segunda-feira, novembro 02, 2015

Os media nacionais

Trimestralmente chegam aos jornais os números do seu desempenho.

No Correio da Manhã do passado dia 30 foi assim: o jornal de que todos  se envergonham consegue vender mais que todos os outros diários...juntos. O que mais desceu foi o jornal do Camões. Se calhar tem a ver com isso, com a pala permanente num olho. O Diário de Notícias que também usa pala acontece-lhe o mesmo e parece que a administração não tira conclusões e continuam a subsidiar o descalabro. Porquê? Nem é preciso dizer porque salta à vista desarmada do olho sem pala.




O Público do mesmo dia também deitava foguetes, escondendo que vende cada vez menos em papel: não chega a 15 mil exemplares. Terão alguma vergonha destes números na direcção artsy artsy do jornal? Qual quê! Foguetes em barda! Conseguiram aumentar as assinaturas digitais e agora já tem 12.766 assinaturas. Como diria o comediante: "fantástico, Mike!"  Um pouco mais de 12 mil assinantes na internet e deitam foguetes!
O patrão Belmiro lá continua a abrir os cordões à bolsa para o jornal defender a "unidade de esquerda" e "o Costa", contra o "neoliberalismo" que só nos empobrece e ao Belmiro enriquece. Paradoxo? Não porque estamos a falar de Esquerdas e como se sabe, os deuses caseiros estão todos do lado deles.  Afrontá-los pode ser pior que perder uns milhões de trocos nas mercearias.


Quanto ao Correio da Manhã que todos desprezam e votam à giena da irrelevância intelectualóide, já aparecem também os insuspeitos defensores de um vínculo extinto pelo tempo, os monárquicos utópicos, com o rei na barriga. Para eles é um "jornal da banha" porque chafurda no regato da imundície de chiqueiro.
Enfim, cada um olha como pode e vê o que consegue.

77 comentários:

BELIAL disse...

Uns molossos esquerdalhos ladram melhor ao poder liberal.

Bem atrelados, dão um certo jeito
E eles gostam de ser pagos para malhar na "direita"

zazie disse...

Pois é, pois é. Gente de bem é assim.

zazie disse...

Não lêem jornais; lêem nas estrelas.

":O))))))

muja disse...

Ora e não é um jornal da banha?

Resiste ao pinóquio e resiste bem, mas e daí? Mas diz isso mais sobre o CM ou sobre os outros?

Pessoalmente, não o compraria simplesmente por terem aderido a essa bosta do AO90, como não compro nada que o tenha feito. Ainda hoje estou para perceber isso mas pronto.

Não sei se sou gente de bem, mas efectivamente não leio jornais. Passo os olhos pelos feeds de um ou outro na net e pronto. Nem televisão. De pouco mais de meia-dúzia de sites e blogues que fui reunindo ao longo do tempo, entre nacionais e estrangeiros, acabo por tomar conhecimento das notícias mais importantes sem perder tempo a filtrar o vasculho.

josé disse...

OK. Objectivamente é um jornal da banha porquê? Agora sou eu que pergunto estas coisas concretas...

josé disse...

como se pode ver pelas estatísticas a maioria esmagadora das pessoas urbanas não lê jornais. Podem ler primeiras páginas e está feita a leitura.

Por isso, como se dizia em 1973, para publicitar uns livros de bolso ( acho que da Unibolso)..."quem não lê,chapéu!"



josé disse...

Não acho nada o CM um jornal da banha. É um jornal que só compro quando traz notícias sobre determinados assuntos dos casos mediáticos para ler o que escrevem e se escrevem baboseiras. Não escrevem. Por outro lado, andar sempre a insinuar que o jornal é alimentado pelos magistrados é aleivosia grave e difamatória.

Uma coisa é ser alimentado por fontes do tribunal ou das polícias; outra é ser alimentado com documentos que saem directamente do processo e são aproveitados para outras finalidades, como buscas ou detenções.

Quem não pesca um boi destes assuntos mas se julga muito fino arranja logo a conclusão que tudo isso só pode vir da magistratura...sem saberem que os factos, agora, têm que estar todos escarrapachados nesses mandados que ficam à solta e entregue em vários exemplares.

josé disse...

Por outro lado quando compro o jornal leio outras notícias e de facto o CM traz os casos do dia noticiados de um modo correcto, com objectividade e sem grandes rodriguinhos estilosos, como o Público.

Esses casos do dia, no entanto, a mim não me interessam nada ou quase nada.
O que não quer dizer que não interessem a outras pessoas.

Por exemplo, ontem trazia uma notícia de um caso trágico em Guimarães. Um indivíduo de 39 anos, saiu de casa, numa praça da cidade, cerca das 3 e tal da manhã de Sábado porque havia muito barulho na rua. Como se meteu com os arruaceiros, levou pancadas com um ferro e ficou ali a esvair em sangue. Morreu.

Este facto em princípio só me interessou porque é escabroso e de uma violência extrema. E está bem noticiado.

Gostava de saber em concreto qual a razão para ser um correio da banha. Gostava mesmo.

muja disse...

Objectivamente, e na minha opinião, é jornal da banha porque 90% do que lá vem não me parece ser coisa de relevo jornalístico. Não sei que se ganha de saber que fulano de tal esfaqueou a enteada ou as cenas de "famosos", ou o "sentimental" e coisas assim.

E os outros ainda são piores no meu entender. Porque noticiam mal factos de relevo jornalístico e isso é muito pior que os não noticiar de todo, mas não só.

Mas a verdade é que também não tenho muita paciência para os estrangeiros. Acaba tudo por ir dar ao mesmo.

Se calhar sou eu que não gosto de jornais. Deve ser o meu salazarismo serôdio a manifestar-se ahahah!







zazie disse...

O Salazar não lia jornais?

zazie disse...

Se calhar perguntava ao pombo correio.

muja disse...

Sim, faltava agora pegar-se comigo por imaginar que eu disse que o Salazar não lia jornais!

muja disse...

