sábado, janeiro 15, 2011

Boaventura, espelho de Portugal

O jornal J.L., jornal de letras que já vem dos anos setenta e de uma certa intelligentsia de esquerda que nos governa intelectualmente no politicamente correcto, publica na edição desta semana uma entrevista extensa de Boaventura Sousa Santos.
O sociólogo de Coimbra, director do iscte local, chamado CES, produz afirmações interessantes que importa rever, para se perceber como é a natureza do bloco da esquerda intelectual que temos.

O jornal começa por escrever que Boaventura é uma sumidade...lá fora. Tem livros e livros, "sobretudo na América Latina". "Têm ideias, um pensamento social e político".
Ora então vamos lá a ver quais são.

Sobre os "mercados":
" São verdadeiros abutres". "Os seus espelhos são ecrãs de computadores: só vêem números"

Sobre a sua profissão de sociólogo:

" Ao contrário do que dizem os meus críticos, prezo muito a ciência, sou um cientista, trabalho no domínio da ciência".
E mais e melhor, sobre esta "ciência": " Nas áreas sociais, não podemos produzir ciências neutras. Faço tudo para ser objectivo e por isso não posso estar metido numa escola, num partido, num dogma, qualquer que ele seja."
Excepto um, precisamente o mais perverso e que lhe define o perfil sempre estimado da intelligentsia de esquerda:

" Estou ao lado dos que não tem poder, dos fracos, dos oprimidos, dos esquecidos, dos discriminados. Os economistas que andam por aí a dizer que são neutros, são-no em relação a quê? Todos defendem o lado em que estão, a diferença é que uns o declaram e outros não. Eu sou daqueles que pensam que o devemos afirmar. Nesse sentido acho que o sociólogo deve ser um sociólogo público."

Sobre a organização social e a Economia:

"Basta ver o caso do Brasil e como dentro de cinco anos se prevê que seja a quinta economia do mundo. E estão a fazê-lo no campo democrático. Não se pode dizer que são como os comunistas chineses que exploram os trabalhadores com a repressão brutal dos direitos destes."
"Outra área muito importante é realmente a das economias solidárias, não capitalistas. Já temos hoje experiências na Europa que vão nesse sentido: trocas de tempo, economias populares, cooperativas."
"O neoliberalismo entrou na Europa, como nos Estados Unidos, à esquerda e à direita. E todos foram formados pela mesma escola e ideias. Agora a crise está a ser resolvida por quem a criou."
"Estou absolutamente disponível para trabalhar com os políticos, porque estou cada vez mais convencido de que temos de encontrar uma forma de crescimento económico sustentável e saudável, o que tem de passar, por exemplo, pelas energias renováveis, onde Portugal, temos de o dizer, é hoje um exemplo para o mundo."

Boaventura é também presidente de um Observatório antigo para a Justiça que funciona em Coimbra. Das últimas realizações que se conhecem, contam uma análise aos efeitos da revisão do Código de Processo Penal, cujo trabalho de campo não agradou ao antigo ministro da Justiça A. Costa e que por isso o meteu na gaveta. Conta ainda com um estudo ainda mais antigo sobre a realidade judiciária que permitiu uma reforma encetada pelo antigo ministro de Guterres, António Costa.
A reforma conduziu ao ponto onde estamos: pouco ou nenhum efeito positivo e visível para a comunidade. A crise na Justiça não foi resolvida pelas investigações "científicas" do sociólogo Boaventura

Arredem este cientista de qualquer projecto governamental! Poupem o povo português.

PS. No Diário de Notícias de hoje, dá-se conta que a empresa francesa Louis Vuitton vai aproveitar uma antiga fábrica têxtil, em Calvelo, Ponte de Lima ( a dois passos da A3) e aí vai investir 6,7 milhões de euros e criar cerca de 350 postos de trabalho.
Empresa mais capitalista não pode haver. Empresa cujos produtos se destinam exclusivamente à "alta burguesia" dos mercados não pode haver. Produz malas e carteiras de senhora com preços que começam invariavelmente nos milhares de euros.
Que diria Boaventura duma coisa destas? O cientista social, sociólogo público que comentaria sobre este capitalismo da burguesia?
Não se sabe e embatucaria pela certa nas contradições sobre os "mercados". Sabe-se no entanto que o autarca de Ponte de Lima acha que isso é "um grande investimento para a freguesia, para o concelho, até mesmo para o país".

Questuber! Mais um escândalo!