quarta-feira, novembro 11, 2015

O percursor e precursor do reino do nunca ou o palafreneiro da utopia



Muito se queixam do regime que temos e anseiam por alternativas que poderíamos ter. Uma das mais auspiciosas já foi delineada a traço grosso em mata-borrão por inteligência rara chocalhada ab ovo.  Tem escrita de meste,  mas...o  que diz?

Aqui se pode ler, com o proveito  de se topar uma sumidade  rara que costuma apodar os demais como  indigentes ambulantes da mentalidade reinante. Ninguém lhe chega ao bestunto e  tudo lhe cheira a unto sempre que perde um trunfo.
O espírito superior é  arreigado ao distante e  vive nas nuvens evolando as ideias fantásticas do realismo etéreo em baforadas.

Em resumo,  teríamos um rei(zinho) e um governo de homens bons, com  um parlamento de partidos bem comportados,  a fazer de conta que fiscalizava esse  governo de homens bons, nomeado pela corte de  pajens do rei(zinho) de fancaria dinástica.

Portanto, em primeiro lugar e antes de tudo, impunha-se acabar com a balbúrdia republicana e escolher um reizinho. De banda desenhada porque hoje em dia, os reis andam pelas ruas das amarguras dinásticas.
Em vez do reizinho de O.Soglow, podia ser um dos nossos,  em louça das caldas mas capado a preceito para não deixar descendência com pés de barro. A  sua corte de  pajens emproados  na grande capacidade de sonho faria o resto. 

Tal como outros, estes palafreneiros da dona Utopia  alimentam-se de sonhos e também "pelo sonho é que vão"...de escada, agora rolante e sem  catapultas.

Logo, logo a seguir "os partidos até poderiam ser tolerados".  Tolerados por quem? Pelo reizinho com pés de barro, o que não seria problema.  E , claro,  pelos pajens vigilantes , os verdadeiros donos do trono, com olho para catar lesa-majestades. 

Teríamos por isso mesmo uma necessidade premente em organizar uma "formiga negra" que viesse pelo carreiro e se virasse para o formigueiro: "Mudem de rumo!", senão...Limoeiro ou galés a todo o vapor para as Berlengas. 

Depois de expurgada esta Nação indígena dos buíças encapotados surgiria, das brumas da memória e por efeito  de pós de perlimpimpim,  o alfobre caseiro de eleitos  adubados pelos bons costumes e altos valores sulfatados  por aspersão em balão,  dos eflúvios incandescentes brotados daqueles bestuntos,  permitindo  a colheita excelsa dos "homens bons". 

"Pessoas de reputada competência e probidade" seria o menu diário na refeição aristocrática de um parlamento vigiado pelos pajens do reizinho com o barro aos pés. 

O governo assim constituído "procuraria orientar a sua acção segundo um programa resultante das propostas maioritariamente sufragadas, todas elas devidamente subsidiárias ao interesse nacional. Entende-se por "interesse nacional" não o interesse de classe x ou y,  e sobretudo não o interesse do estrangeiro por delegação em classe x ou y, mas o interesse de Portugal (vivos, mortos, passados, presentes e futuros, gentes e terras)."
 
Quem definiria o "interesse nacional"? À falta de quem, surgiriam mais pajelas vigilantes embrulhados em  ceroulas com atilhos. 
A elite do novo regime, com o reizinho à dependura, saído das linhagens nobres inventadas à pressa, decretaria esse supremo interesse, por éditos proclamados em alta-voz em megafones  arrimados ao novo regime. 

Se o interesse nacional fosse definido em rejeição absoluta ao Mal que os americanos respiram, empestando o Universo, a grei teria que se submeter a um cordão sanitário e acrisolante  que evitaria as "mijeiras do imperialismo" e outras mistelas de fast-food com apelidos escoceses e ganga judaica. 

Regressaríamos à broa de milho e ao quartilho de tinto  com muito proveito e  honra nacionais. Afinal, o vinho chegou a dar de comer a um milhão de portugueses...e isso seria  todo um programa a que se seguiriam outros, gizados pelos "homens bons" que assentavam no governo de elite controlado pelo parlamento de circunstância comedida pela coorte. 

O que faria a grei neste tempo de iphone, facebook e  blogspot, google e intel,  tudo siglas do Maligno que apareceu em Bell? À míngua de cordão sanitário para aprisionar ondas hertzianas e números binários à solta, cortaríamos na ração de fibra óptica e passaríamos a criar pombos-correio. Navegaríamos de astrolábio e  replicaríamos o museu dos coches.  De outro modo teríamos sempre o Maligno em casa.  Os renitentes seriam confinados à Giena, lugar mítico onde os dragões põem ovos, e  fustigados com os  impropérios chocados.

 Se o interesse nacional fosse escolhido fora do euro, o trigo já estava limpo e viria logo a farinha amparo para acudir aos desvalidos, em boiões apanhados das árvores.

O Reino seria regido segundo as regras e leis essenciais à harmonia e progresso sociais, sem necessidade de redundâncias bizantinas nem labirintos jurídicos meramente movediços. Sinal de verdadeiro avanço no bem comum e no aperfeiçoamento cívico seria, em primeiro lugar, a redução das leis, e, de caminho, a redução dos impostos.

A "harmonia e progresso sociais" é sempre o mantra dos programas de todos os regimes e por isso este  reino da utopia serôdia não seria original,  o que seria sempre uma pena porque não daria para exemplo bastante de amostras fantásticas de frutos nunca vistos. 

Quanto às " redundâncias bizantinas" e outros  "labirintos jurídicos"  nunca tal seria problema de maior envergadura. A simplicidade das nossas leis foi inventada no tempo dos romanos, muito antes dos afonsinhos desse condado imaginário de um rei(zinho) de banda desenhada.
Os seus desenhos jurídicos sobre o direito de propriedade são simples como a noção da longa manus ou de enfiteuse. Os romanos eram uns rústicos da simplicidade legal e só a degenerescência jacobina atolou essa singeleza nos labirintos adversos aos pajens regeneradores da pureza do decálogo bíblico complementado pelo código de Hamurabi. Coisas simples ao alcance do entendimento de qualquer pajem que se preze.
Para um rei(zinho) de direito adivinho nihil obsta. Para os pajens a olhar para o palácio as leis seriam sempre de carregar pela boca. 

Quanto ao rei(zinho), poderia ser um bastardo? Poder podia, mas nunca seria a mesma coisa que um reizinho original com marca registada de origem.  Porém, sendo de fancaria, nunca se notaria. 

Entenderam agora, ó ignaros, onde está a salvação para o nobre povo e nação valente? 

Num príncipe novinho em folha de papel reciclado.    

Se tudo isto fosse tudo a reinar era divertida, a solução. Contudo quer parecer séria,  a questão. Daí que só a risota termine com esta anedota até que apareça o "Tratado" prometido para pôr a pedra no assunto.

Até lá fica aqui uma imagem do verdadeiro príncipe da fantasia e que também era valente e porventura imortal.  
 Saía aos Domingos no suplemento do  jornal Primeiro de Janeiro, no tempo da "outra senhora" que prescindia de reis e doutras utopias. 




Questuber! Mais um escândalo!