Rui Tavares, deputado independente ao PE, pelo B.E. escreve crónicas regulares no Público. Hoje escreve uma de antologia pelo significado. Sobre as eleições que decorreram ontem, Rui Tavares extrapola para a beleza do acto em si mesmo, prelúdio das maravilhas do sistema democrático e porventura finalidade do mesmo. As nossas eleições e sistema que as consagra, para Rui Tavares, são a oitava maravilha do sistema democrático, tal como o conhecemos. Mesmo sendo um sistema em que os mesmos de sempre são sempre eleitos, pelos mesmos partidos de sempre, numa perversão democrática que segrega oligarquias e castas políticas, Rui Tavares sente-se como um dos apaniguados do regime que se baseia em eleições e na legitimidade do voto que escolhe representantes do povo, apresentados a este, previamente, pelos partidos.
Foi assim que Rui Tavares conseguiu a quase sinecura em Bruxelas que lhe permite a magnanimidade de ser mecenas de pequenos bolseiros que aspiram a mestrados e doutoramentos para serem, também eles, parte deste sistema eleitoral de blocos. Um círculo virtuoso da democracia, tal como Rui Tavares a vive. Mas não como a entende...
Tavares escreve sobre o pai, nascido nos anos vinte e que viveu no tempo do "fassismo" em que não podia votar, mas aspirava ardentemente a tal benefício. Depois de contar uma historieta , de fazer chorar as pedras da calçada, passada nas semanas depois de 25 de Abril de 74, Tavares conta que... "Um ano depois [ do 25 de Abril] o meu pai, e espero que aquele homem também, votaram pela primeira vez numas eleições livres e justas."
Sem dúvida alguma que foram justíssimas porque concorreram às mesmas, as forças de esquerda, quase exclusivamente, porque até o CDS se dizia então, complexadamente envergonhado, como sendo "rigorosamente ao centro".
A direita deixou de existir politicamente no 25 de Abril de 74, a não ser para se vituperar por todos os males passados e vindouros, como "fassista", " reaccionária", "retrógrada", até mesmo ultramontana, porque para a esquerda os nomes contam e por isso definiu o léxico desde então, sem direito a revisão linguística. Mudou os nomes às coisas que lhe interessavam, mas esses não lhes tocou nem toca. A Esquerda portuguesa vive de nomes, apenas e por isso os reserva e resguarda, para liquidar, segregar e sonegar.
Assim, a "direita", definida pelos nomes da "esquerda", ficou arredada, "justamente" e "livremente" de todos os actos eleitorais, reservados aos progressistas e vencedores do regime que definem as regras democráticas.
Daí também a festividade de Rui Tavares e do pai que ontem votou, outra vez, " com a mão direita e num candidato de esquerda."
No mesmo jornal Público, António Barreto, não é tão entusiástico e o retrato que faz do regime é pouco contentamento, mesmo e apesar das eleições "livres":
"O Governo, refém iterna e externamente, administra a democracia como quem preside ao saque do Estado: na economia, satisfaz, para além das exigências do país, os interesses económicos; na sociedade, distribui, mesmo sem os recursos necessários, a protecção social. Enquanto houve crescimento económico, rendimentos e crédito externo, o Governo e os seus partidos alimentaram a democracia com aquela distribuição, compatibilizando assim as mais absurdas, socialistas e sectárias políticas sociais e de saúde, educação e segurança social, com as mais predadoras e vorazes iniciativas capitalistas. Os recursos financeiros esgotaram. O crescimento económico estagnou. O crédito evaporou-se. Pela primeira vez em trinta anos, a democracia portuguesa está em perigo, porque perdeu os seus instrumentos favoritos. A nossa democracia ligou-se perigosamente aos favores concedidos e à demagogia providencial. Sem esquecer o facto de que a confiança nas instituições políticas, públicas e judiciárias, essencial à liberdade, estiola."
Este requisitório contra a democracia deste regime, tal como o conhecemos e que é apenas um retrato impressionista da realidade que vivemos, tem a assinatura de um indivíduo que nunca se assumirá como sendo de direita. Portanto, é de esquerda.
Rui Tavares pode muito bem limpar as mãos à parede democrática em que deposita tantas esperanças por causa do voto. A mesma esquerda que dizia ser esse voto a arma do povo, fartou-se de disparar para os pés, com a ajuda preciosa de todos os ruis tavares contentinhos da silva por votarem em "liberdade".
Com uma agravante de vulto: aqueles em quem depositaram a confiança do seu voto, a tal esquerda clássica, pura e dura, se tivessem a maioria necessária para governar e mandar, não demorariam sequer o tempo de outras eleições para eliminarem todas as veleidades das liberdades a que chamam "burguesas". E fariam pior, muito pior do que aqueles que vituperavam por não os deixarem votar livremente nos que lhes retirariam a liberdade completa e os mandariam para campos de reeducação ou asilos psiquiátricos.
