domingo, janeiro 07, 2018
Os editoriais de Octávio Ribeiro e o mau jornalismo
O editorial de Octávio Ribeiro no Correio da Manhã de hoje aponta dois factos dignos de realce na semana que passou: o primeiro tem a ver com a pouca-vergonha de quem governa e se sente autorizado a usufruir de benesses, por isso mesmo, sendo algumas eticamente indevidas. Um caso de corrupção moral e política, puro e simples que só não tem dimensão criminal, pelo ridículo que comporta ( pedido de favores, com bilhetes de luxo, para um jogo de futebol) e pela ética omitida que nem respeitou o "código de conduta" jacobina que o governo engendrou para evitar situações destas.
O segundo, sendo mais grave é fruto do mesmo ambiente, como destaca o editorialista do CM: não há consenso político para legislar sobre a "delação premiada" nem sobre o enriquecimento ilícito porque algumas forças sociais, neste caso os advogados da ordem do costume não querem tal impecilho ao seu trabalho.
A razão pela qual os advogados se opõem a estas leis de saneamento parecem-me claras: fazem parte da classe política visada por elas e enquanto profissionais do foro, teriam muito a perder, em dinheiro e clientes, caso fossem aprovadas.
As demais razões estilísticas que apresentam, sempre enroupadas nos grandes princípios são apenas a hipocrisia que a classe gasta. Uma grande vergonha. Continuamos a ser um país miserável em que certas classes profissionais apostam em manter como tal porque é isso que lhes garante a vidinha.
Outra notícia do CM de hoje repenica o mau jornalismo que a repórter da casa, à míngua de casos mais suculentos, tem andado a explorar. No outro dia escreveu asneiras, ao dizer que o MºPº tinha "livrado" o advogado Proença de Carvalho. Hoje, depois de ler o Sol de ontem, rectifica apontando o "volte-face" na defesa. Afinal, a "PGR" sente obrigação em investigar...mas continua a escrever " "não querem analisar no julgamento as novas acusações reveladas", insistindo na asneira.
Não sei o que será pior. A notícia do outro dia era uma manipulação de factos verdadeiros para criar um falso ( o procurador do processo apenas se pronunciou sobre um requerimento que entendeu inoportuno nesta fase processual e os factos nele imputados ao tal advogado não constituem necessariamente, para já, matéria criminal); hoje, continua sem perceber que os factos de tal requerimento podem e devem ser apresentados em audiência de julgamento, com uma vantagem: a do contraditório que eventualmente se poderá fazer.
Esta é a parte da notícia que falta e é a mais importante...
O uso dos adjectivos e verbos para escrever estas notícias, por outro lado, releva de um vernáculo digno dos apontamentos de antanho do dr. Varatojo... ou seja, anacrónico. E ridículo, por vezes, infelizmente.
Sobre isto, o editorial de Octávio Ribeiro é omisso...mas entende-se a razão: é que são estes títulos e este vernáculo que entram no subconsciente colectivo de quem passa e lê a linha da notícia. E é isso que dá dinheiro ao jornal que Octávio Ribeiro dirige. Qual a diferença entre isso e aqueles factos que apontou no editorial? Muito ténue...
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