Rui Pereira, agora komentador de serviço permanente na CMTV,
em horário nocturno, aliás com grande mérito porque sabe do que fala, teceu
ontem um comentário fugidio acerca dos bloggers e do tempo que gastam na
ocupação.
O tema do assunto era
o famigerado Abrantes que Rui Pereira conhece sob o apelido de Peixoto, com
quem falou algumas vezes, quando o mesmo seria assessor algures num ministério
do tempo do primeiro governo de Sócrates. Aí, por 2006-2007, referiu Rui Pereira,
quando andava em trabalhos preparatórios para a revisão das leis penais que saíram
depois, em consequência directa do terramoto do caso Casa Pia.
Como se sabe, Rui Pereira foi um dos artífices silenciosos
da manobra engendrada para prevenir ocorrências
futuras com tão elevado grau de magnitude política. Uma das medidas avulsas
consistiu em proteger o primeiro-ministro de escutas espúrias por polícias a
mando do MºPº e JIC de primeira instância. Ficou tudo entregue aos cuidados do
STJ que é pessoa colectiva de bem e distinta dos flibusteiros que não respeitam nada nem ninguém. Enfim,
adiante.
O comentário em causa referiu-se com a brevidade suficiente
e a imponderação necessária ao tempo que as pessoas que escrevem em blogs
gastam nessa tarefa.
Subliminarmente entende-se que quem trabalha, mormente os
funcionários públicos não devem ocupar o seu tempo de trabalho a escrever nessa
coisa que como dizia o saudoso Pinto Monteiro…”é uma vergonha”. Nada que se
pareça com almoços regulares com advogados de prestígio que defendem entalados
de prestígio ainda mais relevante e que
o MºPº anda a investigar. Ou outras ocupações mais dignas que essa e teria uma miríade de exemplos que me escuso a elencar. Enfim, outra vez e já são duas.
É recorrente ouvir essa farpa agarrada a súbita incompreensão de quem não escreve e apenas lê, para
quem escreve e ocupa tempo precioso a fazê-lo na tal “vergonha” que é a
internet dos blogs e afins. O tempo de leitura é um tempo diverso do da escrita
e este é mais pernicioso que aquele destinado ao escrutínio do tempo de quem escreve.
Subentende outra coisa mais propícia à crítica de inspector:
o tempo de funcionário público não é para desperdiçar em coisas privadas ou,
pior, publicamente inadmissíveis por implicar um roubo de tempo à função e ao
múnus. É um peculato mental o que se imputa ao funcionário faltoso. Rouba tempo
precioso à função para o gastar em ocupações estranhas e até nocivas à
reputação do funcionário ideal, modelo de destino em geringonça afinada.
Rui Pereira não é pessoa destituída e deveria, tal como
outros, falar por si. Não seria capaz de escrever com a frequência diária de
vários postais, em blogs? E fazê-lo sem ser a horas mortas, de noite ou em
noitadas de insónia, e portanto sem
roubar tempo ao horário de trabalho efectivo? Pois será pena essa confissão de impotência.
Poderia sempre experimentar a hora de almoço, depois de uma sandes rápida e
ainda a sujar o teclado com molho de tomates.
Quem escreve em blogs fá-lo-á por diversos motivos. Cada um
deve outra vez voltar a falar por si. De Rui Pereira sabemos agora que conhecia
um dos Abrantes da Câmara Corporativa. Falou com ele meia dúzia de vezes,
foi-lhe apresentado por um advogado e trabalhava perto de si, num local
conveniente num ministério qualquer da Administração Pública. Nem se lembrava
bem do nome ( caramba, 60 anos e já assim?!) e enfim, nem sabia que alguém lhe
pagava um ordenado igual ao que auferiria em funções públicas para fazer o
trabalho de sabujo habitual. Sobre este desconfio que Rui Pereira sabia porque
confessadamente era leitor de blogs, dos tais que o mesmo não compreende como é
que os autores arranjam tempo para escrever. No caso, nem era a feijões...mas na maioria é apenas isso. Um hobby como outro qualquer. Há quem prefira outros, como olhar bovinamente para o tempo a passar.
Olhe, Rui Pereira: até aqui demorei meia hora a escrever
isto, cronometrado e incluindo o fazer o café para o pequeno almoço.E tomá-lo, quase frio, acompanhando uma maçã quase portadaloja ( royal gala de Alcobaça).
A seguir só me resta dizer o seguinte: os funcionários
públicos são em Portugal muitos e muito por causa dos amigos políticos de Rui
Pereira. Reduzindo e restringindo aos juristas da função pública, incluindo os
magistrados, o seu tempo de trabalho pode ocupar-se de formas diversas.
Alguns nem horário fixo têm porque até trabalham em casa (
magistrados de tribunais superiores por exemplo). Esses gerem o tempo como
sabem e podem. Consta que alguns, muito mal.
Os professores universitários da área jurídica também é um
pouco assim: fazem do seu tempo o que verdadeiramente querem. E assim estará
bem se assim for, sem prejuízo para ninguém. E ainda podem trabalhar em horário nocturno, pago principescamente como tal.
Então para quê chagar subliminarmente pessoas que gerem o seu
tempo de modo que sabem e podem, sem prejuízo para o erário público ou a
respectiva função?
Depois de passar uma noite a pensar nisto cheguei a uma
simples conclusão: pura hipocrisia ou puro despeito. Ou outra ainda, que remete para uma das últimas palavras dos Lusíadas. Nada recomendável,
qualquer uma das opções.
Sete minutos mais foi o tempo que isto durou.
Enfim, pela última vez.
91 comentários:
o pior dos funcionários públicos é a incompetência porque muitos deles, vindos dos partidos,
têm necessidade de inventar licenciaturas
o sector privado paga e não bufa
tal outros profs drs
está a pedir um trato esperto sobre os seus comentários
não o oiço, desligo o som
JOSÉ
continue em boa forma oa AMIGOS precisam da sua presença na tertúlia virtual
os rb afogam-se no lago do CG
'PORRADA NELES' e ...
como verificou a história do avental pendurado na Porta era pura brincadeira
o outro ofereci-o a BNP para me limpar da sujeira
um velho Amigo falecido há quase 20 anos passava as noites a escrever sentenças enquanto fumava 3 maços de tabaco
dizia que não fazia ideia do horário do 'pessoal dos pareceres' pagos a bom preço
A propósito de ocupação de tempo, como jurista pode-me dizer se a ocupação do tempo dos funcionários da CGD a elaborar um parecer para o novel presidente da da casa não ter que apresentar os SEUS rendimentos pessoais não será peculato?
