Hoje o paralelo entre três datas - 1973, 1993 e 2013- faz-se com números e estatísticas e com opiniões, através de citações.
Há duas ou três que merecem destaque. A principal é a atribuição a factores externos, como as crises internacionais, do facto de as "reformas" desses anos terem soçobrado de algum modo, por interronperem os "ciclos de desenvolvimento económico". Como não sou economista limito-me a entender que as crises internacionais afectaram quase todos os países ocidentais e no entanto, nem todos resolveram os problemas do mesmo modo. O nosso país, a partir de 1973 resolveu os seus problemas de um modo que continuou sempre na cauda dos países europeus. Insistir nas receitas do descalabro que têm todas a marca de água da Esquerda, tal como sucedeu em 1974-75, conduz a este resultado. As "novas políticas" são a garantia da "nova miséria " assegurada para todos, por igual, menos para os da "vanguarda" dos comités centrais.
A questão principal que se coloca a qualquer economista, historiador ou jornalista diletante é a de saber quais foram os factores determinantes para nunca termos saído da cepa torta do subdesenvolvimento relativo.
A minha opinião, valendo o que vale, é a de que em 1973 tínhamos uma economia pujante, um empresariado notável, uma estrutura social em franca mutação mas o que hoje se apelidaria "sustentada" e as mudanças que se operariam com a crise do petróleo e a correlativa económica seriam sempre para melhor do que o foram com o advento do 25 de Abril e a mutação da economia por força da Esquerda que entendeu nacionalizar e transformar Portugal num país "a caminho de uma sociedade sem classes".
Esta perspectiva nem de perto nem de longe é sufragada pelo autor do artigo que nem sequer a terá ponderado, servindo de exemplo o facto de ter convidado um tal Pedro Lains, economista, para comentar a mudança. Este perito entende que a "realidade internacional" é que condicionou tudo, justificando o falhanço, não lhe ocorrendo que os demais países também foram confrontados com essa realidade particular...
Por outro lado, como é que o autor explica o que ocorreu em 1974-75? Como a coisa mais natural deste mundo, apesar de notificar que houve "alterações profundas na estrutura económica do país. Nesse ano, a economia não cresceu e, em 1975, em particular, o PIB caiu 4,3, um valor não superado por crises posteriores". Isso apesar de o PIB, poucos meses antes crescer a um ritmo de quase dois dígitos.
Este fenómeno é entendido pelos economistas como fruto "da Revolução". Assim e pronto. Como se fosse uma coisa com causas naturais e sem explicações sociais e políticas que condicionam todo o modo de entender a História contemporânea do país.
Estes especialistas analisam assim " a economia", como se fosse um fenómeno estático e dado somente a variações numéricas influenciadas pela conjuntura do momento que é entendida como resultado do devir normal de um qualquer país. Nenhum país da Europa sofreu o descalabro económico que sofremos em 1974-75 e nenhum país da Europa teve uma Esquerda ( comunista e socialista) como tivemos por aqui naqueles anos e ainda temos e que revolucionaram a economia nacional para todo o sempre. Conseguiram fazer aprovar uma Constituição absurda e com laivos de país das maravilhas em que não deixaram tocar durante mais de uma dúzia de anos ( só em 1989 se fez uma revisão a sério e mesmo assim, sem tocar nas vacas sagradas do socialismo).
Este fenómeno é despachado pelos tais analistas como o gato que passa pelas brasas da memória e os pedros lains todos juntos entendem sempre que isso foi epifenómeno circunstanciado a um período muito breve e sem consequências que não as situadas nesse tempo.
Quando ao esforço de Marcello Caetano se ter gorado em 1974-75., foi-o também devido à "crise económica mundial": Assim fica tudo explicado, para esses especialistas.
É por estas e por outras que este jornalismo é assim, tipo para quem é bacalhau basta. A Esquerda não tira ilações das suas derrotas porque não as entende sequer. E a linguagem que usa é a chamada "língua de pau" do economês, sem relação dinâmica com a realidade social e política e muito menos com a língua comum ao entendimento comezinho dos fenómenos. Se houve alguma coisa que mudou essencialmente nestes últimos 40 anos foi a linguagem corrente de quem escreve sobre assuntos específicos. Todos apostam nos estrangeirismos, nas figuras linguísticas sem conotações que sejam fáceis de entender e numa espécia de dicionário de rimas do politicamente correcto que empobrece a escrita e principalmente a explicação de qualquer fenómeno.
Se alguma vez me perguntassem qual foi o fenómeno mais duradouro que se verificou em Portugal nestes últimos 40 anos diria que foi esse e que está espelhado em todos os media, porque todos os jornalistas actuais escrevem do mesmo modo, com uma linguagem que os especialistas deveriam estudar. Falta-nos um Umberto Eco para tal e para nos explicar porque é esse o nosso maior empobrecimento.
E no entanto, bastaria a esta gente mergulhar no passado escrito para entender melhor que se passou.
Por exemplo, no Observador de 7 de Janeiro de 1973, uma edição especial de 176 páginas sobre "as linhas de força da economia portuguesa" um artigo sobre "planeamento" permite entender facilmente, numa linguagem que os economistas de hoje não dominam nem aplicam ( aprendem tudo em inglês, em escolas portuguesas que se gabam disso mesmo), as diferenças de vulto e relevantes para o caso.
Sobre números e estatísticas, as do Público provêm do INE, do bdP e da Pordata, além de outros. O Observador também tinha estatísticas. Sobre o PNB ( em vez do PIB que se distigue daquele de modo teórico e aqui explicado) e outros indicadores de nível de vida.
Naquele pequeno artigo do Observador sobre o "planeamento" fica explicado com toda a clareza, com 40 anos de antecedência, o que correu mal na economia portuguesa durante esse período, incluindo o de 1993, também considerado no artigo. Nessa época, a economia começou a funcionar de modo mais consentâneo com as regras de mercado. Mas nunca como antes funcionava. E é esse fenómeno, ou seja, o de entender porque é que de 1973 a 1993 a economia deixou de funcionar com os mesmos paradigmas, até organizatórios, que os economistas actuais se recusam a explicar ou ignoram mesmo a explicação.
Ao não entenderem a sociedade portuguesa de 1973 os analistas correntes nunca conseguirão perceber porque falhamos sempre as metas, durante estes 40 anos.
E isso apesar disto que é o espelho da nossa vergonha colectiva, tal como mostrado no Diário de Notícias de 30 de Maio de 2013 ( o seu director Marcelino, às vezes tem lampejos de qualidade):
Apesar dos milhões continuamos a ser o país economicamente mais atrasado da Europa, quando poderíamos mesmo estar no "pelotão da frente", o que é um desiderato positivo na medida em que a melhoria da qualidade de vida de todos é uma meta que todos prometem alcançar.
Por mim, tenho uma explicação prosaica: a Esquerda é a responsável por este atraso económico. Se fizermos como a Polónia que afastou a Esquerda do comando da economia, retomaremos o bom caminho de 1973.
E julgo que teremos todos, toda a vantagem em atinarmos com essa via. Já perdemos 40 anos nesta choldra de palavras ocas, de ideias vâs de de promessas falsas.
Afastem a Esquerda do poder e teremos o problema nacional reasolvido em menos de uma dúzia de anos. Essa mesma esquerda precisou apenas de um ano e meio para destruir economicamente um país durante décadas.
Só um cego político não conseguirá entrever esta evidência.