Se calhar, estes líricos da Esquerda precisavam de uma experiência assim, para perderem de vez as ilusões sobre os amanhãs a cantar.
Às vezes só pergunto a mim mesmo, como pessoas minimamente inteligentes e que acabaram cursos superiores acreditam neste tipo de pais natais.
Foi assim que Rui Tavares conseguiu a quase sinecura em Bruxelas que lhe permite a magnanimidade de ser mecenas de pequenos bolseiros que aspiram a mestrados e doutoramentos para serem, também eles, parte deste sistema eleitoral de blocos. Um círculo virtuoso da democracia, tal como Rui Tavares a vive. Mas não como a entende...
Tavares escreve sobre o pai, nascido nos anos vinte e que viveu no tempo do "fassismo" em que não podia votar, mas aspirava ardentemente a tal benefício. Depois de contar uma historieta , de fazer chorar as pedras da calçada, passada nas semanas depois de 25 de Abril de 74, Tavares conta que... "Um ano depois [ do 25 de Abril] o meu pai, e espero que aquele homem também, votaram pela primeira vez numas eleições livres e justas."
Sem dúvida alguma que foram justíssimas porque concorreram às mesmas, as forças de esquerda, quase exclusivamente, porque até o CDS se dizia então, complexadamente envergonhado, como sendo "rigorosamente ao centro".
A direita deixou de existir politicamente no 25 de Abril de 74, a não ser para se vituperar por todos os males passados e vindouros, como "fassista", " reaccionária", "retrógrada", até mesmo ultramontana, porque para a esquerda os nomes contam e por isso definiu o léxico desde então, sem direito a revisão linguística. Mudou os nomes às coisas que lhe interessavam, mas esses não lhes tocou nem toca. A Esquerda portuguesa vive de nomes, apenas e por isso os reserva e resguarda, para liquidar, segregar e sonegar.
Assim, a "direita", definida pelos nomes da "esquerda", ficou arredada, "justamente" e "livremente" de todos os actos eleitorais, reservados aos progressistas e vencedores do regime que definem as regras democráticas.
Daí também a festividade de Rui Tavares e do pai que ontem votou, outra vez, " com a mão direita e num candidato de esquerda."
No mesmo jornal Público, António Barreto, não é tão entusiástico e o retrato que faz do regime é pouco contentamento, mesmo e apesar das eleições "livres":
"O Governo, refém iterna e externamente, administra a democracia como quem preside ao saque do Estado: na economia, satisfaz, para além das exigências do país, os interesses económicos; na sociedade, distribui, mesmo sem os recursos necessários, a protecção social. Enquanto houve crescimento económico, rendimentos e crédito externo, o Governo e os seus partidos alimentaram a democracia com aquela distribuição, compatibilizando assim as mais absurdas, socialistas e sectárias políticas sociais e de saúde, educação e segurança social, com as mais predadoras e vorazes iniciativas capitalistas. Os recursos financeiros esgotaram. O crescimento económico estagnou. O crédito evaporou-se. Pela primeira vez em trinta anos, a democracia portuguesa está em perigo, porque perdeu os seus instrumentos favoritos. A nossa democracia ligou-se perigosamente aos favores concedidos e à demagogia providencial. Sem esquecer o facto de que a confiança nas instituições políticas, públicas e judiciárias, essencial à liberdade, estiola."
Este requisitório contra a democracia deste regime, tal como o conhecemos e que é apenas um retrato impressionista da realidade que vivemos, tem a assinatura de um indivíduo que nunca se assumirá como sendo de direita. Portanto, é de esquerda.
Rui Tavares pode muito bem limpar as mãos à parede democrática em que deposita tantas esperanças por causa do voto. A mesma esquerda que dizia ser esse voto a arma do povo, fartou-se de disparar para os pés, com a ajuda preciosa de todos os ruis tavares contentinhos da silva por votarem em "liberdade".
Com uma agravante de vulto: aqueles em quem depositaram a confiança do seu voto, a tal esquerda clássica, pura e dura, se tivessem a maioria necessária para governar e mandar, não demorariam sequer o tempo de outras eleições para eliminarem todas as veleidades das liberdades a que chamam "burguesas". E fariam pior, muito pior do que aqueles que vituperavam por não os deixarem votar livremente nos que lhes retirariam a liberdade completa e os mandariam para campos de reeducação ou asilos psiquiátricos.
Se calhar, estes líricos da Esquerda precisavam de uma experiência assim, para perderem de vez as ilusões sobre os amanhãs a cantar.
Às vezes só pergunto a mim mesmo, como pessoas minimamente inteligentes e que acabaram cursos superiores acreditam neste tipo de pais natais.