segunda-feira, outubro 05, 2009

O paradoxo da igualdade da esquerda

Na revista francesa Philosophie, o historiador Jean-Louis Margolin, explica como as ditaduras comunistas de leste, ainda hoje modelos de construção social, para o PCP ( e para o BE inspiradores ideológicos), transformaram o sonho de igualdade num pesadelo inominável.

"Políticas extraordinariamente desigualitárias foram efectivamente instauradas em nome da igualdade.
Na China, nenhuma casta tinha jamais existido. O maoísmo criou-as! Na sequência de longas pesquisas genealógicas, cada indivíduo deveria estabelecer um ficheiro social. De categoria vermelha- a boa-, ou negra- a má, o ficheiro tornava-se um destino. Os proprietários de terras, mesmo desmantelados ou arruinados, os pequenos funcionários, os capitalistas e os intelectuais foram banidos da sociedade de um dia para o outro. Não tinham o direito de entrar no Partido, foram privados dos bons empregos. Sobretudo, faziam parte dum viveiro de suspeitos, regularmente instados a desculparem-se, a reescrever a biografia. Na altura das campanhas políticas, eram os primeiros a ser perseguidos, mesmo assassinados.
O os filhos não podiam escapar a esta herança. Na Coreia do Norte ainda hoje é assim.

E como compreender esta contradição?

É preciso regressar à teoria marxista-leninista que prevê que o futuro da humanidade se divide em dois períodos. A longo prazo, o Estado dissolve-se o todos os homens serão iguais. Enquanto se espera, há um período transitório de edificação do socialismo que passa pela expropriação, pela violência- Estaline falou mesmo em acentuação da luta de classes. Ora, nenhum país que se reclamou do comunismo jamais passou desta transição. Pelo contrário, o marxismo-leninismo não previu outro fenómeno, a organização dos quadros do partido em nomenclatura privilegiada. Portanto, foram os homens do aparelho que apanharam as datchas na Rússia, os armazéns especiais, certos cuidados médicos e os carros de função, na China e na Coreia do Norte.
( tradução livre da entrevista ao historiador , autor do Livro Negro do Comunismo, uma das obras mais detestadas pelo PCP )

A esta descrição crua e nua da realidade dos países comunistas, acrescenta-se o estudo académico de um historiador britânico, Orlando Figes, entrevistado pela revista L`Express desta semana, por ocasião da publicação do livro Les Chuchoteurs ( Os bisbilhoteiros, em tradução livre e em inglês, The Whisperers). O livro trata da história oral, recolhida em centenas de entrevistas com sobreviventes do período de terror estalinista.
Um período durante o qual se procurou estabelecer a maior igualdade possível, eliminando...a vida privada, a família, as crenças, as relações de amizade.

Uma das histórias mais aterradoras que o autor conta, prende-se com um escritor russo desse tempo: Constantin Simonov. Nascido em 1915 numa família nobre, durante a infância assistiu à prisão de familiares e sobreviveu apagando a referência às suas origens aristocráticas, transformando-se em escritor proletário.
Em 1934, Simonov escrevia "prosa revolucionária". Enquanto outros membros da sua família eram presos uns a seguir aos outros, escrevia poemas à glória de Estaline e aos grandes trabalhos da época, na Sibéria, realizados pelos prisioneiros do gulag...os seus poemas de amor, durante a segunda Guerra Mundial, inspiraram filmes. Em 1945, era o escritor preferido de todos, Estaline incluído. Ei-lo catapultado à cabeça da União dos escritores- um organismo que controla, de facto, tudo o que se escreve. Durante a campanha antisemita, a partir de 1947, Simonov teve de denunciar vários amigos próximos. Isso contraria-o: não é antisemita e a mulher é de origem judaica. Mas denuncia alguns escritores, como lhe pedem para fazer e, como tem má consciência, dá-lhes ajuda financeira.
No fim dos anos setenta, escreve as Memórias e explica até que ponto sente vergonha...

Com estes factos e relatos, a que se podem acrescentar milhentos deles, alguns mais recentes e contados com grande pormenor pelos perseguidos na Alemanha de Honnecker, pela STASI, ainda hoje o PCP defende com todo seu aparato ideológico as mesmas soluções políticas que conduziram a este terror que em nada se compara com o da ...Pide. E no entanto, a Pide contina a ser o grande paradigma do terror comunista. Isso e o fascismo.
Será preciso tanto autismo? Até onde irá o embuste comunista deste PCP e deste BE, que sufraga as mesmas soluções totalitárias?

