentado depois com a "opinião" dos notáveis que ninguém lê e muito menos eu.
Eu não quero isso de um jornal porque não se é Tom Wolfe , ou Gay Talese ou Joe Eszteraz só porque se quer e o Público não é a Rolling Stone dos anos setenta, mesmo que o quisesse. Nem sequer o Libération dos oitenta. Nem sequer o jornal que então apareceu nos anos noventa. Este Público, assim é uma merda que fica datada e seca desde que sai para a rua. Este pretensiosismo bacoco é de gritos sem esperança de renovação.
Querem dar opinião ao mesmo tempo que alinhavam factos noticiosos? Façam blogs ou inscrevam-se em "redes sociais" e esperem sentados que os leiam...
Esta gente julga-se o quê? A esquerda intelectual francesa em permanente Libération? Poupem-nos à indigência arrogante e à pesporrência intelectualóide e escrevam notícias, com a humildade de quem não sabe verdadeiramente o que se passa e procura mostrar para que outros dêem opinião mais avalizada. Há poucos em Portugal e não vale a pena convidar o Boaventura porque é opinião de Barcouço do tempo da Cooperativa.
Querem mostrar o que aprenderam com professores diletantes? Fundem uma revista de opinião e verão quem os lê.
Entretanto dêem-nos apenas as notícias que se relatam objectivamente. Dêem-nos opinião se for caso disso, mas de quem tem pergaminhos ou conhecimentos para a ter e mesmo assim duvida. Querem opinião sobre os franceses e os factos que se passam de um ponto de vista Livre? Leiam a Marianne que é de esquerda mas tem lá um Jacques Julliard. Leiam o L´Obs que também vale a pena e é de esquerda, desde sempre, ou seja dos anos sessenta.
Mas dêem-nos a ler os originais, traduzidos se preciso for e situem-nos ideologicamente. Não precisamos da vossa opinião plagiada da deles e muito menos das ideias assimiladas à pressa travestidas nas notícias e sem remissão para os originais.
Aqui neste blog raramente dou opinião pessoal a tentar passar por original e inteligente. Não tenho, na maior parte dos casos senão dúvidas e recolho opinião de outros, dizendo de onde vem. E a mais não posso pretender.
Espanta-me com uns fedelhos e fedelhas do jornalismo que nasceram ontem para estes fenómenos já sabem tudo e mais um par de botas e não têm um pingo de humildade intelectual. Onde aprenderam? Que leram? Quem lhes ensinou? Como é que conseguiram os diplomas? Enfim...
Em vez disto, o que faz o Correio da Manhã?
Mostra na primeira página uma imagem do terror local e anuncia que há portugueses que foram vítimas. Já o sabíamos das tv´s? Já víramos as imagens? Certo. Mas quem sabia que os dois portugueses mortos eram a Précilia que trabalhava na FNAC e o "taxista de Mértola" que trabalhava junto ao estádio? É essa informação, com foto dos mesmos, que fica na primeira página, em vez da indagação intelectual e extemporânea sobre a motivação dos ataques.
No interior, em vez de vinte, apenas meia dúzia de páginas com factos e mais factos e fotos, com um editorial que se separa da doutrinação ideológica marcada pela esquerda livre, sempre presente e apresenta outra ideia básica e essencial: "ou os líderes políticos encontram soluções para o problema do terrorismo religioso, comandado à distância ou devem ceder o lugar a outros".
No fundo é isto que está em causa, se alguma opinião deva dar-se.
Querem mais uma opinião simples e estruturada historicamente? Na última página do Público, VPV escreve assim:
"As relações entre o Ocidente e o Islão deviam ser mínimas e estritamente materiais: petróleo por tecnologia- e acabou. Fora isso o terrorismo vai continuar a aumentar, quer a grande França queira quer não".
Para "dar" esta opinião, VPV não frequentou escolas de jornalismo de "comunicação social" nem é licenciado na última dúzia de anos, com o ensino como temos. Aprendeu durante dezenas de anos e já em 1974 tinha opinião interessante.
Como este temos muito, muito poucos. E mesmo assim é uma opinião singela e nada mais.
Humildade precisa-se na redacção do Público e não há.
Daqui a vinte anos quem é que servirá de referência histórica para se saber o que sucedeu em Paris, no dia 13 de Novembro de 2015, à noite? O Público ou o Correio da Manhã?
No fundo desta questão, quem é que será mais tablóide na acepção pejorativa que se associa ao Correio da Manhã? Quem é que merece ir para o caixote de lixo histórico, desde já, por irrelevância noticiosa e documental que fica para a posteridade?
Ao contrário do que cantavam os Rolling Stones nos anos sessenta, eu quero "yesterday´s papers " mas para guardar, nestes casos, nem preciso de dizer qual o mais valioso...