Ontem, a jornalista do Público Cristina Ferreira acrescentou ao desmazelo ( em interpretação benévola) a manha que o Correio da Manhã não tem, nem sequer online, a propósito da notícia manhosa da véspera sobre o antigo governante Sérgio Monteiro.
Ontem desfez-se em explicações detalhadas sobre o pormaior da remuneração líquida ou bruta daquele. E explicou o que na véspera tinha completamente omitido, com a agravante de ter passado a mensagem principal da primeira página, efeito que com estes profissionais nunca é despiciente Nessa primeira página do jornal de Sexta-Feira tinha escrito " Sérgio Monteiro recebe 30 mil euros por mês para vender Novo Banco". Assim mesmo com um acrescento: o salário era pago pelo Banco de Portugal durante 12 meses.
A notícia interior, com foto "à Correio da Manhã" a ocupar a página escrita de alto a baixo repetia os 30 mil euros "brutos por mês" e a seguir informava que o mesmo iria receber " uma remuneração total bruta de 250 mil euros".
Apesar da bota não bater certo com a perdigota nem o artigo deixar sequer ponderar outra forma de calcular a remuneração líquida ( o IRS não se desconta assim, logo no início) a jornalista e a direcção do jornal em regime de mecenato entenderam que tinham aqui um grande escândalo a revelar e insistiram ontem num esclarecimento que é ainda mais lamentável.
A este propósito de escândalos e oportunidades líquidas para os denunciar, o jornal em regime de mecenato, apesar de conhecer o caso particular de António Costa que recebeu anos a fio, por inteiro e líquido, duas remunerações a que aparentemente não tinha direito, eventualmente a título de direitos de autor a que também não tem direito porque o não são, pura e simplesmente, fez do assunto tabu e fechou-se em copas. Isso é um "não assunto" ou seja, tal como no caso da licenciatura do antigo primeiro-ministro, o caso fica em águas de bacalhau porque agora ninguém se mete com o PS, senão...
Enfim, vamos a este grande escândalo do tal Sérgio Monteiro cuja contratação foi transparente, no sentido em que está tudo claro, aparentemente não aldrabou o Fisco e afinal irá ganhar o que uma entidade reguladora independente determinou em conselho com outras entidades privadas.
Ontem o jornal em regime de mecenato explicou então ao que vinha anteriormente: esses 30 mil euros por mês, afinal eram mesmo brutos e tal valor "resulta de 21 mil euros, a que se somam verbas que o BdP vai despender com Monteiro, nomeadamente através do pagamento dos descontos para a Segurança Social que estão normalmente a cargo do trabalhador".
Isto que no dia anterior não foi notícia serve agora para outra notícia em que se tenta explicar que afinal os 250 mil euros brutos anuais foi a quantia declarada ao tribunal Constitucional pelo ex-governante" e que afinal não são mesmo brutos porque se devem acrescentar "os encargos assumidos pelo regulador".
Uma confusão que a notícia de agora procura outra vez iludir, acrescentando o que antes não o tinha sido: que o tal governante saíra do cargo de administrador da Caixa BI e não tinha o cargo suspenso, pelo que não poderia voltar, sem mais, para o mesmo lugar. Assim se procura justificar que não merece os tais 30 mil brutos, porque enfim, até é superior ao que ganha o regulador principal.
Para se tentar esconder o rabo do gato a esta notícia, deve ponderar-se que este jornalismo é apenas um modo de fazer politiquice por outras vias perversas, sendo o das causas dos escândalos fictícios, fracturantes e próprios de uma esquerda que assumiu o modo oculto e se recusa a revelar em editorial. Um jornalismo de "referência" para uma esquerda militante que nunca deixou de o ser e que nem sabe fazer outra coisa, porque julga que assim é que deve ser.
Contudo há um outro modo de fazer jornalismo e afinal é o Correio da Manhã, "o pasquim", a folha de couve populista e desprezível quem ensina estes mestres do malabarismo.
Ontem mesmo a notícia sobre o tal governante era assim apresentada. É ler para perceber como se poderia comunicar o que tem interesse e ao mesmo tempo acentuar o ar de "escândalo" que é marca do Correio da Manhã. Lendo bem a notícia não há escândalo algum. E se o há reside noutra circunstância: a de o BNP Paribas ter a receber por tarefa quase idêntica à do tal governante, 15 milhões de euros, mais comissões se tudo correr bem.
Este escândalo, por motivos misteriosos escapou ao jornalismo do Público. Tal como o do actual primeiro-ministro em exercício, António Costa.
E por isso fica o desafio que é para retomar: para quando uma investigação jornalística aos rendimentos conhecidos do actual governante e à situação concreta dos direitos de autor pela participação no programa de tv Quadratura do Círculo? Para quando cair em desgraça, daqui a uns breve meses? Este assunto "agora não interessa nada"?
Irá o Público fazer como fez aquando do caso inenarrável da licenciatura de um primeiro-ministro, com os episódios rocambolescos que apenas foram descobertos por um simples blogger?
Este jornalismo de referência é só das causas fracturantes da esquerda ou afinal a expressão "watchdog", que até um professora do género Judite de Sousa saberá o que é, serve apenas para adornar princípios esquecidos?