Porém, denota o que estupidamente este jornalismo se recusa a evidenciar: o regime, dito ditatorial não impediu que o próprio ministro da Justiça accionasse os mecanismos legais e judiciários para investigar e julgar, eventualmente, os responsáveis por um "escândalo sexual" que na época nem tinha o mesmo recorte moral que hoje teria, ou teve no caso Casa Pia.
Na época, os altos funcionários eventualmente envolvidos tinham uma "garantia administrativa", uma prerrogativa legal de quase imunidade devida ao cargo público exercido. Era algo consabido e desconhecer ou ignorar tal facto é sintoma de má-fé contra o regime e afinal, o exercício corriqueiro do anti-salazarismo primitivo que este artigo comprova.
Todo o artigo ressuma a habitual propaganda contra Salazar e o "Estado Novo" e até começa com duas páginas assim, a rosa choque que pretende dar o tom ao assunto. Esta gente continua obcecada com Salazar e o Estado Novo mas pouco fazem para compreender o sentido do mesmo, na época em que viveu. Basta-lhes o que os historiadores habituais, rosas, flunsers e cª já fixaram como verdade imutável, em mais um assomo de jornalismo de "intelectuais" à la Tom Wolfe:
Em 13 de Julho de 2009, aproveitando a entrevista do protagonista do caso, o advogado Quiqui Pires de Lima, publiquei isto ( suspeito que a referência no texto do i à entrevista do Público tenha sido tirada deste blog, mas é apenas uma suspeita...):
Joquim Pires de Lima, Quiqui para os íntimos, deu uma entrevista à revista Pública
desta semana. Uma revista que trata de um assunto delicado: a
homosexualidade de figuras públicas, com destaque para a cortina do
tempo do Estado Novo.
Por
causa desse tempo, Joaquim Pires de Lima, declaradamente de Esquerda,
filho de figura grada do regime de Salazar e irmão de outros notáveis, e
que defendeu as “vítimas” do caso Ballet Rose.
Vítimas,
neste caso sem hesitações ou alegações, e que serviram de motivo de
indignação contra um regime que escondia as fragilidades debaixo do
tapete diáfano da fantasia.
Pires de Lima relata o caso concreto que viveu de muito perto. Diz na entrevista que afinal as
vítimas não foram defendidas nem os arguidos acusados, porque nem houve
audiência pública e tudo se manteve numa base secreta sem que alguma
vez se fizesse prova de ter existido a violação de uma única rapariga.
Por isso, conclui que todo o processo Ballet Rose, é um “contra-senso”.
“Tudo
começou quando uma moça dos seus 16 anos me procurou, com a mãe e o
namorado, porque estava a ser apertada na Polícia Judiciária para
prestar declarações. Acerca das razões que a levavam a casa de uma
senhora modista, que era tida como uma desencaminhadora de menores. E
para identificar os indivíduos que estavam relacionados com essa
senhora. Tinha receio de que a levassem presa. Isso levou-me a telefonar
ao director da Judiciária, com quem tinha boa relação, bem como ao
Antunes Varela. Provoquei um grande escândalo dizendo que, com a minha
cliente, à PJ, is eu! Não conhecia o isntrutor do processo. Mais tarde
detectei quem ele era; era um que estava ligado ao assassinato do
Delgado, o agente Parente. Quando soube, denunciei-o. Obriguei a miúda a
dizer os nomes de toda a gente. Ficou a saber-se que desde os nove anos
andava a ser aproveitada por indivíduos como o conde Monte Real, o
conde Caria, o conde da Covilhã, uma data de gente da alta sociedade. “
O jornal ( Anabela Mota Ribeiro) pergunta-lhe então: “Com aproveitada, quer dizer abusada sexualmente?
Sim.
Se tinham relações completas, isso não averiguei. A PJ o que queria era
que ela não dissesse os nomes. “Quero que ela dite para os autos o que
ela me disse a mim”. Quando se soube a idade das meninas envolvidas,
percebeu-se que isto não era um processo de Ballet Rose á maneira do
caso Profumo, cuja mais nova tinha 17 anos, mas um processo de corrupção
de menores, com impúberas de nove anos. E miseráveis. Filhas de
mulheres-a-dias. Eu queria que a PJ instaurasse um processo crime contra
os corruptores de menores e retirasse o nome de Ballet Rose da
história.
Foi isso que o Mários Soares e o Freancisco Sousa Tavares não perceberam. O caso veio em jornais estrangeiros. “
Este
relato em primeira mão e na primeira pessoa das primícias do caso
Ballet Rose, então denunciado por Mário S. na imprensa internacional,
tem um paralelo evidente com o caso Casa Pia.
Num e noutro caso, estão envolvidos políticos de topo e com actividade
que entendem como de carreira imprescindível e de poder executivo
indiscutível. Uma espécie de monarquia republicana e laica que assegura o
emprego público para a vida.
