Qual é o acontecimento-pivô da sociedade portuguesa desta última meia dúzia de anos? O processo Casa Pia, sem dúvida alguma.
Foi esse processo que originou as maiores mudanças políticas e sociais, nesta última meia década.
Foi por causa do processo Casa Pia que a facção do partido socialista, situada mais à esquerda do espectro político, não tomou conta do partido como se aprestava. Foi por causa desse processo que se alterou o ritmo político a seguir ao governo Guterres e foi por causa dessas mudanças que surgiu a actual configuração de forças políticas no partido de governo.
Nos últimos quatro anos, várias leis penais e processuais mudaram por causa desse processo. Os magistrados, in totum, foram de algum modo perseguidos nas declarações públicas do próprio primeiro-ministro que os proclamou como privilegiados.
Socialmente, pode mesmo fazer-se uma espécie de dicotomia entre os que acreditam de algum modo nas vítimas dos factos relatados nesse processo e os que não só acreditam mas acolitam os arguidos e suspeitos.
Essa dicotomia assenta em vários fenómenos e um deles é o da partidarização da Justiça, por reacção às incumbências que dela emanam e se tornam desagradáveis para o poder político que governa.
É relativamente fácil, hoje em dia, situar cada um dos responsáveis políticos e institucionais, fazendo-lhe exactamente essa pergunta: acredita mais nas vítimas ou nos suspeitos?
Sendo este assunto do maior interesse nacional, torna-se incompreensível, escandaloso, sintomático e paradigmático do estado comatoso da nossa informação situada, o que aconteceu ontem e hoje, nesse nível da sociedade que se alimenta de notícias para vender o produto mediático.
Ontem, uma das principais vítimas dos factos relatados no processe Casa Pia, apresentou publicamente um livro editado pela Bertrand. Bernardo Teixeira apresentou-se pessoalmente para mostrar o livro que escreveu e se intitula "Porquê a mim?"
Ontem, houve uma televisão que o entrevistou brevemente, bem como à pessoa que o acompanhou na apresentação, Catalina Pestana que conhece os demais ofendidos e abusados da Casa Pia e que em duas ou três entrevistas disse o fundamental: acredita neles e no que dizem.
O semanário Sol deu o devido destaque no fim de semana. O resto dos semanários, moita carrasco.
Hoje, só um jornal diário de grande circulação, o Correio da Manhã, deu destaque ao assunto e mesmo assim, apenas com uma pequena entrevista à mesma Catalina Pestana. Do autor, ficou tudo no tinteiro virtual no disco do computador.
O Público que tanto destaque deu ao assunto do lado dos arguidos; o 24 Horas que ainda continua a dar, sempre ao lado dos arguidos e de alguns em particular; o Diário de Notícias que se interessa por tudo o que seja notícia desde que confirmada as fontes, pois nenhum desses jornais consagra hoje uma linha sequer ao assunto de ontem.
Não é notícia? Para esses jornais, não é. Porquê, isto assim?
Terão vergonha do assunto, os jornalistas desses jornais? Serão os directores que não permitem o alinhamento? Será tabu, escrever sobre as vítimas do caso?
É um mistério que Portugal seja assim. Mas é.
PS: Acabei de ouvir agora mesmo na abertura do Telejornal da RTP1, uma pequena notícia sobre o homicida de Ermelo. O pivô disse que o mesmo "terá morto a tiro" o oponente político. Terá? Este preciosismo jurídico que assenta na presunção processual de inocência, assenta já no espírito do redactor de notícias como o modo comum e corrente de narrar factos que sendo óbvios, ainda não foram julgados...é de rir.
Foi esse processo que originou as maiores mudanças políticas e sociais, nesta última meia década.
Foi por causa do processo Casa Pia que a facção do partido socialista, situada mais à esquerda do espectro político, não tomou conta do partido como se aprestava. Foi por causa desse processo que se alterou o ritmo político a seguir ao governo Guterres e foi por causa dessas mudanças que surgiu a actual configuração de forças políticas no partido de governo.
Nos últimos quatro anos, várias leis penais e processuais mudaram por causa desse processo. Os magistrados, in totum, foram de algum modo perseguidos nas declarações públicas do próprio primeiro-ministro que os proclamou como privilegiados.