E, evidentemente, quem isto escreve só pode ser reaccionário, de direita, porventura fascista. Era assim que se eliminava psicologicamente alguém, nos idos de 1975. E ainda hoje é assim. Exactamente como se fazia na Rússia soviética com os putativos dissidentes, numa lógica implacável. Como discordavam do bem comum para o povo, fixado pelo comité central do partido, só poderiam ser loucos. E por isso internavam-nos em hospitais psiquiátricos...

4 comentários:

joserui disse...

Muito bom! -- JRF

joserui disse...

Já desisti de discutir isto. Tornei-me mais sábio. Ainda há pouco, ouvi o camarada Gerónimo no Seixal -- um exemplo acabado de desordenamento, betão e segundo consta corrupção em larga escala (sempre os três de de mão dada em todo o país) --, mas dizia o camarada, que se tem andado para trás porque se perderam "conquistas de abril", como as nacionalizações. Vá o José ao Seixal tentar explicar que foi exactamente essa conquista que mais nos fez andar para trás.
Já há uns anos em conversa com um comuna radical, perguntava eu se ainda não chegou de experiência comunista, tanto morto, tanta miséria, etc. Resposta: Se queria que me contasse como a CIA coloca cal (se me lembro) no leite das crianças cubanas. Não, não queria. Preferia uma conversa racional, mas é impossível.
Portanto, acabaram-se conversas com comunas. O José aqui prega aos convertidos, para não dizer no deserto. Mesmo que aqui viesse um comuna comentar, pouco interessado estaria em argumentos. Aquilo é mais esoterismo que política. É uma religião e agora até têm um santinho para o mausoléu do templo.
E agora que falamos do assunto, comigo também se acabaram conversas com socretinos. Duas experiências recentes "a modos que me chegaram". -- JRF

josé disse...

José Rui:

Há muitos anos que dei conta disso, da inutilidade imediata na discussão política e ideológica com comunistas.

Há muitos anos, em 1977, comprei um livro escrito por um Pulitzer americano, intitulado Os Russos. O elenco das malfeitorias comunistas, da repressão, da censura e do modus vivendi nos países do Leste europeu é aí dissecado de modo que se lê muito bem.
O livro vendeu por cá, na altura, sob a chancela do maçónico da Europa-América, Lyon de Castro. Portanto, insuspeito de reaccionarismo porque amigo de outros próceres da seita., como Mário S.
O livro nessa altura foi devidamente execrado pelos comunistas ainda posicionados no aprelho de Estado, como mera propaganda anti-comunista. Claro que os factos eram completamente obnubilados por argumentos do teor de que a CIA e patati, patata. A CIA, para os comunistas foi sempre o papão que o KGB nunca conseguiu ser para os ocidentais da liberdade. A CIA, em 1975 fazia a capa regular de revistas e jornais em Portugal. Até o Expresso se interessou pelo assunto de um barco ancorado no TEjo e suspeito de ligações à CIA. Porém, sobre o KGB nunca saiu uma única notícia nessa altura, sobre as suas actividades em Portugal. Sobre o facto de CUnhal ter enviado para a URSS parte do arquivo da PIDE, com nomes de colaboradores do antigo regime, etc etc, nada de nada até Mithrokin.
Portanto, a história comunista em Portugal, está por fazer.
Assim, discutir o comunismo com comunistas, é o mesmo que discutir a existência de Deus com um ateu. Aliás, o nível de não entendimento situa-se muito próximo desse tipo de diálogo porque o comunismo, para os convertidos, é um dogma.

No entanto, dá-me um certo gozo confrontar factos e ver reacções, porque muitos comunistas não são inteiramente sectários ( estou a pensar num António Filipe, por exemplo e que deve ser um fleumático destas coisas).

Para esses é que escrevo, porque sempre o fiz.

Por outro lado, recebo logo elogios de alto gabarito: fascista reaccionário e direitista, o que só demonstra o que escrevo.

zazie disse...

A História Comunista está por fazer, diz o José.

Pergunte-se ao JPP o que anda a fazer, já que se diz historiador do comunismo...

O Público activista e relapso