sábado, setembro 15, 2012

A memória pública: " um país sem memória perde a sua identidade"...

José Jorge Letria, "escritor, jornalista e presidente da SPA" escreveu este artigo, no Público de hoje, sobre as memórias que a RTP guarda sobre o "nosso povo". 

Escreve a dado passo que  "Deixando de saber quem foi, dificilmente saberá quem e o que vai ser".  Tem razão José Jorge Letria, "escritor, jornalista e presidente da SPA".

Por isso mesmo, pela minha parte, uma vez que a RTP já não deve ter memórias desse tempo tão interessante, deixo aqui um pequeno contributo para se saber quem foi José Jorge Letria e outros.

São recortes da revista Mundo da Canção ( J.J.L também foi cantor...) logo a seguir ao 25 de Abril de 1974.
O primeiro é mesmo de Maio desse ano. Trazia uma letra de J.J. Letria chamada boi ascencional. Hoje poderia traduzir-se melhor por boy ascencional, sem mudar mais nada...

 Em Fevereiro de 1975 a mesma revista publicava a letra de outra cançoneta do mesmo bardo: "só de punho erguido" é um hino revolucionário a uma Esquerda triunfante. Dali a meses, o país estava na bancarrota, mas cantava as glórias do punho erguido, "pela terra que nos deixam, pela noite que nos rasga, pelo chão que se conquista, pelo preço que se paga."  Ora era mesmo isso: pelo preço que se paga, ficamos como andamos. A Esquerda que erguia punhos amarfanhou-nos o futuro.


 Nessa altura, quem ousasse pensar de modo diverso e recordasse antigas figuras contra quem aqueles punhos se erguiam, eram assim tratadas ( Mundo da Canção de Maio de 74): fascistas! Alguma vez J.J. Letria se demarcou desta linguagem? Quando é que descobriu que era um logro e um embuste colectivo? Nunca?!



 Em Maio de 1975, um companheiro dessa luta do punho erguido alertava os espectadores do festival da RTP desse ano ( devem ser estas memórias públicas que se procuram preservar na RTP, certamente) que só ia ao festival porque se estava perante um dos maiores auditórios do país, 6.5 milhões de pessoas...a quem os do Alerta entenderam fazer uma "declaração de voto".É ler...

Por isso mesmo, em Setembro desse ano de 75, do punho erguido que fazia sentido, a crítica da revista sobre um disco de José Jorge Letria já recomendava ao mesmo que alinhasse com as "massas", porque "continua a falar às massas sem se ligar às mesmas, porque continua a actuar para as massas e não dentro delas". Era esta a linguagem da altura cuja memória é preciso recuperar com urgência até porque o partido Comunista que assim falava é o mesmíssimo de hoje em dia. O mesmo, sem tirar nem pôr.

E para se ver melhor a linguagem do tempo e a censura que aí viria se vingassem as ideias peregrinas dos amanhãs a cantar, para além da Constituição e alcançassem totalmente o aparelho de Estado ( esteve quase, foi por um triz) basta ler estas duas páginas sobre o fenómeno Amália, nesse mesmo mês de Setembro de 1975.
O sectarismo, a repressão intelectual, a censura expedita, a manipulação das palavras e no fim de contas o verdadeiro fascismo comunista estão aqui bem explanadas e claras. Por isso acho muito bem que José Jorge Letria lute, de punho erguido se preciso for, pela rememoração destes factos. A cantar também, mesmo de voz rouca.


3 comentários:

zazie disse...

Este post está genial.

Aquela do boy ascensional foi demais

":O))))

lusitânea disse...

O gajo quer uma memória selectiva no tempo e no modo...porreira aliás para o que andam a fazer: a nossa colonização por África!

Floribundus disse...

havia outros baladeiros com menos apoio da comunicação
a 'barata tonta'
o'da perninha da menina'
os tordos
o 'cu-medido' ary

tivemos um deputado dessa área que antes do 24.iv era visto nas estações do Metro aos gritos de 'agarra que é ladrão' e outro, militar aprumado conhecido pela alcunha de 'nazi', comandado pelo 'bivaque, tronco e botas'

país falido
contribuinte .odido

A obscenidade do jornalismo televisivo