O José escreve sempre tudo em directo e redige cada vez melhor.
Entretanto, tomei nota que afinal sempre era assessor. Grande monco para a de Formentera
Ah, que engraçado. Ele disse que vinha aqui. ehehehe calcanhar de Aquiles, pois
Afinal o José sempre reconhece algum mérito no Dr. Rui Pereira - "aliás com grande mérito porque sabe do que fala" 1º parágrafo. Honra seja feita ao Dr. Rui Pereira por ter dito com todas as letras ser um visitante diário do Blog "portadaloja", uma boa forma de dizer que o Blog do José é um, entre milhares, que merece uma visita diária. Aparte outros aspectos menos abonatórios revela consciência de que ainda há quem sabe o que diz, fala e escreve.
"A propósito de ocupação de tempo, como jurista pode-me dizer se a ocupação do tempo dos funcionários da CGD a elaborar um parecer para o novel presidente da da casa não ter que apresentar os SEUS rendimentos pessoais não será peculato?"
Gostaria de poder responder se essa gente fosse capaz de justificar um tempo que custou 3 milhões ao erário público-privado, entregues a uma empresa de consultadoria que se pronunciou sobre um outro parecer.
Isso é que me parece verdadeiro peculato. Crime.
Sempre disse de Rui Pereira o que agora digo. Mas já disse coisas em desfavor e críticas, como no caso da "ordem para matar" há uns anos. Aliás almocei uma vez com ele e outras pessoas, há uns anos e fiquei com boa impressão.
Rui Pereira faz um trabalho inestimável na tv porque é pessoa que sabe do que fala. Pena é que não fale do que sabe como deveria em alguns casos.
Por exemplo este do Sócrates.
E não creio que Rui Pereira seja actualmente visitante desta Porta. Foi nesse tempo, eventualmente elogo após a Grandelojadoqueijolimiano, esse uma grande loja que merecia o nome e reputação, animado por dois amigos que já não vejo há uns tempos.
Grande distração... Julgava que que a GLdQL era animada apenas por si...
na minha juventude 'P da L' era local de amena cavaqueira, por vezes com banco de jardim
net
A Casa da Porta da Loja, localiza-se no Lugar de Parada, junto aos antigos Paços do Concelho, tribunal e cadeia do extinto concelho do Lindoso. Junto a esta casa existiu em tempos uma mercearia (loja) onde pela proximidade aos Paços do Concelho, os habitantes da freguesia se reuniam para debater os seus problemas. Este local ficou conhecido como “porta da loja” dando nome a esta casa.
net
Maçã Porta da Loja ou
espécie Malus domestica
net
Casa da Porta da Loja, localiza-se no Lugar de Parada
porque escolheu este nome?
Está escrito no primeiro postal que escrevi aqui, já no longínquo ano de 2003:
"Porta da loja" é o nome que no Alto Minho se dá a um certo tipo de maçã: pequena, redonda e jeitosa. Tal como a mulher se quer...
Aliás, maçã e mulher são assunto bíblico e de mitologia. Por isso, nada de admirar se aqui aparecer, de vez em quando, o pomo da discórdia, em forma de opinião.
Espera-se que o copista transcreva bem, sem calinadas e não tresleia. Um copista, limita-se a passar a escrito ideias alheias e a reescrever o que outros, mais originais, disseram antes. Um copista, sendo bom amanuense, escreve o que o dono da loja entender por bem.
E por aqui se afere a responsabilidade dos escritos, directamente sindicável no posto de e- mail, à entrada da loja.
"Loja" é termo caseiro. Dantes, "loja", era uma arrecadação térrea, nas casas de lavradores que servia para guardar o vinho; o azeite; o milho e o feijão; alfaias e muitas coisas mais que um copista só lembra por já as ter visto.
Não é, por isso, lugar de comércio ou de conspiração secreta.
É metáfora de lugar onde se coloca o produto do trabalho, intelectual, de recolha e reflexão. E os desabafos e opiniões diletantes, claro!
José disse ""Loja" é termo caseiro. Dantes, "loja", era uma arrecadação térrea, nas casas de lavradores que servia para guardar o vinho; o azeite; o milho e o feijão; alfaias e muitas coisas mais que um copista só lembra por já as ter visto."
A casa dos meus Avós maternos ainda tem essa divisão no rés-do-chão da habitação, isto no concelho da Póvoa de Lanhoso em pleno coração do Minho. Cresci com a vivência desta divisão onde, por exemplo, se armazenava o vinho em pipas. A casa dos meus Avós paternos - em Cabeçeiras de Basto - idem, mas com o decorrer dos tempos veio a perder a sua ancestral função doméstica.
Tal como a dos meus avós...e por isso escolhi esse nome. Porque me lembro do cheiro que não há agora em muitos lados.
Um cheira a campo, vinho, mosto, maçãs, frutas e outras coisas de infância.
Só conhece isto quem já viveu e experimentou um lugar desses.
Portanto, não sendo esotérico tem um sentido que só é reconhecido por quem viveu, na medida em que não é passível de descrição exacta.
Na Beira Alta também é assim que se chama.
Em Trás-os-Montes não sei, já me não lembra ao certo... Mas ainda lá cheguei a dormir em casa que por baixo alojava os animais.
Desconfio que vem daí o nome...
Há quem diga que vem da loggia italiana mas é mais o sobrado.
Na Beira Litoral idem.
Cumpts.
O Grande Dicionário elaborado com base no de Morais (Quid Novi, 2002) define a loja como pavimento térreo de qualquer de qualquer construção, especialmente destinado a animais.. Casa térrea. Cocheira. Em Trás-os-Montes, pocilga. No N. do Brasil, ânus das cavalgaduras.
