José Pacheco Pereira, muito centrado nos media, incluindo blogs ( execrando alguns de caminho, sem os nomear, mas com inclusão certa das Câmaras corporativas deste poder) , executa hoje no Público, uma crónica de costumes caseiros que apresenta o ambiente informativo actual, em Portugal, como um patíbulo onde se expõe quotidianamente a morte da liberdade de informação.
O discurso geral público, não diverge na medida em que os media estão domesticados ao poder do momento, manietados ao dono que depende deste Estado em medida maior que a necessária.
Portanto, o unanimismo actual, na informação e comentadores da mesma, nos media, não é fenómeno típico deste Portugal.
Em França, de há uns anos a esta parte, com maior destaque depois da ascensão de Sarkozy ao poder, verifica-se idêntico fenómeno com uma diferença que por este lado dos Pirinéus não se vê: lá, resistindo isoladamente há anos, uma revista, Marianne, que agregando qualidade informativa, não se deixa subjugar às ideias dominantes do poder político que manda.
Em 7.5.2005, a Marianne anunciava na capa " a ditadura mediática desmascarada", para explicar que em França, o pluralismo da informação era quase tão restrito como na Rússia de Putine. Isso, a propósito do voto sobre a Constituição europeia.
Em 16.7.2005, denunciava a recusa geral dos media em debater e na adopção de novos interditos e na instituição de palavras-chave para a manipulação, como "populismo", nova maldição do jornalismo de base.
Em 3.9.2005, titulava em capa: Médias, as grandes manipulações do Verão, numa reportagem de denúncia das aldrabices mediáticas, com particular na "press people", ao mesmo tempo que escrevia um artigo extenso de auto-crítica em relação à sua própria redacção que padeceria de conformismo...exemplar.
No ano seguinte, em 6.10.2006, titulava Perigo! Como se manipula a informação. E em exemplo mostrava como o "candidato virtual à presidência", Sarkozy, era sistematicamente incensado pelos media, através de sondagens traficadas ( lá como cá...), intoxicação, propaganda, pressões, censuras controlo dos media. Enfim, o catálogo habitual que por cá, quem governa já conhece de ginjeira, mas com uma diferença: lá, há quem proteste em papel de revista que é das mais lidas; por cá, as vozes, de tão sumidas, nem se ouvem.
Após a eleição de Sarkozy, a Marianne nunca mais deu descanso ao seu presidente neo-napoleónico. E fê-lo de um modo reiterado, sistemático e de oposição crítica que nenhum meio de informação, por cá, alguma vez ousou em relação a este cripto-sarkozeiro que temos e que envergonha quem se reveja nas democracias da Europa.
Em 15 de Dezembro de 2007, dava conta do que se dizia do presidente...no estrangeiro e que por lá não se poderia ler , em francês.
Em 5 de Janeiro de 2008, a revista mostrava como Sarkozy, "embalava" os media: controlando a agenda mediática ( como por cá acontece) , através de uma telenovela constante, um espectáculo permanente e pelos patrões dos media, clientes e obrigados ao Estado ( como por cá). Tudo se mistura. Num dia é o casamento com a Bruni, no outro a ruptura com a Síria. As marcas de luxo e a obsessão do jetsetismo que desmente em cada passo a proclamação anterior da "politica de civilização", "civilização da política", num achado pilhado ao sociólogo Edgar Morin e que deu conversa para um dia de imprensa.
Em 6 Dezembro 2008, a capa já explicitava que "Na França, como na terra de Putin e Berlusconi, era o golpe de estado mediático", através da interferência total do chefe de Estado nos media, como programa a cumprir, o que segundo a revista nem aqueles dois se atreveram a tentar na terra deles. Tal situação provocou um apelo de abaixo-assinado pelo pluralismo nos media.
Neste ambiente, não é de estranhar a última capa da revista: "a gota de água que fez transbordar o copo" é ...o caso do filho de Sarkozy. "A república abolida", titula a revista desta última semana.
E por cá, como é, com o Expresso, a RTP1, a SIC, o Diário de Notícias, a TSF e outros?
Pior que em França.
Por cá, não há uma única revista que se possa comparar à Marianne ou ao L Express, Le Point ou Le Nouvel Observateur. Nenhum jornal que tenha o prestígio de um Le Monde ou Le Figaro, ou mesmo o Libé de antanho.
