sexta-feira, outubro 07, 2016

Como foi possível este engano permanente ao longo de 40 anos?

Se aquilo que ocorreu em Portugal entre 1974 e 1976 se revela uma perfeita loucura que trouxe a primeira bancarrota ao país, tal entendimento está longe de ser pacífico e consensual.

No pós II guerra mundial nenhum país da Europa ocidental foi sujeito a experiências político-sociais sequer parecidas.
Nenhum país teve a sua economia nacionalizada em mais de dois terços, com a banca e os seguros nacionalizados e os seus principais capitalistas e empresários escorraçados do país como fascistas e reaccionários, sendo obrigados a refugiarem-se noutro país, para escapar à prisão por crimes fora do catálogo penal e portanto fruto do puro arbítrio da época.

Isto que deveria fazer soar todas as campainhas de alarme teve apenas um efeito deletério, sendo tais fenómenos integrados socialmente como muito naturais e quiçá inevitáveis.

Pior: nos meses e anos que se seguiram a tais barbaridades politico-sociais que nos destruiram como país, tal como éramos, muitos que tinham responsabilidades políticas por via eleitoral e representativa, não só integraram tais mudanças como se recusaram a mudar fosse o que fosse, a não ser passados mais de dez anos, em modo imperfeito e que nunca possibilitou a recuperação do modo de funcionamento da Economia que tínhamos.
As privatizações dos anos noventa foram um remendo sofrível num tecido dilacerado para sempre pela Esquerda comunista e socialista.

É preciso recordar que o partido Socialista se formou enquanto partido, no ano de 1973, algures na clandestinidade de um país estrangeiro e aí concitou um acordo político com o PCP, também clandestino, em Setembro de 1973, no sentido de envidarem esforços conjuntos para "derrubar o fascismo" que entendiam existir em Portugal, com Marcello Caetano. Nas páginas da revista Observador, abaixo publicadas é explicito o sentido dessa propaganda.

Nas eleições de 1973 a Oposição era formada também por pessoas dessa Esquerda e que tiveram liberdade, embora limitada, de propaganda política.

De repente, em 1974 tudo mudou radicalmente e parece que aqueles que estavam nessa altura na ribalta política condescenderam com os propósitos da Esquerda em conduzir os destinos do país para onde acabaram: bancarrota atrás de bancarrota.

Expresso 16.11.1974:

Expresso de 12.4.1975:



 Expresso 18.10.1975:


 Dir-se-á que houve a Fonte Luminosa e Mário Soares que se opôs ao avanço comunista e é verdade.

Porém, as razões têm a ver essencialmente com isto: preservação do partido Socialista que corria o risco de também ele ser devorado pela Revolução. A primeira tentativa séria foi esta e por aqui se vê que Mário Soares percebeu o que iria acontecer:

Jornal Novo 22.5.1975.



Porém, passado o 25 de Novembro Mário Soares e o PS não se demarcaram economicamente do que o PCP  tinha realizado e em Julho de 1978 o O Jornal organizou uma série de conferências acerca do nosso futuro. Mário Soares alvitrava assim: a Economia continuou de rastos e sem remédio, até dali a dez anos, altura em que as grandes empresas nacionalizadas já se tinham transformado em "elefantes brancos" sem que tivesse sido devidamente apurada a responsabilidade do descalabro. O PCP diz que foi a má gestão de quem foi nomeado pelos governos socialistas e social-democratas...


O que é verdade, em parte, como já se fazia notar no O Jornal de 11.3.1977:





 Para se entender e contextualizar o que ocorrem em menos de dois anos, entre o final de 1973 e 1975 talvez seja necessário ler outras opiniões que não as de Esquerda que tem elaborado uma narrativa derivativa que ainda hoje tem curso livre.

Como é que uma figura agora na berlinda explicava ao Semanário de 18.4.1984, dez anos depois do golpe de Estado, o que tinha sido o "fassismo" economicamente?

Assim, e este é o relato oficioso ainda hoje:



Porém, havia quem pensasse e escrevesse de outro modo e com outra perspectiva:





A questão que hoje ainda se coloca é determinar com precisão possível quem são os responsáveis por sermos, ainda hoje o país mais atrasado da Europa? E quem nos conduziu a este local infecto?


Para mim foi esta Esquerda que nunca saiu de cá e continua a infectar-nos periodicamente com ideias erradas sobre a Economia e a vida social.
E conseguiu algo notável: convencer uma boa parte do eleitorado que tem razão no que diz. Em nome de uma solidariedade com os mais fracos e desprotegidos. Este discurso tem pegado quase sempre, ao longo destas décadas.


22 comentários:

Unknown disse...

Excelente post.

Miguel D

Unknown disse...