Socialmente, pode mesmo fazer-se uma espécie de dicotomia entre os que acreditam de algum modo nas vítimas dos factos relatados nesse processo e os que não só acreditam mas acolitam os arguidos e suspeitos.
Essa dicotomia assenta em vários fenómenos e um deles é o da partidarização da Justiça, por reacção às incumbências que dela emanam e se tornam desagradáveis para o poder político que governa.
É relativamente fácil, hoje em dia, situar cada um dos responsáveis políticos e institucionais, fazendo-lhe exactamente essa pergunta: acredita mais nas vítimas ou nos suspeitos?
Sendo este assunto do maior interesse nacional, torna-se incompreensível, escandaloso, sintomático e paradigmático do estado comatoso da nossa informação situada, o que aconteceu ontem e hoje, nesse nível da sociedade que se alimenta de notícias para vender o produto mediático.
Ontem, uma das principais vítimas dos factos relatados no processe Casa Pia, apresentou publicamente um livro editado pela Bertrand. Bernardo Teixeira apresentou-se pessoalmente para mostrar o livro que escreveu e se intitula "Porquê a mim?"
Ontem, houve uma televisão que o entrevistou brevemente, bem como à pessoa que o acompanhou na apresentação, Catalina Pestana que conhece os demais ofendidos e abusados da Casa Pia e que em duas ou três entrevistas disse o fundamental: acredita neles e no que dizem.
O semanário Sol deu o devido destaque no fim de semana. O resto dos semanários, moita carrasco.
Hoje, só um jornal diário de grande circulação, o Correio da Manhã, deu destaque ao assunto e mesmo assim, apenas com uma pequena entrevista à mesma Catalina Pestana. Do autor, ficou tudo no tinteiro virtual no disco do computador.
O Público que tanto destaque deu ao assunto do lado dos arguidos; o 24 Horas que ainda continua a dar, sempre ao lado dos arguidos e de alguns em particular; o Diário de Notícias que se interessa por tudo o que seja notícia desde que confirmada as fontes, pois nenhum desses jornais consagra hoje uma linha sequer ao assunto de ontem.
Não é notícia? Para esses jornais, não é. Porquê, isto assim?
Terão vergonha do assunto, os jornalistas desses jornais? Serão os directores que não permitem o alinhamento? Será tabu, escrever sobre as vítimas do caso?
É um mistério que Portugal seja assim. Mas é.
PS: Acabei de ouvir agora mesmo na abertura do Telejornal da RTP1, uma pequena notícia sobre o homicida de Ermelo. O pivô disse que o mesmo "terá morto a tiro" o oponente político. Terá? Este preciosismo jurídico que assenta na presunção processual de inocência, assenta já no espírito do redactor de notícias como o modo comum e corrente de narrar factos que sendo óbvios, ainda não foram julgados...é de rir.
5 comentários:
Os jornalistas calam-se. Nunca mais existiram vítimas a não ser os opolíticos.
E as pombinhas da marcha branca? que lhes aconteceu, perderam o pio?
Depois dizem que não existe asfixia democrática...
Informação?ou antes PROPAGANDA?
Hoje uma amiga minha alemã falava-me do que mais gostava cá: a falsa boa educação. E, de facto, não lhe podia dar mais razão: não se fala da trupe da banca, por boa educação; não se fala do BE, porque é feio desembrulhar prendas antes do Natal; não se fala da Casa Pia, pois é falta de educação meter na praça pública os cus dos meninos e as pilinhas dos pulhas. O problema do país é, afinal, um excesso não de corrupção, mas de Educação.
Não sabia desse livro do ex-casapiano.
Mas já me tinha apercebido do "alegadamente morto a tiro" (na versão que ouvi numa tv) no caso de Ermelo.
Espantástico!!!
Poucos comentários... Já não se sabe o que comentar...
Por acaso este assunto que o Pedro fala surpreendeu-me nas eleições... Com tanto curriculum, esperava que alguém, de algum partido, fosse dizendo umas coisas do senhor PM e do seu partido. Mas não. Tudo na defensiva. Dá ideia que têm muitos telhados de vidro e rabos de palha. -- JRF
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