Muito se queixam do regime que temos e anseiam por
alternativas que poderíamos ter. Uma das mais auspiciosas já foi delineada a
traço grosso em mata-borrão por inteligência rara chocalhada ab ovo. Tem escrita de meste, mas...o que diz?
Aqui se pode ler, com
o proveito de se topar uma sumidade rara que costuma apodar os demais como indigentes ambulantes da mentalidade reinante.
Ninguém lhe chega ao bestunto e tudo lhe
cheira a unto sempre que perde um trunfo.
O espírito superior é arreigado ao distante e vive nas nuvens evolando as ideias fantásticas
do realismo etéreo em baforadas.
Em resumo, teríamos um rei(zinho) e um governo de homens bons, com um parlamento de partidos bem comportados,
a fazer de conta que fiscalizava esse governo de homens bons, nomeado pela corte de pajens do rei(zinho) de fancaria dinástica.
Portanto, em primeiro lugar e antes de tudo, impunha-se acabar com a
balbúrdia republicana e escolher um reizinho. De banda desenhada porque hoje em
dia, os reis andam pelas ruas das amarguras dinásticas.
Em vez do reizinho de O.Soglow, podia ser um dos
nossos, em louça das caldas mas capado a
preceito para não deixar descendência com pés de barro. A sua corte de pajens emproados na grande capacidade de sonho faria o resto.
Tal como outros, estes palafreneiros da dona Utopia alimentam-se de sonhos e também "pelo
sonho é que vão"...de escada, agora rolante e sem catapultas.
Logo, logo a seguir "os partidos até poderiam ser
tolerados". Tolerados por quem?
Pelo reizinho com pés de barro, o que não seria problema. E , claro, pelos pajens vigilantes , os verdadeiros donos
do trono, com olho para catar lesa-majestades.
Teríamos por isso mesmo uma necessidade premente em
organizar uma "formiga negra" que viesse pelo carreiro e se virasse
para o formigueiro: "Mudem de rumo!", senão...Limoeiro ou galés a todo
o vapor para as Berlengas.
Depois de expurgada esta Nação indígena dos buíças
encapotados surgiria, das brumas da memória e por efeito de pós de perlimpimpim, o alfobre caseiro de eleitos adubados pelos bons costumes e altos valores
sulfatados por aspersão em balão, dos eflúvios incandescentes brotados daqueles
bestuntos, permitindo a colheita excelsa dos "homens
bons".
"Pessoas de reputada competência e probidade" seria
o menu diário na refeição aristocrática de um parlamento vigiado pelos pajens
do reizinho com o barro aos pés.
O governo assim constituído "procuraria
orientar a sua acção segundo um programa resultante das propostas
maioritariamente sufragadas, todas elas devidamente subsidiárias ao interesse
nacional. Entende-se por "interesse nacional" não o interesse de
classe x ou y, e sobretudo não o interesse do estrangeiro por delegação
em classe x ou y, mas o interesse de Portugal (vivos, mortos, passados,
presentes e futuros, gentes e terras)."
Quem definiria o "interesse nacional"? À falta de quem, surgiriam
mais pajelas vigilantes embrulhados em ceroulas com atilhos.
A elite do novo regime, com o
reizinho à dependura, saído das linhagens nobres inventadas à pressa,
decretaria esse supremo interesse, por éditos proclamados em alta-voz em megafones arrimados ao novo regime.
Se o interesse nacional fosse definido em rejeição absoluta ao Mal que os
americanos respiram, empestando o Universo, a grei teria que se submeter a um
cordão sanitário e acrisolante que
evitaria as "mijeiras do imperialismo" e outras mistelas de fast-food
com apelidos escoceses e ganga judaica.
Regressaríamos à broa de milho e ao quartilho de tinto
com muito proveito e honra
nacionais. Afinal, o vinho chegou a dar de comer a um milhão de portugueses...e
isso seria todo um programa a que se
seguiriam outros, gizados pelos "homens bons" que assentavam no governo
de elite controlado pelo parlamento de circunstância comedida pela coorte.
O que faria a grei neste tempo de iphone, facebook e blogspot, google e intel, tudo siglas do Maligno que apareceu em Bell? À
míngua de cordão sanitário para aprisionar ondas hertzianas e números binários
à solta, cortaríamos na ração de fibra óptica e passaríamos a criar
pombos-correio. Navegaríamos de astrolábio e replicaríamos o museu dos coches. De outro modo teríamos sempre o Maligno em
casa. Os renitentes seriam confinados à
Giena, lugar mítico onde os dragões põem ovos, e fustigados com os impropérios chocados.
Se o interesse nacional fosse
escolhido fora do euro, o trigo já estava limpo e viria logo a farinha amparo
para acudir aos desvalidos, em boiões apanhados das árvores.
O Reino seria regido segundo as
regras e leis essenciais à harmonia e progresso sociais, sem necessidade de
redundâncias bizantinas nem labirintos jurídicos meramente movediços. Sinal de
verdadeiro avanço no bem comum e no aperfeiçoamento cívico seria, em primeiro
lugar, a redução das leis, e, de caminho, a redução dos impostos.
A "harmonia e progresso sociais" é sempre o mantra dos programas
de todos os regimes e por isso este reino da utopia serôdia não seria original, o que seria sempre uma pena porque não daria
para exemplo bastante de amostras fantásticas de frutos nunca vistos.
Quanto às " redundâncias
bizantinas" e outros "labirintos jurídicos" nunca tal seria problema de maior envergadura.
A simplicidade das nossas leis foi inventada no tempo dos romanos, muito antes
dos afonsinhos desse condado imaginário de um rei(zinho) de banda desenhada.
Os seus desenhos jurídicos sobre o direito de propriedade são simples como
a noção da longa manus ou de enfiteuse. Os romanos eram uns rústicos da
simplicidade legal e só a degenerescência jacobina atolou essa singeleza nos
labirintos adversos aos pajens regeneradores da pureza do decálogo bíblico
complementado pelo código de Hamurabi. Coisas simples ao alcance do
entendimento de qualquer pajem que se preze.
Para um rei(zinho) de direito adivinho nihil obsta. Para os pajens a olhar
para o palácio as leis seriam sempre de carregar pela boca.
Quanto ao rei(zinho), poderia ser um bastardo? Poder podia, mas nunca seria
a mesma coisa que um reizinho original com marca registada de origem. Porém, sendo de fancaria, nunca se notaria.
Entenderam agora, ó ignaros, onde está a salvação para o nobre povo e nação valente?
Num príncipe novinho em folha de papel reciclado.
Se tudo isto fosse tudo a reinar era divertida, a solução. Contudo quer parecer
séria, a questão. Daí que só a risota
termine com esta anedota até que apareça o "Tratado" prometido para pôr a pedra no assunto.
Até lá fica aqui uma imagem do verdadeiro príncipe da fantasia e que também era valente e porventura imortal.
Saía aos Domingos no suplemento do jornal Primeiro de Janeiro, no tempo da "outra senhora" que prescindia de reis e doutras utopias.