sábado, setembro 12, 2015

Há trinta anos que a política em Portugal é isto...

Revista Grande Reportagem de 3 de Maio de 1985: José Freire Antunes, falecido há pouco tempo, escrevia assim um artigo sobre o nosso panorama político da altura. É impressionante a actualidade do artigo o que revela que a democracia em Portugal nasceu torta. E quem nasce torto...


No número de 15 de Março de 1985 da mesma revista, Vasco Pulido Valente analisava o PSD e o contexto politico da época em que se perfilava a hipótese de um "bloco central" continuado ou a ruptura e a ida a eleições. O prognóstico era muito reservado e catastrofista...






Curiosamente, passados trinta anos, o discurso, também catastrofista,  de  outro analista ( Nuno Garoupa) continua a ser muito semelhante...


Comecemos pelos números (redondos) que persistem em ser esquecidos. Em 2011, os votos somados do PSD e do CDS foram mais de 2,8 milhões enquanto o PS teve 1,6 milhões. Nas eleições anteriores, ganhas por Sócrates e perdidas por Manuela Ferreira Leite, esses números são 2,2 milhões e 2 milhões respectivamente. Sim, Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas, somados, tiveram mais votos que José Sócrates. Ganhou este porque aqueles foram separados às eleições. E nas eleições de 2005, as tais da maioria absoluta de José Sócrates e da derrota histórica da direita, o PS obteve 2,6 milhões de votos enquanto Santana Lopes e Paulo Portas, somados, ficaram nos 2 milhões de votos.

As eleições de 4 de Outubro decidem-se assim de uma forma mais ou menos evidente. Andando a coligação nos seus mínimos históricos, suponhamos que oscilará entre os 2 e os 2,2 milhões de votos. Perderam entre 600 e 800 mil votos, um terço do seu eleitorado. Costa ganhará as eleições se mobilizar uma fatia muito importante destes eleitores (digamos o centro). Passos ganhará as eleições se este eleitorado ficar em casa. No limite, se todo o centro ficar em casa ou estiver longe de casa porque emigrou ou se dispersar no voto branco, nulo, ou de protesto, podemos até ter um cenário (talvez não o mais provável) em que a coligação ganha com 2 milhões de votos (o seu pior resultado de sempre) enquanto o PS se mantém próximo dos 1,6 milhões de votos de 2011.

Questuber! Mais um escândalo!