O mesmo dic. dá lógea como sinónimo.
José Pedro Machado, no Dicionário Etimológico, diz que vem do francês «loge».
No sentido primitivo acha-se documentado em latim bárbaro em 1209 e em Português em 1338: «Eu lhys deuo assinaar [=assinalar] logar em que morem e em que possam fazer loia de comum e outras casas...»
O sentido de casa de comércio documenta-se no séc. XVI com a forma «lógea».
A variante popular «loge» deriva da forma portuguesa «loja» e não do étimo francês.
A loja maçónica provém-nos, por via do francês «loge», do ing. «lodge». Remonta neste sentido ao século XVIII.
Quem defende a ideia que a loja vem da loggia é o José Custódio Vieira da Silva na dissertação de doutoramento- Paços Medievais Portugueses
Eu penso que a loggia sempre foi a galeria- o equivalente aos staus. A loja não é o mesmo.
Mas alojar, fazer loja, fazer feira, etc, tem a ver com os estaus- as arcadas que derivam da tradição greco-latina. Talvez por terem utilidade semelhante, se chamaram também lojas ao sobrado familiar.
É uma mera hipótese e nunca me convenceu a tradução do José Custódio.
A casa de comércio, no sentido de "lógea" é a taberna. As tabernae com alpendre sim- são a tradição da habitação das insulae entre os romanos. Pode haver relação por aí.
A lógea do séc. XVI é dum texto que se refere a Quíloa.
O José Pedro Machado finge-se aos textos portugueses. A loggia parece ausente. Hei-ver os estaus.
Cumpts.
Cinge-se.
Os restos dos estaus existem em todas as terras porque depois foram adaptados às praças medievais
Tem aqui o que resta dos de Tomar
Já lhe mostro numa gravura
Estau provém de «hospitale». Tem sentido primeiro de albergue, pousada. Por extensão parece que veio o povo de Lisboa a referir o Hospital Real de Todos os Santos como «os estaus de a par de São Domingos», ambos a par do paço dos... Estaus, tudo no «Ressio».
Em boa verdade o Hospital Real tinha muitas arcadas... Mas não seria disso.
Eram as stoas. Transcrevo o que deixei algures para outra pessoa:
Stoas
Pórticos que se encontravam na praça pública dos gregos- na ágora. Depois transitam para o fórum romano.
Veja aqui:
http://www.iep.utm.edu/stoa/
A filosofia estoica chama-se assim,pelo facto dos discípulos de Zenão de Cítio (séc. III aC) se reunirem nestes pórticos que existiam na ágora e que tanto podiam estar á volta de templos, como do mercado.
Os nossos estaus- arcos em torno dos edifícios da praça e da igreja devem provir das stoas.
(tem imagem online da reconstituição dos estaus de Tomar no tempo do Infante. Creio que é nos templários ou algo no género)
Sim. Claro. Em toda a parte. Até com o terramoto se acabou por reconstruir essas estoas na Praça do Comércio.
Era junto delas que a vida da cidade se desenvolvia. Em Guimarães ainda lá estão as de pedra mas as mais antigas eram em madeira- E tinham ligação com o antigo bodo aos pobres que depois se transforma numa espécie de câmara. (as misericórdias são posteriores).
Mas conta-se que nesses estaus de Guimarães foram pintados todos os brazões do Reino. Quando era preciso saber quem era quem, estava lá a resposta.
Nas praças principais também se construíram os albergues que passam a hospitais e que eram os xenodochia. Espreite um no google e vai ver a semelhança. (singular- xenodochium)
Portanto, sim- tem toda a razãp- as arcadas do Hospital de Todos os Santos eram restos de tradição de stoas/estaus/xenodochium
Vai encontrar as velhas stoas na arquitectura alemã do nazismo e em toda a parte onde se recuperou a tradição romana.
Nós temos o Estádio de Monsanto que é uma maravilha e um tratado arquitectónico.
(não sei bem explicar a razão mas sempre me interessaram as stoas) É talvez a mais simples forma de delimitar uma praça e a urbanizar com o mais necessário.
E não é apenas tradição europeia. O mercado árabe é assim, mas com panos nas tendas.
Ainda mais que as estoas também me interessaram os passadiços entre paços e igrejas. E foi uma pena ter-se destruído tudo por não haver gente tão marada a interessar-se por pequenos detalhes aparentemente sem grande importância ";O))))
José Pedro Machado não é infalível. O prof. Almeida Fernandes muito o desmentiu na toponímia. Mas a etimologia de «estaus» além de verosímil parece atestada. Os Estaus do Rossio serviram de aposentadoria antes da Inquisição e, das gravuras que há não se lhe conhecem galerias nem arcadas.
Hei-de ver a sua remissão e o Corpus do Português. O que propõe tem nexo mas talvez requeira uma continuidade dos «fora» romanos que escavacados pelos bárbaros. E nas hespanhas ainda havemos de contar com a moirama...
Um bom quebra-tolas.
Que acabaram escavacados...
Eu não proponho. Isto está estudado. Apenas fiz resumo.
No único detalhe em que discordo do José Custódio é quando ele diz que a loja da casa - o sobrado, deriva da loggia italiana.
Agora os estaus estão mais que estudados. O palácio dos Estaus em Lisboa; os estaus de Tomar- a reconstituição feita nos anos 60, etc, etc. Isso tudo é sabido.
Os xenodochia serviam também para albergar os viajantes. Havia xenodochia juntos aos teatros romanos, por exemplo. Tudo isso está mais que estudado e as ligações andam por aí.
Mas existem variações. Os Estaus do antigo Rossio de Lisboa eram edificío com arcadas mas autónomo em relação ao hospital que também tinha arcadas. Como tinham todos- incluindo o paço da Ribeira como agora se pode comprovar nesta recente descoberta de quadros encontrados em Inglaterra.
estes
A rua dos Mercadores, possivelmente.
O que acabou escavacado foram os passadiços e esses sim, são um quebra cabeças em que ia partindo a minha.
eehhehe
Na gravura do Braunio, creio que a mais antiga, o que é tido por ser o Palácio dos Estaus não tem arcadas na parte da frente. Mas devia ter laterais.