Era mesmo isso que eu queria dizer!

muja disse...

Mas olhe, se calhar perguntava à vidente...

josé disse...

Eu também não me interessa nada saber as desgraças alheias e por isso o CM só vale para ler sobre factos de determinados indivíduos que de outro modo não saberia. Tal como muita gente.
O jornal no entanto estica uma pequena informação escrevendo meia dúzia de frases e ilustrando tudo com imagens garrafais. Estilos que não me agradam mas isso é outra coisa.

Para mim,o importante é o conteúdo informativo dessas notícias e são muitas vezes superiores em detalhes factuais, aos de outros jornais, ditos de referência.

zazie disse...

Ora é isso mesmo. Lembrou bem. Não era o pombo; era a vidente.

muja disse...

Sim, de acordo.

Eu quando digo que o CM é jornal da banha é a isso que me refiro essencialmente, a essa preponderância de um certo tipo de temas.

De resto, para mim, não há jornais "de referência". Quem diz jornais diz media no geral. Tirando uma outra publicação especializada, das quais não me ocorre agora nenhuma, mas admito possa haver, é tudo "banhada".

muja disse...

E jornais locais ou regionais, que ainda deve ser o melhor que há por aí.

josé disse...

Jornais locais ou regionais deve ser o melhor que há por aí?

Acho mesmo que não lê jornais.

muja disse...

Não precisa de achar porque já lho disse ahaha!

Mais a sério, naquilo que me interessa num jornal, que é ser minimamente informado de coisas que de outra forma não saberia, os regionais às vezes acabam por ser melhores, porque o que os "de referência" publicam encontra-se facilmente noutras fontes, e as notícias regionais geralmente não.

Em termos de qualidade do jornalismo em si, a diferença parece-me pouca ou nenhuma. Mas, lá está, desde há algum tempo para cá, limito-me a ler uma vez por outra o que apanho num café ou assim.

José disse...

Os jornais regionais que costumo ler não são bem feitos e têm muita opinião desnecessária e sem interesse algum.
Graficamente são uma miséria e o que têm de relevante são as notícias locais redigidas em modo simplório, às vezes. Têm as fotos da necrologia que os emigrantes dantes apreciavam para saber dessas coisas e têm às vezes artigos específicos de especialistas por exemplo em pneumologia ou cardiologia, para ficarmos pelos médicos que assim ganham publicidade gratuita.

Quanto ao que aprecio num jornal acho que só com um exemplo- neste caso de 1971 poderei explicar melhor. É um jornal do tempo do Exame Prévio mas que nem por isso deixava de informar coisas com interesse.

Política contra o governo é que não...

José disse...

Em 1971 não fazia sentido noticiar movimentações políticas de esquerda com reflexo na possibilidade de mudança de liderança política porque tal não estava em causa.

Sobre a guerra no Ultramar escrevia-se o mínimo mas dava-se conta dos mortos em combate. Ao mesmo tempo que não havia notícias contra a guerra também não havia a apologia da mesma. Era um assunto reservado, digamos assim. Todos sabiam o que se passava e a discussão pública sobre tal assunto não era admitida, por política assumida do Governo e do regime.

Poderia ou deveria ser diferente? Se o tivesse sido provavelmente não teríamos agora esta maldita Frente de Esquerda a prejudicar-nos o futuro de há 40 anos a esta parte. Essa é a minha opinião que não é definitiva porque é apenas um palpite fundado em factos que podem não ser verdadeiros na totalidade.

muja disse...

Bom, o José já conhece mais ou menos a minha opinião sobre esse assunto.

Mas antes de se ver se discussão era ou não admitida, conviria então definir o que se entende por discussão. E, nas mais das vezes, quando se diz isso o que se quer dizer é a propaganda ou divulgação de ideias ou opiniões contra a guerra. Não só contra a guerra mas a favor do que eventualmente veio a passar-se que era a simples admissão da derrota sem mais.

Ora, partindo o Governo da posição de que a guerra era justa e justificada, por defensiva e nos limites estritos da lei nacional, internacional e da moral, que sentido faria admitir que se pusesse publicamente em causa tal coisa? Era admitir falta de confiança e de firmeza sobre a questão.

Lembrarei que, por exemplo, se nos EUA se permitia, e permite até certo ponto, discutir as guerras do Vietname, ou mais recentemente do Iraque, etc, essas diferem em natureza da nossa. Não são guerras defensivas. Quando se trata dessas, ou se alega tratar-se, como na 2ª GG, as coisas mudam radicalmente de figura e nenhuma democracia permite discussão, e a repressão aos dissidentes nada fica a dever aos totalitarismos.

muja disse...

Portanto, e pondo de lado a "discussão" como eufemismo para liberdade de difusão mediática da propaganda inimiga, será que não se podia mesmo discutir a guerra?

E que mais haveria para discutir de forma pública? Admito que se pudesse talvez esclarecer melhor as pessoas sobre este ou aquele aspecto, por exemplo os resultados das acções psicológicas do Exército, ou a construção de aldeamentos, ou certas opções políticas de tomo como a construção de Cabora-Bassa e suas repercussões na condução da defesa do território.

Mas seria isso defeito do Governo ou da imprensa? Como seria hoje, traçando o paralelismo (im)possível?

José disse...

Discutir a guerra abertamente, do ponto de vista da esquerda comunista ou "anti-imperialista" não podia, pura e simplesmente. A Censura cortava sistematicamente.

Discutir a guerra como o fazia o Observador que aqui tenho citado várias vezes, podia e devia.

O argumento das guerras ofensivas contra as defensivas é um sofisma porque quem defendia a guerra considerava-a sempre defensiva, na medida em que respondia a uma agressão.
Do ponto de vista dos autóctones do Ultramar que faziam a guerra, ou seja os terroristas, como os chamávamos também era uma guerra defensiva contra a agressão imperialista e colonialista. Por cá, quem defendesse tal ponto de vista não podia exprimir-se.