A realidade descrita pelo José revela um problema mais profundo: a total incapacidade de afirmação da 'direita' ao longo da história, pelo menos desde 1834. Só 'a sombra de Salazar e sempre 'a espera da sua orientação, conseguiu construir algo.

Miguel D

Floribundus disse...

os més e restantes sociais-fascistas do ps arrombaram a gaveta do boxexas

são tão anticapitalistas como o be e o pc que tem necessidade de dizer que é português

o beijoqueiro dirije o funeral
a direita leva o balde da cal
não há dinheiro para o crematório laico

Floribundus disse...

hino da geringonça

Quando sono solo
E sogno all'orizzonte
E mancan le parole
Sì lo so che non c'è luce
In una stanza quando manca il sole
Se non ci sei tu con me, con me
Su le finestre
Mostra a tutti il mio cuore
Che hai acceso
Chiudi dentro me
La luce che
Hai incontrato per strada

josé disse...

A direita não precisa de se afirmar muito. Afinal na Europa não é muito precisa tal afirmação.

O que é estritamente necessário é denunciar o predomínio da Esquerda e o mal que fizeram ao país desde há 40 anos.

E não é preciso ser de Direita para o fazer.

Estou certo que se estivéssemos em França, um Jacques Juillard já o teria feito inúmeras vezes e não e de direita.

O engano ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito a nós tem durado tempo demais.

A paixão transformou-se em amor assolapado pelas ideias erradas.

zazie disse...

Excelente post, José.
Estão aqui os factos e as ideias e basta ler.

Agora o que eu pergunto é o que se passou da AD para cá. Por que é que nessa altura ainda havia quem votasse e apoiasse algo diferente.

Onde estão agora? Dentro do Estado, suponho e são PS, a começar pela juventude.

josé disse...

O problema é que quem lê o Guterres em 1984 não lê o Sapateiro da mesma altura.

E quem acredita na narrativa esquerdista sobre o que se passava em Portugal antes de 1974 está condicionado a aceitar o que veio depois. E este nó não se desfaz.

josé disse...

Para se ver claramente a diferença que é subtil na argumentação mas pesadíssima de significados e consequências sobre as noções da Economia real, é preciso ler a polémica que António Champallimaud travou com o guru do Bloco de Esquerda João Martins Pereira em finais de 1974.

Já publiquei aqui e vou repetir porque é muito importante.

Bic Laranja disse...

O artigo de Guterres é pueril. Música de lugares-comuns para embalar meninos. Reclama-se subliminarmente sério por fugir ao «simplismo estéril» por analisar as «grandes linhas mestras», superficialmente. Fogachos de rhetórica barata. E vai por aí. Lugares-comuns estafados a inculcar a ideia certa nos simples com uma ladainha.
Sines. O paradigma dos elefantes brancos que fracassou por engano de planeamento, com base em crude barato. O engano é que o crude encareceu porque Cabinda se foi no pacote da Revolução. Fassistas duma figa que não planearam isso.
Cumpts.

zazie disse...

E quanto mais tempo passa mas o mito se instala e propaga e, entretanto, mais gente vai vivendo a vidinha nesse encosto.

Não fosso o encosto e a "narrativa" não tinha tanto adubo com verificação satisfatória q.b.

josé disse...

Chegamos ao fim de contas e parece que verificamos o seguinte:

As explicações para as crises e bancarrotas são sempre políticas e nunca técnicas.

A Esquerda tem horror à técnica e ao senso comum e prefere a política de ideias feitas.

Guterres em 1984 é o mesmo de hoje. Como era em 1973.

A esquerda socialista nunca muda porque se move em paradigmas estanques e só por força de certas realidades se adapta a soluções que aparentemente são contraditórias.

Miterrand e Mário Soares são os melhores exemplos.

josé disse...

Guterres, como dizia o falecido Sousa Franco foi provavelmente o pior primeiro ministro desde o tempo da rainha Dona Maria...

E aparentemente era o melhor...

zazie disse...

Eles não mudam. Isso é certo porque aquilo é uma religião- vivem da fezada.

A questão que eu coloco é outra- o motivo pelo qual ainda tivemos uma AD e para onde passaram esses votantes que não têm de ter a cartilha por dogma a atraí-los para outro lado.

zazie disse...

Quanto a eles, a única coisa a fazer é mostrar a vida que levam e como a conseguiram e confrontá-la com os dogmas que apregoam para os outros.

Sempre que faço isto, calam-se imediatamente.

E outra coisa- cada vez há mais gente para calar desta forma.

O que leva à questão que eu coloco- apesar de tudo, há mais maralhal a beneficiar por encosto. E esse encosto tem vindo a aumentar.

Bic Laranja disse...