Havia sempre arcadas. Até nas igrejas- para actos civis- por exemplo- o alpendre com arcadas para o alvazil fazer a justiça ou se tratarem de assuntos burocráticos. Dei com isso em Santa Maria do Olival de Tomar- desde tempos muito antigos.
Os arcossólios para as sepulturas, etc. As arcadas estão na base de tudo isso.
Para a origem greco-latina da habitação a melhor fonte é o Vitruvio. Está online e há versão portuguesa, traduzida directamente do latim pelo Justino Maciel.
J. de Castilho, no vol. X da Lisboa Antiga (2.ª ed., 1937) dá os três alçados do paço dos Estaus. Não tinha arcadas, como ´se já não viam em Bráunio. Parece-me conclusivo: chamar «dos estaus» a um edifício sem pórtico, galerias nem arcadas, demonstra que este sentido não está no vocábulo.
De feito, os textos portugueses dão «estau» referindo-se sempre e só a casas de pousada. Parece provir de «hospitale», por «hostao» — hoje já vamos variando de novo com «hostel», não é verdade?!...), mas não custa crer que de «hostáo» a «estau» haja uma influência de «estar» cuja semântica não anda longe de pousar...
Que tudo radique no proto-indo-europeu stā- que tanto subjaz ao grego «stoa» como ao latim sto, stas, star, steti, stauts é que, como diria o velho cronista, é cousa tam remota que certidom nom pode haver.
Mas também, como diz o outro, ausência de prova não é prova de ausência.
Cumpts. :)
Pois é. Também não sei se há apenas um étimo ou se todos se conjugam- as stoas; as loggiae, as lojas.
Agora- o alçado do Castilho é o do paço reconstruído depois do terramoto. Não é o medieval. O do Braunio mostra apenas de frente.
Uma coisa é certa- era lá dentro que estava toda a bicharada das descobertas- de elefantes a demais alimarias. Que estavam nos jardins mas não deviam entrar por porta apertada.
Uma coisa serão os étimos; outra a arquitectura. E a mais antiga é a stoa e houve-as para reis e para comerciantes. As lojas nascem das stoas.
O que faltaria era ligar os xenodochia aos estaus. O resto, o uso, até o Infante sabia para que servia quando os mandou construir em Tomar- lojas- venda de feira.
O xenodochium vai ser em França o Hotel-de-Dieu. Confira a estrutura e o pátio e vai ver a semelhança.
Quem nos diz que o dito Paço dos Estaus não se chamava assim por estar mesmo ao lado do hospital- que tinha estaus- e também sevir para alojar quem vinha de fora?
O que tem de ser conclusivo não é o nome que o palácio continua a ter depois do terramoto. É o nome que o Infante D. Henrique dá aos estaus de Tomar. Isso e a sua função.
Muito mais antigo estão documentados os de Guimarães e aí, sim- tem a uma praça delimitada por arcaria e ligações em madeira. E tudo isso se desenvolvia no largo da sé. Com o bodo aos pobres e depois o edifício civil camarário.
É a passagem do largo da sé para a praça da câmara que demarca uma mudança para uma época moderna- a do comércio a impor-se nas cidades.
O detalhe que eu não sei é mesmo o da loja de pequena habitação popular. Não sei se o nome foi dado por influência da loja pública- das tabernae ou apenas pela função de arrecadar os bens e guardar o gado, tal como serviam as arcadas - lojas- loggiae-stoas- públicas
Olhe- uma boa aproximação é a novilígua dos crimes de ódio. A malandra da xenofobia- é a hostilidade contra quem vem de fora.
Hostil- hostel- hospital e ficava tudo ali lado a lado no velho Rossio. Uns hostis convidados de honra; outros hostis a serem albergados com direito a tratamento e alojamento- nas lojas- loggiae das velhas stoas da ágora.
Os alçados são da pena de Mateus do Couto tal como era em 1634. Uma arcada referida por J. de Castilho era a do pátio interior primitivo.
É natural que a bicharada fosse metida nas lojas dos Estaus pois a sua função era de cocheiras.
De tal maneira que no lado N e NO, cresceu uma esterqueira que se estendia aquém e além da muralha fernandina (havia por ali um postigo) pela Horta da Mancebia (R. do Jardim do regedor). Há registos de queixas da imundície que grassou por lá.
O paço dos Estaus é anterior um meio século ao Hospital Real. Não faz sentido herdar-lhe a designação das arcadas.
Tem =aqui uma excelente discrição dos Estaus de Évora, pelo Túlio Espanca e com fontes do tempo de D. Duarte.
Confira a Crónica de D. João II e atente à passagem relativa à capela que existia e que pertencia aos Estaus com essa designação coeva:
«Capela alta quo ficou pertencendo aos Estáus, com a invocação de N.* S.ª do» Reis», e pela qual se ministravam os ofícios divinos aos presos)»
O paço dos estaus era anterior ao Hospital. Claro. E não herda do hospital o nome de estaus.
Herda da praça! Em todas as praças havia estaus- que derivam das antigas stoas/loggiae!
E daí tanto o D. Dinis como o D. Duarte ou o Infante D. Henrique constroem edifícios diversos nos estaus já existentes.
Estaus de comércio adossados à Igreja em Tomar- e com arcatura gótica pelo Infante. E outros bem mais antigos que apenas tinham colunas ou pilastras com entablamento e que eram a forma primitiva de construção urbana a criar uma praça.
Uma agora. Um forum.
Faltou o link: Estaus de Évora
Pense assim: Na Idade Média não se inventava nada a partir do zero.
Nada de nada. Nem mesmo depois. A tipologia de construção já existia. A mais antiga existia cá e em toda a Europa e era a ágora.
Até a tipologia das arcadas das igrejas foi copiada das stoas. Os claustros, idem. Só com o modernismo é que tudo apareceu inventado do nada.
Olhe- foi partindo deste princípio que eu fiz umas pequenas descobertas acerca da arquitectura religiosa. Não podia ter-se inventado cá o que não se inventava nos outros lados. E o inverso é igual- se havia noutros locais, era mais que óbvio que tinha de ter havido cá. Depois foi só procurar as fontes e saltou tudo. Foi uma maravilha.
ehehehe
Essa descrição do Túlio Espanca tem um manancial de informação.