Nas guerras defensivas dos balcãs quem foi o agressor? E nas guerras defensivas no Iraque quem foi o agressor? E agora na Síria?

José disse...

A discussão também pode servir para isso, ou seja para difusão de propaganda. Distinguir informação e propaganda nesse aspecto é quase ocioso porque ao defendermos a nossa posição estamos a propagandeá-la.

José disse...

O que nós fazíamos então era precisamente isso: propagandear as nossas ideias que achávamos certas. Com o senão de não podermos ouvir livremente a parte contrária que poderia facilmente ser derrotada com o verdadeiro imperialismo que praticavam sob a capa de "libertação dos povos". Isso também se dizia na nossa propaganda e Marcello Caetano fê-lo como ninguém, nem sequer Salazar.
E no entanto teria sido mais eficaz deixar essa voz da oposição com liberdade para dizer tal coisa e combatê-la com as mesmas armas, como se fez na Europa de então.

José disse...

O resultado dessa política de censura deu nisto: uma Esquerda Unida mais forte do que noutro país europeu e que não perdeu as veleidades de voltar ao "e tudo era possível".

O artigo da antiga terrorista Isabel do Carmo, é exemplo disso mesmo.

zazie disse...

Só uma pergunta ao José:

O José acha que esta nossa esquerda agora unida também o não está por cópia do Tsypras da Grécia ou Podemos de Espanha?

Eu sei que são diferentes. Mas a pergunta não é retórica- é mesmo genuína- estes, agora, os mais novos, e até os velhos do PS que se aliam aos comunas não estão também a seguir as unidades da mesma cor lá fora e pelos mesmos motivos (ou à boleia dos mesmos)?

José disse...

Esta esquerda unida, tal como há 40 anos não é unitária nos programas, nas tácticas e até na ideologia ( um m-l não é o mesmo que um trotska). Porém, comunga num objectivo comum: "o que faz falta é dar poder à malta" e depois quem tem unhas é que toca guitarra.

Na Venezuela o guitarón é desta esquerda que se uniu contra o imperialismo e combate o capitalismo em nome da pobreza, provocando maior pobreza.
Ideologicamente é uma amálgama de populismo esquerdista com laivos de messianismo que até junta católicos de terceiro-mundo.

Por cá parece ser um híbrido que vai parir uma ornitorrinca.

José disse...

O Boaventura Sousa Santos a governar seria uma bancarrota em seis meses, mas com discursos grandiloquentes que acabariam na supressão das liberdades democráticas e na diabolização da "burguesia" que não se afeiçoasse à miséria ambiente assim gerada.

José disse...

Ou seja, teríamos um PREC em farsa.

muja disse...

Bom se o argumento defensiva/ofensiva é sofisma então também o é necessariamente o da justiça da guerra. Se não há guerras defensivas não pode haver guerras justas.

Tem piada que fale na Síria porque o que se passa é muito semelhante e mostra como estas coisas não são espontâneas.

Da mesma forma que a UPA era um grupo de base tribal, apoiado militar, financeira e politicamente por potências estrangeiras, operando de fora para dentro do nosso território, e cuja formação foi possibilitada e facilitada pelo caos que se instalou a priori no vizinho Congo, assim é o ISIS um grupo de base sectária religiosa, apoiado militar, financeira e politicamente por potências estrangeiras, operando de fora para dentro do território sírio, e cuja formação foi possibilitada e facilitada pelo caos que se instalou a priori no vizinho Iraque.

A diferença foi que nós conseguimos repelir os ataques e conseguimos negar-lhes o nosso território. Os sírios não conseguiram e por isso se viram forçados a recorrer aos russos.

Portanto, é óbvio quem é o agressor, e o sofisma está mais em negá-lo, parece-me, do que em reconhecer a verdade evidente.

Não foi o povo angolano que se revoltou ou insurgiu ontem, como não é o povo sírio que o faz hoje.

Assente isto, e sendo claro como era na altura, qual o benefício de permitir a quem nos combatia na frente, o fizesse livremente também na retaguarda? Que havia para esclarecer? Que há hoje para esclarecer em relação aos ISIS, excepto quem os paga e quem os arma?

Aliás, hoje tolera-se alguém que defenda os ISIS ou defenda que se lhes entregue alguma coisa? Vão logo presos por apologia do terrorismo, nem que sejam cachopos imberbes na brincadeira nos twitters...

muja disse...

E o mais triste é isto mesmo.

O que nós andámos a combater sozinhos em África durante treze anos pouca ou nenhuma diferença tinha para esta trampa do ISIS. Até a farsa dos vários "movimentos", uns moderados outros coiso e tal, que se combatiam entre si, é a mesma.

Agora pergunto eu: que solução política é que há para a Síria? Alguém acredita que se o presidente saltasse fora que os ISIS e os outros iam entregar as armas e pronto? Mas é isso que dizem que ia acontecer em África, e que a culpa é nossa porque não se encontrou solução política.

zazie disse...

Pois é, José. As idiossincrasias caseiras tornam isto mais perto da Venezuela que outra coisa.

José Luís disse...

Nos anos 70, pós 25/4 o meu jornal era “O Dia”, e também o “jornal novo”, já não me lembro qual apareceu primeiro.
Assinante desde o primeiro número de “A Rua” e também da revista “A Resistência” e do “Jornal Português de Economia & Finanças”.
Nos anos que vivi em Espanha lia o “ABC” e ao Domingo também o “El Mundo”.
Desde há meia dúzia de anos a esta parte que compro o CM porque considero que é um jornal independente e que ataca o compradio e a corrupção, quer seja de direita quer seja de esquerda.
A critica frequente sobre os temas de faca e alguidar que publica com regularidade dá-me vontade de rir por dois motivos:
Primeiro, porque um jornal não é como um livro, ou seja, cada um lê só o que lhe interessa; há quem leia as páginas de desporto, há quem leia o horóscopo e também haverá muitos leitores que gostam dos temas de sangue e crimes. Não é por acaso que é o jornal que mais vende como já foi aqui referido.
Segundo, estes temas ditos como próprios de um pasquim muitas vezes aparecem à noite no noticiário de “referência” da SIC às 20h.
Escusado será dizer que há anos que não compro o “Espesso”.

josé disse...

muja: a questão parece-me ser outra como a enunciei e que é a relativa posição de defensor/ofensor, consoante o lado em que nos encontramos. Não discuto a razão de cada um, mas a posição que ocupa e a relativização que daí decorre.

