Se há notícia que sirva de exemplo para o modo como era contado o que se passava lá fora, cá dentro em Portugal, antes de 25 de Abril de 1974 é o do Chile de 1973 e da queda do presidente Allende.
Atente-se nestas páginas do Observador de 5 de Outubro de 1973 que na época ainda reflectiam o calor dos acontecimentos ocorridos com dias de intervalo entre as notícias. Atente-se na lucidez de análise e isenção de relato.
Na Alemanha publicava-se então uma revista semanal - Stern- que em Portugal teria paralelo na Flama ou Século Ilustrado. De formato maior, com cerca de 260 páginas e com ilustrações mais interessantes, por vezes de dupla página, era uma das melhores revistas mundiais da altura ( ainda é). Relativamente aos acontecimentos do Chile, a edição de 20 de Setembro de 1973 deu-lhe honra de capa e com fotos no interior como esta em que se mostram os camionistas que fizeram greve e alcançaram a vitória que lhes permitiu fazer o gesto que dali a meia dúzia de meses se faria cá, em Portugal. Estes gestos têm sempre uma explicação e para mim é esta, singela e que na altura se propagou pelas agências de comunicação. Foi esse o primeiro gesto "democrático", se assim se pode dizer. Um "v" de vitória que provavelmente teria o mesmo significado na Santiago do Chile de então e no Portugal de Abril de 1974. O punho erguido só viria dali a dias...com outro significado e relevância. Lá, pelo contrário, o que apareceu a seguir foi a repressão sangrenta aos punhos erguidos, pela Junta Militar de Pinochet e com concentração de presos políticos ( de esquerda extremada) em estádios, coisa que depois deu ideias a um Otelo. Coisas do destino das nações.
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