Até fala do passadiço que foi construído e que unificava a praça com ligação de outras casas ao paço (nos estáus). E depois conta como mais tarde se fez arcaturas sobre estacas nesse passadiço.
Com balcões para o terreiro. Literalmente o mesmo que aparece nas gravuras da Rua dos Mercadores.
«enquanto as obras prosseguem nas faceiras da Rua do Raimundo c Praça, o correio àcerca do passadiço corre pela Chancelaria de D. Manuel e do Senado eborense sem solução definitiva ( 2<>). El-rei tratou do caso em 1503 e, estando Juiz de fora interinamente Fernão de Madurcira, foi lavrado um alvará dc posse ao dito Rui de Sande, sua mulher D. Guiomar e herdeiros, dando pleno direito do arco, espaço da cancela dos touros e casas da Praça Grande. Especificou-se neste instrumento, por parecer de dois mestres pedreiros, que o espaço do vão se devia conservar bem iluminado para que os toiros e quem os fosse lançar,
tivessem os movimentos bem livres. A altura mínima do arco seria a de uma lança, de homem de pé ou do cavalo (?) A abóbada seria tão alta,que pudesse andar um homem sem empeno, nos arcos (?), lançando os cabrestos fora. Testemunharam este alvará dc posse perpétua, Fernão
Alvares de Madurcira, cavaleiro da casa do Duque de Bragança, Vereador e Juiz da cidade no impedimento dc Pero Lourcnço; Vasco dc Pina, fidalgo da casa del-rci, Rui Dias Cotrim, vereadores; e Estevão Fernandes,escudeiro e cidadão; Amadiz Gonçalves, tabelião; Estevão de Airos e Pero Estaço, escrivão da Câmara Desta edificação, integrada agora nosprimitivos paços de D. Duarte »
A Crónica de D. João II, de Resende, refere os Estaus só e apenas com o sentido de pousada.
...
Resumindo:
Não conheço a arquitectura doutros estaus. Conheço os do Rossio. Não havia arcarias. Não havia as do Hospital Real para lhe darem o nome porque não havia o hospital. Se lhe o nome veio doutras hipotéticas arcarias do Rossio, como explica não haver referência a estaus na Rua Nova dos Ferros? A semântica de «estaus» nos nossos textos é sempre e só como lhe disse: aposentadoria. Por obrigação dela — ou por lhe fugir, tais os agravos dos forasteiros nos haveres de quem a tinha de prestar — há numerosos pedidos em côrtes. No tempo de D. Afonso V, o regente D. Pedro, em resposta, «determinava que em tôdas as cidades e vilas cercadas se fizessem estaos, uns pelas cidades, outros pelos particulares, cad' hum como lhe prouver e que outrossim os prédios se compusessem por forma que pudessem dar aposentadoria por dinheiro a homens e bestas que não coubessem nos estaos.»
Estaus e aposentadoria. Fora disto fico fora de pé. A Zazzie sustém-se melhor em águas fundas do que eu.
Cumpts. :)
Só este detalhe e estão lá as fontes de onde ele tirou a descrição da primitiva praça:
«O centro cosmopolita já era então no vasto terreiro da Praça Maior sobranceiro às torres de sólido aparelho visigótico e muro quebrado, coroado ainda por denticuladas ameias muçulmanas e casario esmagando o adarve, cm terras dos antigos fossos, as alcárcovas dos infiéis. Pequena fieira de pardieiros, aqui e ali, sem sucessão de continuidade, com arcos e pilares de granito sobrepujados por modestas câmaras de um só piso, salientes, com açoteias e balcões de grelhas, rótulas e ferros góticos recortados pela forja de mestres mouros. No tôpo do Norte, a mcdiévica igreja paroquial de Santo Antoninho, com campanário e adro vasto, ao lado da velha albergaria do Corpo de Deus, anichadas à sombra milenáriae magestosa do pórtico triunfal romano, com suas colunas, pilastras e frontão patinados pela vetustade. A Ocidente e no começo, a capelinha de Nossa Senhora»
Pois. É preciso conhecer a arquitectura de outros estaus. Eu pesquisei os de Guimarães e nem foi por causa deles. Foi por outro motivo relacionado com a Colegiada.
Agora quanto ao étimo não sei. Sei apenas que esta era a tipologia de todas as praças, tal como o Túlio Espanca também descreve a de Évora com restos dos suevos e romanos. Antes das obras de D. Duarte.
Mas as stoas eram aposentadorias. As stoas são a construção mais fascinante que os gregos inventaram e os romanos continuaram e chegaram aos nossos dias.
Acredite. Tudo com multi-funções e do mais simples que existe.
Quero apenas referir que parto de um ponto de vista diferente do seu.
O caro Bic Laranja parte de palácio que existiu no Rossio e dele quer retirar a arquitectura do mesmo e das praças.
Eu parto das praças e do que se construía nelas. Não havia paços em assim sem mais nada. Não era a tipologia do paço que fazia o resto. Era a sua inserção no centro de uma cidade que alterava a vida da cidade, como se confirma no estudo do Túlio Espanca.
E antes foram as igrejas. Há sempre uma construção nobre que dinamiza o espaço em redor. E a praça é o centro de tudo.
Ai, desculpe José este exagero.
A vergonha que para aqui vai. Agora é que se o Rui Pereira vem cá espreitar tem razão para dizer que isto dos "blogues é coisa de funcionários públicos uns desocupados"
ehehehe
Safo-me apenas porque não sou funcionária pública
":O)))))))))))
O estau de Nursia é que foi à vida. E isso é que é pena. Ainda pensava lá ir ver, tal como gostava de ir a Montecassino.
Pois foi. Eu também contava ir a Perugia no próximo Verão. Mas espero ir a Ravena e mais outros lados.
Essas terras da Umbria devem ser um espanto.
Entretanto, isto de estaus tem a sua piada porque os espanhois chama-lhes saguão, por via árabe. E os árabes chamavam-lhe istawa por via da stoa.