Um terrorista para nós pode ser um herói para os seus.

josé disse...

A Catarina é a ornitorrinca de serviço.

josé disse...

O Louçã um trotska dissimulado a sonhar com a revolução permanente que agora antevêem numa possibilidade de acesso ao poder por via para-eleitoral. Não ganharam votos suficientes para tal mas ganharam a legitimidade de se associarem a uns kerenski de circunstância e por isso se agarram como lapas ao "e tudo era possível".

Se esta onda passar nunca mais terão oportunidade.

Maria disse...

"Da mesma forma que a UPA era um grupo de base tribal, apoiado militar, financeira e politicamente por potências estrangeiras, operando de fora para dentro do nosso território, e cuja formação foi possibilitada e facilitada pelo caos que se instalou a priori no vizinho Congo, assim é o ISIS um grupo de base sectária religiosa, apoiado militar, financeira e politicamente por potências estrangeiras, operando de fora para dentro do território sírio, e cuja formação foi possibilitada e facilitada pelo caos que se instalou a priori no vizinho Iraque.

A diferença foi que nós conseguimos repelir os ataques e conseguimos negar-lhes o nosso território. Os sírios não conseguiram e por isso se viram forçados a recorrer aos russos.

Portanto, é óbvio quem é o agressor, e o sofisma está mais em negá-lo, parece-me, do que em reconhecer a verdade evidente.

Não foi o povo angolano que se revoltou ou insurgiu ontem, como não é o povo sírio que o faz hoje.

Assente isto, e sendo claro como era na altura, qual o benefício de permitir a quem nos combatia na frente, o fizesse livremente também na retaguarda? Que havia para esclarecer? Que há hoje para esclarecer em relação aos ISIS, excepto quem os paga e quem os arma? Muja


"O que nós andámos a combater sozinhos em África durante treze anos pouca ou nenhuma diferença tinha para esta trampa do ISIS. Até a farsa dos vários "movimentos", uns moderados outros coiso e tal, que se combatiam entre si, é a mesma." Muja

Não posso concordar mais com o que Muja escreveu e que reproduzo acima. Palavra por palavra, todas elas reflectem a realidade tal como ela se vivia na África Portuguesa antes do 25/4 e em contraposição àquela que se tem vivido em todos aqueles territórios desde 1975 até aos dias de hoje.
(cont.)

Maria disse...

(conclusão)

Quem nunca esteve em África e sempre 'viu' à distância os seus problemas advindos do terrorismo, que, é bom não esquecer, foi despoletado no exterior e introduzido secretamente no interior dos territórios, poderá discordar e respeito, mas não pode emitir opiniões com conhecimento de causa sobre a vivência e a maneira de pensar daquelas populações, simplesmente porque - e isto é absolutamente natural - não teve a oportunidade de lá ter vivido o tempo necessário para poder ter confraternizado e contraído amizade com pessoas de todas as origens rácicas e sociais, podendo constatar in loco o seu sentir patriótico genuíno e o seu desejo (ou não) de se independentizar do Portugal europeu, adquirindo a experiência e conhecimento daí resultante.

Felizmente que tive a sorte de ter visitado Luanda e lá ter passado algum tempo antes do infausto 25/4 (e também estive, numa passagem embora curta, na Beira/Moçambique) e lá ter vivido o tempo suficiente para me ter inteirado dos problemas sociais daquelas gentes, caso estes tivessem existido. E de facto não existiam. Tudo o que se disser em contrário é pura hipocrisia e um cinismo desmesurado. A razão das mentiras monstras malìgnamente propaladas durante décadas pelos comunistas, socialistas e extremo-esquerdistas, deve-se ùnica e exclusivamente à cobiça e inveja das duas potências (sendo aqueles seus paus-mandados) relativamente aos três bens indissociáveis que nos pertenciam, como Povo, por direito próprio: o primeiro deles era o imenso poderio geo-estratégico de Portugal dada a sua enorme extensão territorial complementada por uma quase gigantesca zona marítima exclusiva; o segundo, a ganância incontrolável de a curto prazo poderem vir a apoderar-se das riquezas fabulosas existentes no solo e sub-solo angolanos, realidade esta só passível de poder ser alcançada recorrendo a grupos terroristas organizados e financiados pelas ditas potências, o que veio efectivamente a acontecer; o terceiro "bem" e este difìcilmente alcançável, facto que lhes provocava, além da inveja de sempre, um ódio exacerbado contra o Dr. Salazar, era o facto de Portugal continuar a ser aceite como um parceiro legítimo no espaço europeu, tanto quanto respeitado internacionalmente como País Independente e Soberano. Este estado de coisas era considerado intolerável pelas duas potências e só havia uma maneira de ser alterado a seu contento, apoiar "lá fora" com muito dinheiro e logística intensiva, diversificada e permanente, um punhado de traidores à Pátria que conseguisse engendrar um plano infalível para derrubar o governo de M.C. e simultâneamente reunir "cá dentro" outros tantos vendilhões de pátrias, reles oportunistas gananciosos por estatuto, poder e dinheiro, que ajudassem à concretização do golpe. E foi isso que aconteceu.

Disse e repito, tivesse Gorbachov aparecido na cena política dez antes e o 25 de Abril nunca se teria verificado. O Prof. Marcello Caetano teria prosseguido com a modernização do seu projecto governativo. E a sanguinária 'descolonização exemplar' jamais teria ocorrido. E se por hipótese mais tarde algo do género tivesse vindo a ocorrer, nunca teria sido do modo criminoso e traidor como veio a suceder.