Os comentadores de tv e rádio, podem ver-se e ler-se depois nas colunas de ditos que os jornais publicam. Nas tv´s abundam os Bettencourt Resendes e Tozés Teixeiras, em detrimento de Pulidos Valente. No Rádio, temos o que temos, todos os dias. O paradigma é o da biógrafa do menino de ouro, Eduarda Maio.
Na tv, um dos modelos que atingimos no cretinismo informativo responde pelo nome de Ricardo Costa, mas há pior, muito pior.
A TVI foi capada, como tinha que ser, por frete ao sarkozeiro que por cá temos. O Público deixou de fazer mossa, quando está exangue por falta de invenção e criatividade e obstinação em receitas perdidas. A jornalista desse jornal, Leonete Botelho, com a complacência da direcção, que assina os artigos sobre estes assuntos de política caseira, nem se dá ao cuidado de disfarçar a mensagem implícia nas notícias sobre os ministros e governo em geral. Cita fontes que não indica mas poderia indicar, dá palpites que ninguém lhe pede e mostra o facciosismo do jornalismo em todo o esplendor. Exemplar.
Nos jornais, vemos assim um unanimismo e conformismo aterradores quando lemos os perfis , isentos de apreciação crítica mínima e transcrevendo press-releases ou perfis da Rede, que traçaram dos ministros escolhidos pelo chefe que conseguiu o que nenhum outro logrou: aplainar vozes críticas e capar aventureiros da independência informativa.
É obra e ainda por cima nem é de génio, mas apenas de medo. Medo inflingido aos borra-botas dos media que se pelam de terror de perder a vida que levam. Sabem que se os sítios onde trabalham fecharem, terão o suporte noutros lados suportados pelo Estado, directa ou indirectamente. Nos sondageiros ou marketeiros da praxe.
É isto que temos e estamos pior que os franceses e italianos. Os espanhóis virão a seguir, mas não sendo abúlicos como nós, darão oportunamente o pontapé simbólico ao modelo zapatariano que por cá é exemplo.
O discurso geral público, não diverge na medida em que os media estão domesticados ao poder do momento, manietados ao dono que depende deste Estado em medida maior que a necessária.
Portanto, o unanimismo actual, na informação e comentadores da mesma, nos media, não é fenómeno típico deste Portugal.
Em França, de há uns anos a esta parte, com maior destaque depois da ascensão de Sarkozy ao poder, verifica-se idêntico fenómeno com uma diferença que por este lado dos Pirinéus não se vê: lá, resistindo isoladamente há anos, uma revista, Marianne, que agregando qualidade informativa, não se deixa subjugar às ideias dominantes do poder político que manda.
Em 7.5.2005, a Marianne anunciava na capa " a ditadura mediática desmascarada", para explicar que em França, o pluralismo da informação era quase tão restrito como na Rússia de Putine. Isso, a propósito do voto sobre a Constituição europeia.
Em 16.7.2005, denunciava a recusa geral dos media em debater e na adopção de novos interditos e na instituição de palavras-chave para a manipulação, como "populismo", nova maldição do jornalismo de base.
Em 3.9.2005, titulava em capa: Médias, as grandes manipulações do Verão, numa reportagem de denúncia das aldrabices mediáticas, com particular na "press people", ao mesmo tempo que escrevia um artigo extenso de auto-crítica em relação à sua própria redacção que padeceria de conformismo...exemplar.
No ano seguinte, em 6.10.2006, titulava Perigo! Como se manipula a informação. E em exemplo mostrava como o "candidato virtual à presidência", Sarkozy, era sistematicamente incensado pelos media, através de sondagens traficadas ( lá como cá...), intoxicação, propaganda, pressões, censuras controlo dos media. Enfim, o catálogo habitual que por cá, quem governa já conhece de ginjeira, mas com uma diferença: lá, há quem proteste em papel de revista que é das mais lidas; por cá, as vozes, de tão sumidas, nem se ouvem.
Após a eleição de Sarkozy, a Marianne nunca mais deu descanso ao seu presidente neo-napoleónico. E fê-lo de um modo reiterado, sistemático e de oposição crítica que nenhum meio de informação, por cá, alguma vez ousou em relação a este cripto-sarkozeiro que temos e que envergonha quem se reveja nas democracias da Europa.
Em 15 de Dezembro de 2007, dava conta do que se dizia do presidente...no estrangeiro e que por lá não se poderia ler , em francês.