O artigo de Sapateiro devia ser esfregado nas ventas dos abrilinos, quando não enfiado-lhes pelas goelas abaixo. Resume tudo quando diz das contas. E é claro sobre a origem do capital: o investimento estrangeiro foi uma pequena fracção e ocorreu sobretudo de 60 a 65. Vou imprimir o artigo e enfiá-lo bem dobradinho nas págs. das conclusões da biografia de Salazar do Filipe Ribeiro de Meneses, porquanto este embusteiro dá por lá como adquirida e definitiva a sujeição ao capital estrangeiro dos anos 60 em diante por falta de poupança nacional.
E notai que o P.N.B. é o valor dos factores de produção nacionais dum dado país independentemente do território onde estejam localizados enquanto o P.I.B. (bitola de internacionalistas, que os E.U.A. não usam) é meramente o valor da produção num dado país independentemente da nacionalidade dos factores de produção.
Qual o P.N.B. português hoje? Que factores de produção há nas mãos nacionais?...

Cumpts.

Bic Laranja disse...

E do investimento com finaciado por capital estrangeiro ocorre-me Cabora Bassa, que foi paciente e sossegadamente paga por Portugal até aos anos 2000 e quê — 13? — após o que foi magnânimamente passada à Frelimo.
Para ser entregue no pacote da descolhonização a ter-se-iam visto os entreguistas a braços com a banca internacional pela cobrança imediata do empréstimo a Portugal. — Ou queriamos lá ver os nossos generosos entreguistas a remeter financeiros internacionais para a Frelimo por causa da dívida...?
Cumpts.

josé disse...

Isto precisava de ser dito num Prós & Contras sem a idiota da Campos Ferreira.

Mas com encenação a preceito para captar a assistência e audiência.

O único capaz de o fazer seria o José Gomes Ferreira. Se quisesse...

josé disse...

Há mais gente a saber isto em Portugal. João Salgueiro, por exemplo.

Mas não fala porque não se quer comprometer por causa dos que lhe dão a viver a vidinha.

josé disse...

O que se passou desde a AD até agora foi mais do mesmo: o Bloco Central nunca esteve verdadeiramente interessado em devolver ao país o que lhe foi retirado em 1975.

E foi muito, muitíssimo que nunca mais foi restituído. E não falo de capital, apenas.

josé disse...

Depois da morte de Sá Carneiro surgiu um sistema que ainda hoje é o que existe.

Serve a que se serviu dele durante estas décadas. Ao povo não serve mas as tv´s e media em geral ocupam-se em manter o mito e em enganar.

O único que hoje em dia fura o sistema, mas pouco, é Passos Coelho.
Mas continua a ter ao seu lado os marcos antónios e miguéis relvas. É teimoso nessas amizades e isso é fatal.

Maria disse...

Os "entreguistas" - fabulosa e acertadíssima designação que o autor do blogo Bic Laranja aplica aos vendilhões da Pátria e aos políticos corruptos que nos desgovernam há tempo demasiado. Verdadeiros entregadores/traidores foi o que efectivamente todos eles foram e são. E o mais dramático de tudo é que os traidores à Pátria que ainda estão vivos continuam a andar por aí felizes e contentes com a tragédia que provocaram ao País e aos portugueses. E isto não se lhes pode perdoar. Eles terão o castigo que merecem, se não ainda em vida será após a morte, porque da Justiça Divina ninguém escapa.

Mas o que me leva a escrever hoje é um assunto que reputo de primordial importância e já há imenso tempo que o estou para fazer mas até hoje não vi ninguém pegar nele. E agora, aproveitando o adequado adjectivo/substantivo "entreguistas", foi ter lido há alguns meses que o Estado português 'tinha oferecido'(!!???) o tesouro fabuloso de milhares de moedas d'ouro e outras preciosidades encontradas num navio português, creio que do séc. XVI, naufragado ao largo da costa da Namíbia. A propósito desde mesmo assunto, vi há poucos meses uma entrevista dada a uma televisão por um responsável pela guarda deste tesouro e o que ele revelou foi uma notícia extraordinária. Este responsável honesto e digno, disse a um jornalista que o interpelou sobre o destino do tesouro (guardado convenintemente, como ele bem frisou), que o Estado português o tinha "oferecido" à Namíbia, mas que ele, tesouro, "continuaria bem guardado até o Estado português decidir reclamá-lo visto ser algo que lhe pertence por direito". Este responsável do Governo namibiano teve quanto a mim uma das mais prudentes e íntegras respostas que qualquer pessoa nas suas circunstâncias seria capaz de produzir demonstrando que existem pessoas neste mundo que, embora na posse de tesouros fabulosos que poderiam cobiçar e deles se apoderar de moto proprio ou por interpostos políticos/governos corruptos e gananciosos de tesouros e/ou fortunas alheias, desprovidas de interesses pessoais e de uma seriedade e honestudade a toda a prova, são seres únicos dignos dos maiores encómios. governamentais. A integridade que este valoroso namibiano demonstrou foi comovente, certamente produto do povo nobre do qual é originário. Ouso repetir o que disse este homem honrado, seguindo as ordens recebidas pelo seu igualmente digno governo: "Este tesouro continua à disposição do Estado português até o este o reclamar" (cito de memória, não sei se as palavras foram exactamente estas, mas traduzem o que ele disse).
(cont.)