José disse...

"Disse e repito, tivesse Gorbachov aparecido na cena política dez antes e o 25 de Abril nunca se teria verificado. O Prof. Marcello Caetano teria prosseguido com a modernização do seu projecto governativo. E a sanguinária 'descolonização exemplar' jamais teria ocorrido. E se por hipótese mais tarde algo do género tivesse vindo a ocorrer, nunca teria sido do modo criminoso e traidor como veio a suceder."

Concordo, com uma nuance: era preciso ser 15 anos mais cedo porque o efeito Gorbatchev só se verificou em 1989 com a queda do muro. E sabemos que o PCP nunca aceitou tal facto consumado pela simples razão de que logo que aparece uma oportunidade de voltar ao passado comunista e soviético, acalentam esperanças que se traduzem em discursos, entrevistas e manifestações.

É essa a realidade que deveria ser exposta, hoje em dia, porque o PCP continua a viver nesse tempo. Por isso é que fossilizou.

muja disse...

Pois eu discordo completamente.

Basta olhar para o que os EUA fizeram desde essa altura pelo mundo para se perceber porquê. São tão capazes de coisas sanguinárias como o eram os soviéticos, senão mesmo mais. Ao menos na altura equilibravam-se um ao outro, como parece estar a ser o caso novamente com a Rússia.

Até certo ponto, e depois de treze anos de combate com êxito, era evidente, ou deveria sê-lo, que não se alteraria a situação por pressão militar exterior. O tempo corria a nosso favor.

O Prof. Marcello Caetano cometeu um erro grave que lhe determinou o destino e o do país: descarnou-o dos tais chamados mitos serôdios - que era mística, na realidade, e que é uma coisa diferente - que era o que o mantinham coeso ao redor dos objectivos nacionais, nomeadamente, a defesa do ultramar.

Há um discurso que é ilustrativo disto, não me recorda agora qual ao certo, mas posso descobrir, em que ele desmonta uma por uma as razões que nos levavam a defender o ultramar, não restando senão a humanitária, digamos assim. Ora, previsivelmente, aconteceu o que aconteceria se alguém quisesse hoje mobilizar os portugueses para ir combater para a Síria ou Iraque, por razões humanitárias... E mais, com isso deu alento à campanha internacional contra nós, que em 68/69 estava já bastante adormecida por verificar que era inútil e não demovia Portugal da sua orientação.

E de uma forma geral também se pode dizer que ele procurou um meio-termo que agradasse aos nacionalistas e à esquerda mais ou menos liberal, e acabou por desagradar a todos. Acabou traído por esses todos a quem procurou abrir o regime, como quase sempre acontece, porque havia boas razões para este lhes estar fechado e limitado. São as mesmas pelas quais hoje estamos como estamos.

Mais do que culpar Caetano, porém, deviam extrair-se lições. E não creio que seja fazer o que ele fez mais depressa. Não digo na parte técnica da governação obviamente. Mas no plano político o que ele fez não podia, na verdade, resultar de forma muito diferente. Ao quebrar a mística da defesa do ultramar, acabou precipitando os acontecimentos e ficou impotente para os dominar. Alienou com isso a parte nacionalista do regime, que era na verdade a sua base de apoio, e não se apercebeu que nunca conseguiria agradar à parte liberal, melhor dita de esquerda, que é, como sabemos, completamente insaciável em todos os aspectos. É estranho como ele percebia isto em relação ao exterior e se deixou enredar pelo mesmo fenómeno no plano interno.










muja disse...

Ele podia ter procedido a uma liberalização do regime, se lhe contrapusesse um endurecimento em relação ao ultramar. E tal não é paradoxal, porque uma coisa equilibra a outra: a liberalização tende à desagregação, que seria activamente contrariada pela unidade em torno do ultramar que era um objectivo que transcendia a política sectária. Na realidade, tal fenómeno não era novo e funcionou durante toda a 1ª República. Era mesmo dos poucos, senão o único, factor de coesão nacional.

Ele não devia ter descarnado o país da mística, devia tê-la reforçado. Dessa forma não teria alienado a sua base nacionalista, o que lhe daria força suficiente (ao menos em princípio) para dominar o apetite insaciável da esquerda.

Anjo disse...

Esta ideia do Muja faz sentido. Durante a I República, as possessões ultramarinas nunca foram questionadas. Aliás, Portugal participou na Grande Guerra para as preservar.

Não sei se mística é o conceito em causa, mas andaria por aí. Um factor de coesão nacional. Talvez o Prof. Marcello Caetano não fosse tão hábil a congregar as pessoas em torno do interesse nacional.

No entanto, nos anos 60, já a opinião pública nacional e internacional começava a ser intoxicada com o discurso da autodeterminação dos povos - os tais ventos da História de que se tem falado aqui. Os dirigentes teriam de construir uma contra-narrativa e ajudar a desmontar essa outra.


josé disse...

"O Prof. Marcello Caetano cometeu um erro grave que lhe determinou o destino e o do país: descarnou-o dos tais chamados mitos serôdios - que era mística, na realidade, e que é uma coisa diferente - que era o que o mantinham coeso ao redor dos objectivos nacionais, nomeadamente, a defesa do ultramar."

Discussão interessante.

Será que Salazar não foi o percursor desse putativo erro?

É que tenho para mim que Salazar não acreditava nesses mitos nem precisava deles para nada porque tinha os seus que eram muito mais elevados e interessantes até.

Toda a gente do campo os tinha e se calhar continua a ter...

Maria disse...

Tem razão José. Lapso meu. De facto aqui há tempos escrevi sobre este assunto e mencionei 15 anos. Creio que até mencionei 15 ou 20. Mas diria mais.De facto 15 ou 20 anos teria sido o ideal tanto para nós que não teríamos tido a desgraça do 25/4 tal como aconteceu, assim como seriam libertados muitos outros povos que viviam sob o regime opressor do comunismo.

