Este pequeno texto é uma tradução livre de uma passagem do Mercador de Veneza, de Shakespeare, com um diálogo entre o mercador propriamente dito, o abastado António, e o estroina Bassanio que se empenhou para além do suportável e procura uma solução para poder pagar todas as dívidas que contraiu junto daquele.
O episódio, se conhecido de outro estroina chamado Portugal Socialista, poderia ter algum efeito, se associado a um módico de vergonha e sabedoria filosófica de algibeira.
Assim...temos o panorama que temos.
Bassanio:
Não ignorais, António, em que estado pus a minha fortuna, ostentando durante algum
tempo um fausto excessivo que os meus fracos recursos não me permitiam
sustentar. Não me lamurio por não poder
continuar neste trem de vida; mas o meu maior desejo é o de solver
honestamente as dívidas consideráveis em que na minha juventude, demasiado pródiga,
me deixei enredar. É a ti, António, a quem mais devo, em dinheiro e afecto; e é acreditando no teu afecto que me resolvo contar todos os planos e projectos que formei
para me desembaraçar de todas as minhas dívidas.
António:
Peço-te, meu bom Bassanio que mos dês a conhecer; e se não se afastarem, tal como tu, dos caminhos da honradez, podes
ficar ciente que a minha bolsa, a minha pessoa, os meus recursos ficarão ao teu
dispor.
Bassanio:
Quando estudante, perdendo uma flecha, lançava outra na mesma
direcção, prestando-lhe um olhar mais
atento, para encontrar a primeira; e, arriscando as duas, muitas vezes
encontrava ambas. Se dou este exemplo da
infância, é porque a minha conclusão espelha a maior sinceridade.
Devo-te muito; e pela minha estroinice de jovem o que te
devo já o perdi; mas se consentires em lançar uma segunda flecha na mesma
direcção que a primeira, não duvido, porque estarei atento ao voo, que hei-de
reencontrar as duas, ou pelo menos trazer-te a segunda continuando, reconhecido,
a dever-te a primeira.