Maria disse...

(Conclusão)

Quero aqui lavrar um protesto e simultâneamente uma reivindicação urgente, até por ser este um dos espaços blogosféricos mais lidos no País, a par de mais alguns dos poucos onde tenho a honra de comentar e nos quais tenho a intenção de fazer o mesmo e que é o seguinte: dizer alto e bom som que os governantes "deste" regime/sistema nosso - saído de um golpe de Estado e contra toda a evidência de que nunca teria chegado a governar o País tivesse ele na devida altura consultado o querer dos portugueses - e os seus respectivos e corruptos dirigentes, NÃO TÊM LEGITIMIDADE PARA DECIDIR O QUE QUER QUE SEJA que diga respeito ao Povo português e muito menos SOBRE ESTE TEMA importantíssimo, no caso um tesouro incalculável QUE É PERTENÇA INILUDÍVEL E INQUESTIONÁVEL DO POVO PORTUGUÊS E NUNCA DE UM PUNHADO DE TRAIDORES QUE SE ALCANDORARAM AO MAIS ALTO CARGO DE UMA NAÇÃO QUE OS REPUDIARIA liminarmente CASO TIVESSE TIDO VOTO NA MATÉRIA através de um referendo, o que à partida lhe foi sonegado por justamente os traidores saberem de antemão qual seria o resultado ou seja, totalmente a seu desfavor. ESTE TESOURO FABULOSO, que continua sob tutela do governo da Namíbia, DEVE REGRESSAR AOS COFRES DO BANCO DE PORTUGAL O MAIS RÀPIDAMENTE POSSÍVEL e sem a mínima desculpa da seita/governo português que o quer 'oferecer à força' àquele país.

Peço aos portugueses de bem e são/somos milhões, que se insurjam através de grandes e patrióticas manifestações, por comentários blogosféricos cáusticos, em artigos e crónicas contundentes em jornais e revistas de referência, telejornais, etc. É imperioso que os portugueses se batam contra mais um crime de lesa-pátria, a juntar aos milhares já perpetrados pela seita que nos governa, crime que está em vias de ser cometido pelos mesmos políticos corruptos que não têm a mínima noção do que significa ser uma Nação Nobre, Independente e Soberana e menos ainda dá qualquer importância do que é ser-se um Povo orgulhoso dos seus leais ancestrais e da sua heróica História milenar. Estes governantes falsos e anti-patriotas que temos vindo a suportar e a sustentar há tempo demasiado, trabalham 24 horas por dia para um governo mundial não eleito e não para aquele que clamam cìnicamente ser o seu e fazem-no hipòcritamente desde há quarenta e dois anos bem contados, isto em lugar de honrar e defender intransigentemente os interesses dos portugueses e do país dentro e fora de Portugal. Pelo contrário, andam a traí-lo desde então e continuarão a fazê-lo enquanto não forem travados nos seus diabólicos intentos. E não é que, perante este desaforo governativo em que vegetamos, temos um povo africano que dá lições de integridade e grandeza aos nossos reles governantes, demonstrando por meias palavras que os Estados se regem por leis internacionais estabelecidas desde há muito, devendo ser respeitados nos seus direitos bem como na sua integridade territorial e política.

Aproveitando a frase que os patriotas norte-americanos utilizam para pedir aos europeus que acordem do marasmo em que se encontram face às contínuas agressões políticas externas ao seu Continente, digo eu: portugueses ACORDEM! Acordem por amor de Deus e imponham os vossos/nossos direitos perante casos escandalosos como este que os nossos governantes tentam resolver por sua conta e sem consultar os portugueses (sabe-se lá se não estará nos seus planos ao "oferecerem o tesouro à Namíbia", deitarem-lhe as garras logo que encontrem meios - estes já eles terão há muito - e a oportunidade óptima d'assaltar por interpostos gatunos (a seu mando) o Banco em que aquele se encontra, ficando imediatamente ilibados de qualquer culpa..., como aliás aconteceu ao roubo mais do que suspeito das jóias da Corôa portuguesa na Holanda...) e outros similares tão ou mais graves. Por mim, utilizarei todos os meios que estiverem ao meu alcance. Um deles é escrever e escrever até me cansar de teclar.

O Público activista e relapso