A Esquerda portuguesa tem sido o que temos visto: sempre a mesma coisa, de há décadas a esta parte. O PS, com medo de perder base eleitoral afina demasiadas vezes pela voz de uma esquerda que esconde o seu comunismo no que se refere à Economia do Estado, ou seja em que o Estado participa a gastar o que tem e o que não tem. Deve ser isso a noção de keynesianismo que possuem para inglês ver e português pagar. Daí a renitência em privatizar empresas públicas que são um sorvedouro de dinheiro de todos; em ajustar a Constituição a um modelo mais consentâneo com o modo de produção capitalista que foi o único que vingou no Ocidente ( e no Leste também) e que tem sido aquele que melhor assegura a produção de riqueza dos países.
Pode ter muitos defeitos e um deles está à vista com a crise das dívidas soberanas e o papel dos sistema bancário e financeiro na sua eclosão. Ainda assim, não se vislumbra alternativa a não ser mudar o sistema por dentro e reformar o que tem de ser reformado.
Evidentemente que não é nada disto que a Esquerda clássica, comunista, do PCP e do BE pretendem. O que os mesmos fósseis pretendem é a eliminação pura e simples do sistema capitalista de acumulação de riqueza por uns poucos em detrimento de muitos outros, sempre com a mesma justificação teórica imbatível: a igualdade social. É essa a palavra mágica que lhes rende votos porque ninguém se lembra que é essa mesma noção que os arruína economicamente por efeito paradoxal que não aceitam nem compreendem.
Mesmo assim nem todas as esquerdas são iguais e há uma que me habituei a respeitar: a que escreve na revista francesa Marianne, particularmente um dos seus articulistas mais notórios, Jacques Julliard.
No número desta semana o mesmo escreve sobre educação em França e sintetiza tudo numa frase que aqui não se compreende muito bem: " Senhor ministro, ajude somente os profs a tornarem-se mestres e os alunos ´aprendizes`!" A nossa Esquerda não entende este saber simples e comum porque ainda anda às voltas com o conceito de "igualdade" e de escola inclusiva...
Mais interessante é o artigo de fundo da revista em que se mostra com fotos e texto que nenhum jornal ou revista nacionais conseguem fazer, quais os 50 responsáveis pela crise mundial que atravessamos e que tem os reflexos que sentimos na nossa economia.
Ao longo de dezasseis páginas figuram-se os nomes e os factos explicativos da crise cujos sete pecados capitais são assim enunciados:
Os paraísos fiscais que permitem a evasão fiscal, em toda a legalidade. As agências de notação que não alertaram os seus clientes aquando do fenómeno do subprime e da dívida grega. Os produtos derivados como os swaps e outros cds e que hoje representam cerca de 13 vezes o PIB mundial. A dimensão dos bancos, too big to fail. A ausência de separação entre banca de crédito e banca de investimentos.Os hedge funds, fundos de investimento altamente especupativos e que escapam à regulamentação. Finalmente, a finança em alta frequência, em que se confia a computadores a tarefa das transacções através de algoritmos e que jogam na diferença de centésimos de segundo para ganhar uma fracção que faz a diferença em milhões. "90% das transacções são anuladas nos sete segundos seguintes à emissão e 60% no segundo seguinte", segundo a revista.
Entretanto os 50 nomes magníficos entre os quais não figura nenhum português, o que dá a medida da nossa irrelevância. Mas nenhuma jornal ou revista nacional, mesmo de esquerda ( como são quase todos, et pour cause) se preocupou em fazer semelhante levantamento redactorial...
Os últimos incendiários são aqui elencados e têm um ponto em comum: alguns foram assalariados da Goldman Sachs. Um deles, o magnífico judeu Lloyd Blankfein salvou a firma da falência, aquando do escândalo Lehman Brothers.Recompensa? Manda agora na Firma que alguns dizem que manda no mundo.