sexta-feira, novembro 15, 2019

Bebé salvo do lixo: a realidade mais estranha que a ficção

Observador:

A história contada pelo sem-abrigo sobre o resgate do recém-nascido de um caixote do lixo, em Santa Apolónia, tem agora uma nova versão. Ao contrário do que Manuel Xavier tem descrito a vários meios de comunicação social e ao próprio Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, há dois sem-abrigo que descrevem como foram eles, afinal, que ouviram o choro da criança e a salvaram, depois de uma tentativa em vão de avisar a polícia. E, de facto, nas imagens recolhidas pelo sistema de videovigilância, junto à discoteca Lux, são estes dois homens que aparecem a retirar o bebé do contentor amarelo.

Esta versão da história já tinha sido contada há uma semana pela TVI por um homem que não deu cara. Esta sexta-feira a SIC identificou e conversou com João Paulo e Rui Machado, que apresentam uma versão diferente daquela que Manuel Xavier contou em vários programas de televisão, a jornalistas e até a Marcelo Rebelo de Sousa. O que lhe valeu algumas ofertas, incluindo uma casa.

João Paulo conta que andava naquela zona quando ouviu o choro de uma criança, mas, e nas suas palavras, “como tinha tomado metadona” julgou estar a alucinar. A certa altura João Paulo acredita mesmo que viu o bebé fora do contentor do lixo, então chamou o amigo Rui Machado.

Rui Machado ainda teve dúvidas do que João Paulo lhe contava, mas perante a sua insistência, acabou por convencê-lo a irem à PSP deixar o alerta. Mas as autoridades desvalorizaram e nem sequer registaram o caso.

Já à tarde, pelas 16h00, João Paulo voltou ao ecoponto e ouviu novamente os gemidos do bebé. Aproximou-se do contentor e percebeu de onde vinha o som. Então começou a chamar Rui Machado, que naquele momento se cruzou com Xavier dizendo-lhe que também viesse.

Filmagens de um vídeo amador mostram, de facto, três homens no local. Um deles estaria ao telemóvel atrás dos contentores, sendo ele Manuel Xavier. Enquanto os outros dois, que parecem de facto Rui Machado e João Paulo, forçam o contentor para conseguir alcançar o bebé. Rui Machado conta que depois enrolou o bebé a umas calças que ali encontrou e que ele se calou. Logo de seguida entregou a criança a uma mulher que também ali estaria e que ele acha que trabalhava na discoteca Lux. Aliás, foi para lá que a mulher levou o bebé e foi ali que foi assistido pelo INEM — depois de ter passado 15 horas no contentor e sentir frio.

Marcelo Rebelo de Sousa já reagiu a esta nova versão e, num comunicado oficial, mostrou-se disposto a receber em Belém os demais intervenientes. “Se em vez de um forem vários os que colaboraram nessa salvação, tanto melhor”, diz. Rui Machado, no entanto, critica o facto de Manuel Xavier estar a receber uma série de ofertas quando não foi o único que participou no resgate da criança.

A mãe da criança está presa preventivamente por suspeitas de homicídio qualificado. Com apenas 22 anos vivia na rua, depois de ter engravidado e se ter desentendido com uma irmã.


As tv´s  (salvo seja, a TVI e a SiC, porque a CMTV estava de sorna ao jornalismo pente fino, talvez por causa do caso da Grilo) levantaram a lebre: o assunto do bebé recém nascido que foi abandonado no contentor de lixo para morrer tem mais condimentos sociais que os que foram inicialmente mostrados. E mais protagonistas que o único que se mostrou e foi apaparicado pelo presidente da República que agora vai ter de refazer a rábula da exaltação de atitudes que deveriam ser normais e sem história. 

Seja como for, deveria aprender a lição e antes de se precipitar para uma câmara de tv em busca de afectos metálicos deveria procurar os verdadeiros e sentidos. 

Ainda vamos ver os restantes "sem-abrigo" a reivindicar as benesses concedidas ao que aceitou o exclusivo do salvamento...calando-se muito bem caladinho.  Enfim, uma tristeza que deveria envergonhar todo este jornalismo poligrafado.

ACTUALIZAÇÃO da telenovela ( passa na tv a todas as horas):

A ministra da Justiça, Van Dunem, foi hoje a Tires, visitar o estabelecimento e foi presenteada com  um repasto preparado pelas reclusas.
Vai daí, aproveitou a ocasião e já que lá estava foi visitar a reclusa de quem se fala. Para quê? Ela explicou, ao lado do director-geral das cadeias e serviços adjacentes, um magistrado do MºPº em funções de comissão de serviço. Disse que estava tudo bem com a reclusa Sara e saía "reconfortada".

Nem faço mais comentários, a não ser que esta indivídua é também juíza Conselheira do STJ e quer ir para lá quando sair da função política. Bem, querer, querer, queria mesmo era ir para o Tribunal Constitucional dirigir a corporação.

Estamos entendidos quanto ao estado do país.

Sem comentários:

O Público activista e relapso