Em 5 de Janeiro de 2008, a revista mostrava como Sarkozy, "embalava" os media: controlando a agenda mediática ( como por cá acontece) , através de uma telenovela constante, um espectáculo permanente e pelos patrões dos media, clientes e obrigados ao Estado ( como por cá). Tudo se mistura. Num dia é o casamento com a Bruni, no outro a ruptura com a Síria. As marcas de luxo e a obsessão do jetsetismo que desmente em cada passo a proclamação anterior da "politica de civilização", "civilização da política", num achado pilhado ao sociólogo Edgar Morin e que deu conversa para um dia de imprensa.
Em 6 Dezembro 2008, a capa já explicitava que "Na França, como na terra de Putin e Berlusconi, era o golpe de estado mediático", através da interferência total do chefe de Estado nos media, como programa a cumprir, o que segundo a revista nem aqueles dois se atreveram a tentar na terra deles. Tal situação provocou um apelo de abaixo-assinado pelo pluralismo nos media.
Neste ambiente, não é de estranhar a última capa da revista: "a gota de água que fez transbordar o copo" é ...o caso do filho de Sarkozy. "A república abolida", titula a revista desta última semana.
E por cá, como é, com o Expresso, a RTP1, a SIC, o Diário de Notícias, a TSF e outros?
Pior que em França.
Por cá, não há uma única revista que se possa comparar à Marianne ou ao L Express, Le Point ou Le Nouvel Observateur. Nenhum jornal que tenha o prestígio de um Le Monde ou Le Figaro, ou mesmo o Libé de antanho.
Os comentadores de tv e rádio, podem ver-se e ler-se depois nas colunas de ditos que os jornais publicam. Nas tv´s abundam os Bettencourt Resendes e Tozés Teixeiras, em detrimento de Pulidos Valente. No Rádio, temos o que temos, todos os dias. O paradigma é o da biógrafa do menino de ouro, Eduarda Maio.
Na tv, um dos modelos que atingimos no cretinismo informativo responde pelo nome de Ricardo Costa, mas há pior, muito pior.
A TVI foi capada, como tinha que ser, por frete ao sarkozeiro que por cá temos. O Público deixou de fazer mossa, quando está exangue por falta de invenção e criatividade e obstinação em receitas perdidas. A jornalista desse jornal, Leonete Botelho, com a complacência da direcção, que assina os artigos sobre estes assuntos de política caseira, nem se dá ao cuidado de disfarçar a mensagem implícia nas notícias sobre os ministros e governo em geral. Cita fontes que não indica mas poderia indicar, dá palpites que ninguém lhe pede e mostra o facciosismo do jornalismo em todo o esplendor. Exemplar.
Nos jornais, vemos assim um unanimismo e conformismo aterradores quando lemos os perfis , isentos de apreciação crítica mínima e transcrevendo press-releases ou perfis da Rede, que traçaram dos ministros escolhidos pelo chefe que conseguiu o que nenhum outro logrou: aplainar vozes críticas e capar aventureiros da independência informativa.
É obra e ainda por cima nem é de génio, mas apenas de medo. Medo inflingido aos borra-botas dos media que se pelam de terror de perder a vida que levam. Sabem que se os sítios onde trabalham fecharem, terão o suporte noutros lados suportados pelo Estado, directa ou indirectamente. Nos sondageiros ou marketeiros da praxe.
É isto que temos e estamos pior que os franceses e italianos. Os espanhóis virão a seguir, mas não sendo abúlicos como nós, darão oportunamente o pontapé simbólico ao modelo zapatariano que por cá é exemplo.
3 comentários:
" Medo de perder a vida que levam ..."
Não é grave ter medo. É-nos característico enquanto humanos.
Não o vencer é que não é apenas grave, é cobardia.
E se cada um de nós examinasse francamente a sua consciência e respondesse à questão de saber por quantas coisas, pessoas, ideais, seríamos capazes de arriscar, vencendo o medo de perder alguma coisa, de opor-se, resistir.
Talvez surpreendentemente nos espantassemos com a nossa resposta.
Porquê?
Porque resistir, seja a que for, tem sempre um custo, tem um preço.
Às vezes o preço de uma ou várias vidas...
Arriscar a nossa, por uma injustiça a que assistimos, por um ideal, por um valor e sofrer as consequências...
Devemos ser todos heróis?
Não sei se não resistir faz do homem um ser menor, mas orgulha-me saber que ainda os há, ainda os há que resistem...
En effet. O pato encana a perna ao Sarkozy, de vez em quando.
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