Gorbachov (chev?) não é muito querido no seu país, mas em contrapartida para os povos dos países de Leste e para o mundo em geral, ele foi um verdadeiro herói. Há quem diga que tudo estaria melhor como estava antes da queda da U.S., as duas potências equilibravam-se entre si dado o poderio bélico de ambas as partes, supostamente para fazerem frente às ameaças mútuas (reais ou hipotéticas..., parece que eram mais estas - Reagan, remember?). Talvez.
A única coisa que eu sei é que o primeiro pensamento que me veio à ideia logo após a implosão da União Soviética, obra fantástica, esta, improvável e inesquecível, levada a efeito por Gorbachov, foi que este grande homem merecia que lhe fosse erigida uma estátua monumental. O meu contentamento nessa altura era tal que até disse aqui em casa, aos meus, com ar muito sério... "pelo que fez, este homem merecia uma estátua da Terra ao Céu":))

Quanto ao Prof. M. Caetano, na minha modesta opinião ele só cometeu um erro crasso, que o perdeu. Resolveu tratar de igual para igual os dirigentes-apátridas-traidores comunistas e socialistas, como se eles fossem digno de semelhante honra. Cunhal foi toda a sua vida um traidor à Pátria, só espiou a favor da U.Soviética e levou décadas a conspirar contra o País onde nasceu e que no entanto nunca foi o dele. E Soares, seu pupilo e irmão gémeo político, foi e é outro traidor-mor, um pseudo socialista que, a mando do seu tutor e da maçonaria sionista à qual prestou juramento e obediência cega, vendeu a Independência e a Soberania de Portugal aos dois imperialismos por dez réis de mel cuado, ordenando simultâneamente um genocídio de dimensões bíblicas na África portuguesa, a maior tragédia humana provocada criminosa e intencionalmente sobre seres indefesos desde que Portugal existe como Nação.

Este homem desalmado, Soares, pelo tremendo mal que nos fez só pode ter sido um enviado do Diabo. Ele encarna o satanismo, está mais do que provado. Ele é um comunista consumado e é-o desde a juventude, nunca deixando de o ser. Uma vez comunista, para sempre comunista.

As Constituições dos países civilizados, incluíndo o nosso, estabelecem de modo peremptório que a traição à Pátria é punida com a pena de morte. Era/é a esta que estes dois traidores à Pátria, a que se juntaria um punhado de apaniguados igualmente criminosos e às suas ordens, deviam ter sido/deveriam ainda ser/julgados e condenados a prisão perpétua, isto em alternativa à pena de morte por esta inexistir no nosso C.P. Embora a mesma se pratique sem rebuço em muitas 'democracias' avançadas que eles idolatram (hipócritas dum raio) como por exemplo os democratíssimos Estados Unidos que neste particular levam a palma.

Anjo disse...

"É que tenho para mim que Salazar não acreditava nesses mitos nem precisava deles para nada porque tinha os seus que eram muito mais elevados e interessantes até.

Toda a gente do campo os tinha e se calhar continua a ter..."

A que se refere o José? Que mitos têm as pessoas do campo e tinha Salazar?

josé disse...

O mito melhor que pode haver: o do realismo dos antepassados e da tradição genuína que vem de geração em geração.
O que se passava nos campos com os rurais era uma cultura que tinha uma consistência separada da modernidade mas que era perene nos valores fundamentais.

Para mim o cume dessa cultura está na escolha da pedra tumular porque é preciso muita tradição acumulada para tal suceder e compreendê-lo.

E isso é um mito melhor que o dos adamastores e do quinto império que nunca existiu, nem sequer em poema épico copiado dos greco-romanos.

josé disse...

No outro dia contaram-me uma história na primeira pessoa:
Nos anos sessenta umas pessoas com responsabilidades políticas no Norte foram a Lisboa e de regresso foram ao Vimieiro visitar o presidente do Conselho que estava em férias, na sua quintinha, onde produzia vinho que tinha gosto em dar a provar.

Abriu uma das garrafas da Quinta das Ladeiras e os circunstantes beberam...e vieram embora, depois dos salamaleque ao Snr presidente do Conselho.

Na viagem de regresso um deles perguntou: e o vinho, que tal? E todos concluiram que estava estragado e sabia a vinagre. Mas ninguém teve coragem suficiente para dizer isso ao anfitreão...

Esta petite histoire para mim diz muito sobre Salazar e o regime. O facto da visita é interessante porque Salazar recebeu os circunstantes, todos da "situação", na sua casa de férias. Deu--lhes vinho que tinha chieira em fazer. E mesmo estragado nenhum deles foi capaz de o dizer.

Anjo disse...

"O mito melhor que pode haver: o do realismo dos antepassados e da tradição genuína que vem de geração em geração."

São bem bonitos, na verdade, mas nada me parecem ter de contraditório com a ideia nacionalista, antes a reforçam. As gerações de antepassados são depositárias de algo que nos é comum (um património de saberes, mundividências e - porque não - territórios "conquistados" ou colonizados graças a essas mundividências) e que corresponde à nossa identidade. Logo, devem ser ambos protegidos e transmitidos, sobretudo se estivermos convictos de que são legítimos. Acaba por ser uma mística também, a da continuidade da comunidade que partilha esse património.

É aquilo que nos falta hoje. E talvez falte a outros povos. A ideia saiu de moda, por ter sido escarnecida até mais não. Hoje propagandeia-se o multiculturalismo, o internacionalismo, o cosmopolitismo. Em suma, a diluição. Mas o indivíduo tem horror à diluição, como a natureza tem ao vácuo. Precisa de se ancorar em terreno mais firme.

Há quem defenda que a ideia "sou um cidadão do mundo" é um absurdo, já que a cidadania se constrói num local e ambiente concretos. Fica-se sempre com essa marca de água. Não vejo qualquer problema em se querer preservar e transmitir tal matriz.

