domingo, dezembro 10, 2017

Portugal, 1968

Em 26 de Outubro de 1968 a revista Século Ilustrado publicou uma reportagem de uma visita  à aldeia de Quintas que no ano anterior, na noite de 25 de Novembro de 1967  tinha sido inundada de água das cheias ( cerca de 4 metros de altura na aldeia) que terão provocado a morte a mais de 100 pessoas e a mais outras centenas,  nessa região.

  Um repórter conta que chegou a contar 75 cadáveres e então desistiu de contar...e um ano depois a câmara municipal diligenciava pela construção de 30 casas para desalojados pobres.



Salazar já não estava no poder, tendo sido substituído por Marcello Caetano em finais de Setembro de 1968.
Em 30 de Novembro desse ano, a mesma revista dava conta da abertura da Primavera marcelista. Anunciava-se o I curso de jornalismo.


A revista publicava nesse número uma reportagem sobre uma profissão particular e o que então se ganhava a distribuir correio: os carteiros. Basta fazer as contas e aplicar o coeficiente de desvalorização para se perceber se ganham melhor agora...


Ao mesmo tempo dava uma ideia do que custava estudar em Lisboa, para um estudante universitário que viesse de fora, "da província" como então se dizia:




  Entretanto, no número de 2 de Novembro de 1968 dava-se conta dos problemas do ensino secundário, para 140 mil jovens num universos superior  um milhão que não o frequentavam. Este texto provavelmente terá sido censurado. Mas repare-se na mensagem implícita que permitia ler nas entrelinhas...






Entretanto havia profissões em vias de desaparecer por mudança de costumes: os moços de fretes. Aparece o relato do moço de fretes que ajudou a montar a mobília da casa de Salazar.
Também havia disso até há bem poucos anos, nas estações de combóios de Campanhã e Santa Apolónia.
Século Ilustrado de 26.10.1968:


 Nas ruas de Lisboa havia "livros de cow-boys" e de amor conforme se mostrava na edição de 28 de Dezembro de 1968



Numa "sondagem" de rua, em 23 de Novembro de 1968, no Rossio, várias pessoas responderam a certas perguntas sobre o que esperavam encontrar nos jornais que liam. Um deles era um juiz de direito, José António Almeida Ribeiro que não se coibiu de dar a sua resposta. Se fosse hoje, um juiz não daria resposta alguma se fosse identificado, como este o foi e que respondeu sobre a primeira coisa que lia no jornal: a necrologia.


  Numa reportagem alargada em 23 de Novembro de 1968 com opiniões recolhidas e escolhidas ( Maria Teresa Horta, por exemplo...) dava-se conta do que significavam as mulheres na sociedade portuguesa de então:





Outro texto interessante surgiu no Século Ilustrado de26 de Outubro de 1968 sobre um personagem da intelectualidade esquerdista de então. Marcuse era apontado como um influenciador dos acontecimentos de 1968, mormente de Maio em França, mas ao mencionarem-se os da Checoslováquia, no ano anterior, a dúvida paira...e o debate não chega a iniciar-se. Em França, sim. E foi por isso que o P. Comunista francês desapareceu nesse combate enquanto o de cá continua por aí, a arrastar o sarcófago.


Questuber! Mais um escândalo!