E eu não sei se os nossos estaus não são um termo aclimatado com a mesma origem.
eehehhe
O Bic Laranja deve ter razão em relação ao uso do termo. Os estaus seriam locais de aposentadoria mas, arquitectonicamente seguiram a tradição da construção das velhas arcadas das praças- as que derivam das stoas.
O mais curioso terá sido o uso comum que se dava às arcadas. E esse até em Tomar passa a ter o nome de Corpus Christi. O que significa que a prórpia procissão aproveita o espaço para a ronda. Tal e qual como acontecia com a função religiosa dos alpendres das igrejas- o nartex ou galilé.
A diferença tipológica entre um paço real próprio e estes feitos no centro da cidade com função mais abrangente e não apenas a estadia privada deve ser mesmo uma moda clássica de aproximação às loggiae.
A arquitectura renascentista recupera essa tradição e daí aparecerem todas as galerias, e pátios porticados em forma de U. O de Évora deve ter sido bem mais "moderno" que o do Rossio. Já tinha a praça bem definida.
Até porque os paços de Lisboa estavam na área no Castelo e depois é na Ribeira que se desenvolve.
Os palácios renascentistas passam todos a ter as varandas. A loggia alta à italiana, como a Torre de Belém e por aí fora. Até Paço de Arcos deriva disso e de servir de varandim régio.
Fiquei a matutar nisto dos Estaus e de onde vinha o termo, pois não pode ter sido inventado pela construção de um paço.
E deduzo, por comparação com a tradição de estalagens na Via Apia- de osti- e de oestearias e como tudo isso tinha a ver com locais onde se deixavam os animais e se fazia pouso- que tinham de existir antes da construção régia.
Dei com coisas engraçadas acerca de Santarém
E está por lá escrito com as fontes coevas coisas como estas:
Tendas-
Os mais importantes eram os pequenos estabelecimentos designados por tendas. No total de quatro (mais uma entrada de tenda), três eram sobradadas e a última térrea, estando também decidido o respectivo alteamento. As áreas, tomadas ao nível térreo, não iam além dos 12 m2, sendo a menor um verdadeiro cubículo com 4 m2. Distinguiam-se assim, pela exiguidade e autonomização, de outros espaços abertos ao comércio, como os pisos térreos das casas, ou lojas67, duas das quais eram «místicas em arcos»68
As áreas, tomadas ao nível térreo, não iam além dos 12 m2, sendo a menor um verdadeiro cubículo com 4 m2. Distinguiam-se assim, pela exiguidade e autonomização, de outros espaços abertos ao comércio, como os pisos térreos das casas, ou lojas67, duas das quais eram «místicas em arcos»68. MÁRIO VIANA 64 Uma delas, na «rua onde soía estar o hospital dos Fiéis de Deus, que é abaixo da cadeia» media 28 metros de longo e um de largo (fl. 8); outra, situada atrás das casas onde esteve o hospital de S. Martinho, tinha 21 por 2,6 m, e era parcialmente construída (fl. 9 e v
Estaus-
70 Sobre as estalagens do arrabalde vejam-se: Maria Ângela Beirante, Santarém medieval, cit., p. 116 (referências para 1452 e 1467), e Santarém quinhentista, Lisboa, [Fundo de Fomento Cultural], 1981, p. 76); Mário Viana, Os vinhedos medievais de Santarém, cit., p. 182 (referências para 1437-1441). O tombo de 1500 menciona uns «estaus» na praça da Ribeira, trazidos por Gonçalo do Rego, também enfiteuta do concelho (idem, ibidem, fl. 29).
Deve tratar-se de um sucessor do Gonçalo do Rego, nomeado alcaide dos homens do mar desta vila por D. João I e confirmado por D. Duarte em 1434, o qual lhe veio a conceder de emprazamento poucos anos depois vários bens neste local (Monumenta Henricina, ed. António J. Dias Dinis, Lisboa, Comissão Executiva das Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, Coimbra, 1962, vol. 4, nº 119; ANTT, Chancelaria de D. Duarte, liv. 1, fls. 222 e 227).
Tendas- lojas- sobrado
73 De facto entregava todos os Natais 1020 reais, sendo 820 por uma tenda sobradada de dois sobrados e pela tenda térrea a sobradar, e os restantes 200 pela outra tenda sobradada de dois sobrados, a qual tinha por baixo dois «esteios» (ANTT, Núcleo Antigo, nº 288, fl. 25 e v.).
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Acerca dos Estaus de Lisboa, acho que o desenho copiado da gravura do Braunio foi todo adulterado. Por comparação com as estalagens que existiam em toda a parte- tinha de ser um local junto à saída da cidade- a muralha, com as estrebarias e ospedarias. E as estrebarias de hospedaria desenvolviam-se num espaço de arcadas em grande páteo e eram abertas lateralmente para as carroças poderem circular.
Os Estaus de Lisboa devem ter aproveitado esses espaços existentes.
«A sul, no exterior da cerca, localizavam-se as cavalariças d’el rei, que complementavam a função dos Estaus, aí se recolhendo os animais de cela dos viajantes e suas comitivas. Deram nome à porta ou postigo situado nesse ponto da muralha. Estrutura que foi também designada de estrebaria dos Estaus conforme ficou expresso num alvará régio de 1516 ordenando a Afonso Monteiro que mandasse arranjar os arreios e o mais necessário6 .
6 Arquivo Nacional/Torre do Tombo (IAN/TT) - Corpo Cronológico, parte I, mç. 20, nº 30.»
O que fica por perceber é que raio eram esses estaus de Santarem que um enfiteuta do concelho trouxe. Não diz que constriu. diz que foram trazidos. E soa muito aos tais "esteios"- das lojas- das tendas.
Estive a ver melhor o desenho do Braunio que é uma maravilha e até mostra perspectiva aérea dos edifícios.
As cópias posteriores basearam-se nele e adulteraram. É visível que lateralmente tinha pelo menos um arco muito grande que chega praticamente às Janelas do andar superior do torreão lateral. Tudo se desenvolve em torno do patio e este é aberto.
Braunio (bib Nac)
Braunio - det.
e o nº 56 é a Porta dita da Estrebaria do Rei
"Trazer os estaus" deve querer dizer que os tinha arrendados.