Seria isso que Salazar pensava?

A história do vinho está de morte! Dava tudo para ver a cara de Salazar, que certamente conhecia o sabor da sua produção.

muja disse...

Como dizia Jack o estripador: vamos por partes.

Primeiro, Marcello.

Talvez o Prof. Marcello Caetano não fosse tão hábil a congregar as pessoas em torno do interesse nacional.

Não creio. Marcello foi dirigente da Mocidade, foi presidente da comissão executiva da União Nacional, presidente da Câmara Corporativa, para além de várias vezes ministro. Para além disso, as pessoas gostavam dele e, não obstante ser visto com desconfiança por alguns elementos, foi quem obteve consenso geral para suceder a Salazar. Era, aliás, bem mais hábil e afoito perante as massas do que Salazar.

Portanto, não me parece tratar-se disso. Acho que foi mesmo um erro político que ele cometeu. Como diz a Maria, creio que terá esperado demasiado de certas correntes que se apoiaram nele e no que ele simbolizava para alcançarem o poder. Ele próprio confessa a sua amargura e diz que foi traído. Os francisquinhos e outros já na altura faziam das suas. Ele lá deve ter calculado que podia apoiar-se neles para dominar as correntes nacionalistas e, por sua vez, nestas para manter na mão aquelas. No fundo jogar umas contra as outras e manter assim o equilíbrio.

Não é estranhar porque era isso que Salazar fazia e fê-lo, inclusivamente, com Caetano que se dizia chefiar uma corrente civil dentro do regime em oposição a uma outra militar de Santos Costa, salvo erro. A diferença, no entanto, para além da perspicácia lendária de Salazar, era que este normalmente quando se mexia fazia-o totalmente. Ou seja, à minima contradição ou suspeita imediatamente punha o lugar à disposição do PR. É difícil manobrar ao redor de alguém assim, porque essas manobras geralmente dependem de um apego ao poder - que Salazar podia ou não ter, mas que não hesitava arriscar para não ser encurralado.

E Marcello deixou-se encurralar. Abriu o flanco na questão do ultramar, que minou o apoio nacionalista e depois não obteve o apoio da ala mais liberal do regime com que suponho contava. Quando Costa Gomes o encostou à parede, estava só. Creio que Salazar, admitindo que se deixaria enredar por uma situação semelhante, teria confrontado o PR com uma demissão do governo bem antes de as coisas chegarem a tal ponto.

Tal, porém, não desculpa os sectores nacionalistas que, não obstante a razão que pudessem ter, deviam ter tido sentido de estado e não o deixar cair. Não estiveram à altura da situação.

muja disse...

Quanto à mística, acho que a posição do José, desde logo, subestima Salazar.

Ele podia bem ter, e teria com certeza, essa visão das coisas e indubitavelmente eram essas as suas raízes. Porém, Salazar era muito subtil e perspicaz e não há dúvida de que compreendia que essas raízes não podiam constituir uma base comum a todas as pessoas e a todo o país. Era necessária uma base nacional mais ampla e é óbvio que sempre se tentou cultivar tal coisa durante todo o Estado Novo, e tal foi encorajado por ele, como o atesta a minúcia com que se inteirava de tudo o que tivesse que ver com o protocolo de Estado e celebrações públicas, desde as celebrações do 28 de Maio ao Cristo-Rei, ou as visitas de dignatários estrangeiros, e a tudo emprestava significado político, e cujo apogeu foi a Exposição do Mundo Português que ele fez questão que se realizasse em plena guerra mundial.

A Exposição é bem o símbolo máximo dessa mística. É a celebração da portugalidade no seu sentido mais abrangente que é como a via a doutrina do Estado Novo. Portugal não era somente um país periférico da Europa, confinado entre um vizinho poderoso e um oceano imenso. Era um país à dimensão mundial que se reconhecia como tal, não só no plano geográfico, mas no plano cultural. Conhecedor da sua história, do seu património e do seu próprio caminho, e determinado a percorrê-lo.

Mas destinava-se tanto ao interior como ao exterior, senão mais ainda. Procurava definir e estruturar a mística portuguesa, sintetizar oitocentos anos de história, de uma epopeia épica numa unidade consistente e coesa, que cada português pudesse ter em mente. Há uma obra que se fez no âmbito da exposição, e que ilustra bem tudo isso: é um livro chamado - Portugal. Breviário da Pátria para os Portugueses Ausentes - publicado em 46 e que é uma espécie de mini-exposição do Mundo Português. Contém os factos essenciais da realidade específica portuguesa, acessível a todos e é uma pequena maravilha de publicação. Lembro-me de o ver lá por casa anos a fio até que um dia, quando me dispunha a comprá-lo, percebi que já o tinha!

josé disse...

"Procurava definir e estruturar a mística portuguesa, sintetizar oitocentos anos de história, de uma epopeia épica numa unidade consistente e coesa, que cada português pudesse ter em mente"

Essa mística é essencialmente propagandística e Salazar, inteligente como era, tinha a noção disso.
Em que é que tal coisa seria importante? Vejo apenas um aspecto: contentar o regime e a situação, criando um ambiente como os soviéticos tentaram criar com as grandiosidades arquitectónicas e a desmesura das paradas militares. Com a superioridade da "raça" à custa de anabolizantes, etc etc.

O que significa tal coisa na verdade?

Pouco de real e substancial a não ser o lado estético que é importante e fica.
Porém, tudo isso é dos anos 40 e Portugal não começou aí nem sequer mais ou menos.

Portugal, essencialmente é outra coisa e muito mais interessante que isso.

josé disse...

No séc. XIX, de Eça e Ramalho e ainda Camilo, que Portugal tínhamos que veria esses mitos?

Nenhum. Nenhum mesmo.

josé disse...

E no entanto Portugal existia no Nação com séculos de História. Só que não havia ainda esses mitos em propaganda acelerada.