Num
e noutro caso, estão em causa depoimentos de vítimas que num caso
mereceram todo o crédito, sem qualquer rebuço e nunca foi dada
oportunidade sequer aos visados para se defenderem em sede processual.
Num
e noutro caso, houve interferências de políticos no desenrolar da
investigação criminal e tentativas de o condicionar. Num e noutro caso
houve da parte dos suspeitos a celerada "raison d´état", para desfeitear
o Estado de Direito. Num e noutro caso, essa actuação teve resultados
práticos a contento.
A
diferença de vulto, enorme e escandalosa? Simples: no caso antigo, os
visados foram afastados da política. No moderno, continuam por aí. Andam
por aí, sem qualquer vergonha.
Mário S. entendeu o assunto como suficientemente comprovado para o denunciar publica e internacionalmente.
Pelo que lemos, o depoimento de uma miúda de 16 anos, foi credível para este Pires de Lima, no sentido de levar a “obrigar
a miúda” a delatar, indicar os suspeitos que o mesmo toma imediatamente
como inculpados. Mais, nem sabe ao certo se as miúdas “tinham relações
completas”. Portanto, exames nem vê-los. Processo crime formal e com
garantias de defesa, nicles. Mas essa vítima não é alegada como
destituida de credibilidade...
Pires de Lima, à semelhança destes novos notáveis da política rosa, também mexeu imediatamente os cordelinhos. Telefonou ao director da PJ, seu amigo e igualmente ao ministro da Justiça, Antunes Varela.
Que
fizeram os notáveis da rosa, no caso Casa Pia, para além de se estarem a
cagar para o segredo de justiça? Telefonaram para vários notáveis. Até
para o PGR. Até para presidente da República. Até para o ministro. Até
para o titular do processo se pudessem. Até para a PJ.
Fizeram
tudo por tudo, para quê? O que Pires de Lima fez no caso ballet rose?
Não. Precisamente o contrário e que Pires de Lima vitupera como um
escândalo: fizeram tudo para parar o processo e a investigação em curso
que envolvia um dos deles, Paulo P.
O
actual presidente da CML, António Costa telefonou, pressionou, tentou
saber, tentou controlar. A correligionária Ana Gomes, como já o escreveu
por duas vezes, organizou um gabinete de crise no largo do Rato e
tentou combater a evidente cabala em curso.
No
caso do ballet rose houve uma vítima de 16 anos que foi tomada a sério
em tudo o que disse. Os visados nunca se defenderam porque como o
próprio Pires de Lima refere, nunca chegou a haver processo crime e
principalmente “ não foi feita prova de que algum deles, alguma vez, tivesse violado uma rapariga”.
Não
obstante, Pires de Lima dispensa os nomes dos envolvidos como
verdadeiros culpados. E adianta o facto de se ter “abafado o caso”,
assim:
“Para
abafar o caso, uma vez que estavam metidos no assunto indivíduos como
Correia de Oliveira, o Quintanilha Mendonça Dias ( que era ministro da
Marinha) acharam que se não era ballet rose, também não era nada de
grave. Todos tentaram aliciar as meninas, mas não consumaram. Elas não
eram susceptíveis de serem ofendidas. Não passou de uma tentativa de
estupro e todos prestaram caução de boa conduta. Para que não houvesse
punição dos arguidos.”
No
caso Casa Pia, não houve apenas uma vítima a denunciar crimes sexuais,
verdadeiros crimes consumados e repetidos e não meras tentativas. Houve
várias vítimas que foram todas desacreditadas pelo próprio presidente da
Assembleia da República de então, Almeida S. ( disse que as testemunhas
podem mentir). A rapariga de 16 anos que desencadeou o processo que Pires de Lima destapou em escândalo, não mentiu. Foi credível e mereceu todo o crédito para denunciar os condes e outra gente da “alta sociedade”.
Gostava de saber o que Joaquim Pires de Lima pensa do processo Casa Pia, dos seus envolvidos, do PS, do que fizeram para
“abafar” o processo, como se safaram os envolvidos do partido, como
reagiram os seus correlegionários; como encara a credibilidade não de
uma mas de várias vítimas, sem alegações nem subterfúgios que ao longo
dos anos têm mantido os depoimentos e tem sido sucessivamente absolvidos
do crime de difamação nos processos em que os envolvidos lhes
instauraram.
Um
deles, da responsabilidade do próprio presidente da Assembleia da
República deste país. Deste pobre e pequeno país em que toda a gente se
conhece e sabe a verdade, como Pires de Lima soube a verdade do caso
ballet rose: pelo depoimento das vítimas.
Depois
de o ouvir sobre o assunto, perguntar no fim: o que pensa de Mário S.
neste contexto? Sim, o mesmo da denúncia do ballet rose.
Deste
ballet rose que Pires de Lima sabe de gingeira como foi e quem são os
envolvidos, celerados condes do regime odiado de Salazar...
Quanto à entrevistadora, nem uma palavra sobre a similitude com o caso Casa Pia. Não lhe ocorreu, pela certa...