Havia já encerrado o assunto, mas já agora...
Os Estaus primitivos de acordo com Bráunio. Daqui.
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«... como tudo isso tinha que ver com locais onde se deixava animais e se fazia pouso...»
Cuido que passa por aqui... Em aditamento na 2.ª ed. da Lisboa Antiga, vol. X,, o eng.º Augusto Vieira da Silva refere a derivação de stabulum (em latim, lugar onde se alguém estabelece, albergue, asilo e também estrebaria, além de lupanar, covil) proposta por José Tomaz Aquino. É muito plausível, na medida em que a queda das consoantes intervocálicas é fenómeno comprovadissimo na formação do português.
Estaus não são stoes. São edifícios cujo único cânone é a sua função, como já transcrevi, «cad' hum como [...] prouver e que outrossim os prédios se compusessem por forma que pudessem dar aposentadoria por dinheiro a homens e bestas».
Arcarias, pórticos, colunatas, etc. são elementos arquitectónicos acessórios e não o que define estaus. Podem achar-se nesse tipo de casas por numerosas razões, mas não em função delas, não me parece.
Viva. Tem razão, ainda que não perceba de onde vem essa maquete ou gravura. O desenho do Braunio mostra melhor como se inseria na muralha.
Os textos que importam são os mais antigos- até ao D. Manuel. A partir daí é cópia do que outros disseram e quando é entregue ao Santo Ofício tudo se altera.
Mas tem razão. O étimo vem de stabulos, de estrebarias e é comum em inglês e agté no alemão.
De todo o modo, se viesse das stoas o pluarl seria stoae.
Eu encasquetei isso porque me interessei mais pelas construções religiosas tardogóticas e a verdade é que a stoa reaparece em forma de loggia.
As descrições dos estaus de Évora e Tomar dão a perceber precisamente isso. Uma hospedaria real que vai transformar-se num espaço de comércio e que passa a ser gerida pelas corporações de artesãos.
E mostra também como a partir deles se define uma praça com arcadas.
O que é engraçado notar no terreiro de Lisboa é que ele ainda não estava bem definido como praça. Tinha construções muito espalhadas. Com a construção do hospital de Todos-os-Santos percebe-se a integração nos restantes edifícios com arcaria e o mesmo se passa em frente.
Já agora, se estiver nessa, agradecia que me desse a fonte da indicação de aposentadorias onde se refere literalmente, como escreveu a 31-10- 18.28:
«o tempo de D. Afonso V, o regente D. Pedro, em resposta, «determinava que em tôdas as cidades e vilas cercadas se fizessem estaos, uns pelas cidades, outros pelos particulares, cad' hum como lhe prouver e que outrossim os prédios se compusessem por forma que pudessem dar aposentadoria por dinheiro a homens e bestas que não coubessem nos estaos.»
Os palácios de estaus mandados construir pelos reis estão entre a arquitectura popular e a de corte. E isso deve ser bem interessante estudar. Principalmente as mudanças que vão tendo.
Os do Rossio foram construídos literalmente nas estrebarias régias, junto à porta da muralha com o mesmo nome.
Entretanto, para o José e as lojas ficou aí, a propósito das habitações da Ribeira de Santarém, boa informação.
A imagem ampliada do Braunio, tirada directamente da Biblioteca Nacional é muito mais nítida e continuo a achar que as maquetes tendem a retirar muita coisa.
Essa mostra de frente. Não mostra de lado. E no Braunio, apesar de feito já na segunda metade do século XVI, é visível mais detalhes e o enquadramento
Aliás- a hospedaria de Tomar do tempo do Infante nem é paço nenhum. É já um espaço de comércio com uma data de arcadas que ele entrega a ser explorado pelos cavaleiros templários.
E fez isso do mesmo modo que fez o paço e os claustros. O arquitecto seguiu literalmente a mesma tipologia-
A intenção, quanto a mim, foi desactivar a memória de Santa Maria do Olival. Vem tudo para o castelo e charola.
Aqui, tudo mais detalhado e com fontes, acerca do uso da palavra estaos e para que servia:
Isto dantes era preciso ir para a biblioteca fazer consulta e agora tem-se até os elucidários online. E com a pesquisa de termos é tudo muito mais rápido.
talvez confundindo Estaos com palácios, por saber que no Rossio da mesma Cidade, tiverão antigamente os nossos Monarchas uns paços a que chamavão Paços dos Estaos. Porem isto não tem outro Mysterio, que serem fabricados ou junto das Estalagens, ou no sitio em que elas antigamente existiram ...
Sou teimosa mas insisto. Quanto aos arcos (ou meras arcadas com entablamento) não existiriam por mero acaso nestas casas.
Existiam porque não se pode alojar homens e animais sem arcadas.
Sem lugar onde prender os animais e os guardar- nas arcarias- nas lojas, nas arcadas. E se estes edifícios passam a ser explorados em praça por corporações de artesãos, então é mais que óbvio que as arcadas são indispensáveis pois sempre foi assim que se fizeram alpendres para lojas.
E o Infante D. Henrique sabia essa função e não mandou fazer aquela enorme quantidade de arcos em Tomar, para os estaus, por mero acaso.
Isto não tinha garagens na altura nem centros comerciais fechados para a rua.
O Elucidário de Frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo é de 1798 e utiliza fontes recolhidas. A Lisboa Antiga do Júlio de Castilho é compilação do século XIX.
Para estudo sério tinha de se ir às fontes coevas. Foi só porque fiquei intrigada com o termo e com as praças, incluindo a de Tomar e a de Évora.
As leis de aposentadoria mandam dar abrigo- fazer estalagem- quando não cabiam nos estaus.
Porque o que existia muito mais antigo eram as estrebarias com alojmento. E por isso até há descrições de monarcas em viagem a dormirem na palha ao lado dos animais.
Depois, pela relação e proximidade é que devem ter passado a chamar estaos a casas para alojamento.
E esses estaus primitivos ficariam junto à entrada das povoações.
Junto ao rio, por exemplo- no caso da Ribeira de Santaem. Em Londres era o mesmo. As estrebarias régias ficavam em Chelsea.