Havia os Lusíadas. Mas...o que pensariam Camilo, Eça e Ramalho só para falar nestes da "geração de 70" de tal obra e significado?

muja disse...

Qualquer um desses nomes aplaudiria a Exposição do Mundo Português. Disso não tenho a menor dúvida nem vejo como pode afirmar tal coisa.

Mas sempre lhe pergunto, se Portugal é outra coisa, e assim tão interessante, qual coisa é ela?

zazie disse...

Um detalhe que me parece pertinente, nessa visita ao Salazar:

O José sabe se ele ofereceu o vinho e não bebeu também?

zazie disse...

É uma nacionalidade própria num todo peninsular, que se impôs à sombra da Igreja e se manteve independente até aos nossos dias.

Para isso não foi preciso África. Temos uma identidade própria e bem específica, sem regiões e que nunca foi abarcada por nenhum Império (ao contrário do que se passou em Espanha e em toda a Europa).

E, para tal, também não foi preciso terras além fronteira porque lhes é bem anterior.

zazie disse...

O mito do Quinto Império passa por cima disto, inventando uma realização de um povo no final dos Tempos.

Tudo antes é incompleto e só ganha sentido com a realização do mito.

muja disse...

Nunca foi abarcada por nenhum império excepto quando o foi, com a dinastia Filipina.

E nunca houve terras além fronteira...

E impôs-se à sombra da Igreja ou apesar da Igreja?

zazie disse...

A dinastia filipina praticamente nem conta- foi coisa dinástica, como podia ter sido em sentido inverso.

Germinou à sombra dos mosteiros na zona de Entre-Douro e Minho

Qual é a parte que não se entende nesta evidência?

zazie disse...

Que apesar? A Mumadona Dias e outros eram ateus?

V.s vêm sempre com a desconversa jacobina ao lado.

muja disse...

Mas qual conversa jacobina? A desconversar está V. com as acusações de psicologia de tasca.

Mas o Vaticano alguma vez nos deu alguma coisa?

À sombra da Igreja, da religião cristã, cresceram todas as independências da Europa. E então? Em que é que isso é específico de Portugal?

muja disse...

De resto, essa da "coisa dinástica" nem merece comentário...

muja disse...

Podia ter sido em sentido contrário... AHAHA! Tenho uma ponte para venda, se quiser comprar.

zazie disse...

Pois podia. O D. Afonso V ia indo a rei de Espanha.

Qual é a dúvida e qual a dúvida acerca do catolicismo na Península Ibérica e na base de Portugal?

Específico nas fronteiras e na cultura própria que não precisou de África para existir.

Os milenarismos não dizem isto. Dizem que Portugal só se cumpriria com o Quinto Império.
Esse Quinto Império não são meras possessões africanas, brasileiras ou orientais. Estavam para além disso e por isso se fala em mito.

zazie disse...

Ou v. quer dizer que Portugal nunca existiu como país específico e só existiria se cumprisse esse tal ideal?


Eu não acuso de nada; v. é que escreve e até coloca em itálico.
Mas passo porque consigo é sempre assim. Impossível ter conversa sem que faça rábula de vitimização ou demagogia ao lado.

zazie disse...

Por que é que "essa coisa dinástica" nem merece comentário?

O Carlos V era o quê e foi a Imperador de quê e por que motivo?

muja disse...

E se Afonso V fosse a rei de Espanha quem é que, mais tarde ou mais cedo ia mandar em Portugal? Os portugueses ou os espanhóis?

V. acusa sim. Acusou de jacobinismo e nem percebeu o que se estava a dizer. Porque se se refere a Igreja como sendo a instituição com sede no Vaticano, que até tinha poder temporal, então não foi à sombra da Igreja que Portugal se constituiu como país independente, mas apesar dela; se se refere à Igreja como religião, então isso nada tem de especial quanto a Portugal e pode ser afirmado acerca de praticamnete todos os países europeus.

De resto, eu não falei de V império nem disse que isso era parte da mística de que se está a falar, porque não é. É exemplo seu para dirimir o resto.

De resto, quem lhe diz a si que os reis não tinham já África em mente? Porque é que chegados a Lisboa, orientaram a campanha para dentro, procurando alcançar a costa sul no ponto mais interior possível? A razão é a mesma que os levou a África.

zazie disse...

Que sede? não diga disparates.

Passo

zazie disse...

Eu escrevo que Portugal se impôs à sombra da Igreja.

V. vai e responde:

«E impôs-se à sombra da Igreja ou apesar da Igreja?»

A seguir atira-se ao ar: ai que horror, estão a chamar-me jacobino, que maldade que calúnia e faz a birra da praxe.

Não dá.

muja disse...

"sede", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/sede [consultado em 05-11-2015].

Não se faça de parva. Brandiu logo o jacobinismo, agora desculpa-se porque viu que se precipitou.

Passe, pois. Aproveite e vá passear também.

zazie disse...

Precipitei-me?

eheheheh

josé disse...

Não sei se bebeu do vinho oferecido mas a historieta não me parece apócrifa porque foi contada por quem ainda a viveu contada na primeira pessoa de quem lá esteve.

Porém, também me ocorreu tal dúvida. Mas para se contar dessa maneira é porque o vinho não estaria lá muito bom e eles não foram capazes de dizer nada a Salazar. E um deles tinha peso político muito grande no Norte de então.

Foram ao beija mão e com grande entusiasmo porque era assim nessa altura.

Quanto ao vinho tenho a dizer o seguinte: tenho em casa uma garrafa desse vinho de 1970.
Um amigo meu tinha uma e bebeu-a e disse que estava bom. A colheita é de 1970 ano em que Salazar morreu.

Quem ma deu, no entanto disse-nos que não garantia a qualidade do vinho. É um sobrinho-neto de Salazar.

josé disse...

Essa garrafa é das coisas que mais estimo, pelo simbolismo que representa.
O meu amigo que a bebeu é comunista. Sério.

zazie disse...

ehehe Que engraçado

A obscenidade do jornalismo televisivo