O que me intrigava era o uso do plural- paço dos estaus e não Estau. Ou paço Estau. Plural porque eram estábulos de estrebarias. E o paço ficou nessa cerca de estrebarias e estalagens.
Eu digo que a maquete ou imagem de maquete dos estaus de Lisboa está errada porque, mesmo baseada na gravura do Braunio, dava para ver entrada no corpo frontal e grande arco de entrada no lateral.
Como também se vê inserida na cerca, seria muito mais natural terem mais entradas e saídas nesses corpos que nunca deviam ir assim, fechados, até ao solo.
Porque esses corpos desenvolvem-se em torno de um enorme pátio central e tudo tinha de circular, incluindo os animais e cavaleiros.
assim, assinalado a amarelo as entradas visíveis apenas pela gravura que serviu de fonte
Isto não tem fim. O José ainda fecha a porta e põe-nos na rua.
A maqueta é do Museu da Cidade. Baseia-se em Bráunio (note que há dois Bráunios) e num desenho à pena de Castilho inspirado em Colmenar.
Os Estaus do Rossio de Lisboa foram paço porque depressa passaram à condição de paço real. D. Manuel pousava lá (os paços da Ribeira estavam em embrião), D. João III mais e D. Sebastião foi lá que assumiu o mando do reino em 1568 num palanque aberto ao Rossio que em simultâneo fazia de passadiço dos Estaus a S. Domingos. de permeio a Inquisição ocupou-o e desocupou-o para o tornar a ocupar no fim do séc. XVI.
Mas não se iluda. Os Estaus do Rossio não tomaram o nome das estrebarias reais.
Irei passar à forma electrónica as págs. de Castilho e de Vieira da Silva sôbre os Estaus do Rossio. Está lá tudo, mas p.f. dê-me tempo. Não sei que lhe mais diga...
P.S.: Stoé(s) foi transcrição frustrada do plural grego Στοές.Stoae será plural inglês alatinado.
ehehe
Pois põe e é um absuo. Mas é um abuso por uma boa causa.
1- A maqueta está errada, como tendem a estar todas
2- o Desenho do Castilho está errado, como se confirma foi cópia deturpada da gravura do Braunio e eu deixei-a com boa definição para se ver a entrada lateral e a cerca
3- Não sei se me engano eu ou se estão todos enganados e o Frei Viterbo tinha razão. As estrebarias já lá estavam. A porta das estrebarias já lá estava. As estalagens- hospedarias, ficavam agregadas.
4- Eu nunca disse que o paço dos estaus não foi paço real. Digo é que se chamou dos estaus por ser estalagem junto a estalagem de estrebarias que já existia. E não digo eu, pelos vistos, apenas em breve pesquisa no Google dou com essa explicação do séc. XVIII.
5- O Castilho não serve para nada da Idade Média. Ninguém faz reconstituições medievais com base em apontamentos de um jornalista do século XIX.
Não sei para que insiste numa fonte do século XIX para justificar como seria uma construção iniciada no século XV.
Agora dou eu por encerrado o caso porque para desenvolver a questão tem de se olhar e ver bem.
E não se pode passar por cima da gravura do Braunio com a porta lateral para dizer que é mentira e não tinha porque no século XIX alguém a desenhou mal e lhe retirou o detalhe que ele soube ver no século XVI.
É como entender.
Neste caso considero-me dispensado da promessa feita.
Cumpts.
Oh. Estas coisas dizem respeito a gosto por saber e investigar. E isso nada tem a ver com teimas que se ganham ou perdem, como se fosse algo pessoal.
Eu nem tinha nunca pegado nos estaus. Mas bastou ver a imagem do Braunio- que suponho mesmo ser a mais antiga, para me aperceber que aquilo não podia ser como as imagens posteriores.
Não se pode fazer um edifício para estalagem que fique fechado e nem porta para entrada de coches tinha no lado que dá acesso ao horto junto à porta da muralha.
Por essa maquete os cavalos e coches tinha tudo de entrar por uma porta fronteira. Depois saltavam pela janela para terem acesso à porta da muralha. Ou entravam por ela e marinhavam pelas janelas para poderem entrar no paço.
Para se saber de onde vinha a tradição e uso do termo era preciso investigar em documentos muito mais antigos e reconstituir as hostelarias com cavalariças que por cá existiam.
Tesoro de la lengua castelhana - reinado de Filipe III - 1611
Entrada- establo:
( estabulo- lugar onde punham as bestas e lhes davam cevada; lugar onde acolhem não só cavalos e mulas mas também bois e outro gado; lugar onde param os viajantes- (stala ->estau-> cadeira- para assento). Onde estavam as rameiras; os prostíbulos; as vendas, lugar onde concorriam os caminhos reais
Maravilha- tudo estudado e nem sei porque motivo não é dito em tanta publicação acerca dos estaus
Finais do ´seculo xiv, alojar pessoas da corte era voluntário e correspondia a um pagamento. Ao serviço era dado o nome de "estau": a meio estau correspondiam cinco camas; e a um estau inteiro eram dez. de seguida- ustal, ostau
Nas notas de rodapé importante informação- o Cândido de Figueiredo relacionou com alemão de estau (mas isso já eu tinha estudado e vem de cadeira- assento- estala, stalles) e fala na Jornada do Conde Ourem que a refere várias vezes.
O Conde de Ourém foi ao Concílio de Basileia e essa estadia é muito importante. Acerca disso já sabia, e já tinha estudado por causa de mobiliário litúrgico.
Isto é sempre um labirinto. Não se pode dizer que já está dito- está acabado, nada mais há a dizer, por força de princípio de autoridade. A preguiça e a mania de copiar o que o último disse é que estraga sempre tudo. E estas coisas misturam-se todas.
As stoas/stoae referi em latim e não em grego, como é óbvio.
Em latim o plulal de stoa é stoae e nada disso tem a ver com "plural inglês alatinado".
É como o rosa- rosae.
Quando estudei latim, a primeira declinação que se aprendia era "Hora" e não "Rosa".
Porquê? Porque "Hora" era coisa sem sexo. Só mais tarde percebi.
Que engraçado. E eu enganei-me porque o plural é rosai. Rosae é genitivo.
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