quarta-feira, setembro 23, 2015

O jornalismo e os últimos moicanos

Na revista de imprensa lisboeta de ontem, nos principais jornais diários deparamos com capas curiosas. As notícias do dia anterior revelavam duas ou três que mereciam destaque.

O Correio da Manhã decidiu assim fazer a primeira página:


Em destaque a notícia sobre o fait-divers do ladrão que foi morto por um turista, no decorrer de um assalto, no Algarve. Quem viu nos noticiários da tv da noite anterior ficou a saber essencialmente tudo, com algumas imagens que as tv´s reportam a acompanhar o assunto. Nada de especial a não ser a típica ocorrência do homem que morde no cão- é uma vítima de assalto quem mata o ladrão que lhe entra em casa.  Está tudo dito, mas o CM adiantou mais um pouco e recolheu opinião sobre o caso; dá duas páginas ao assunto e na primeira ilustra o possível cenário. A redacção da notícia é factual no que se refere ao acontecimento e se corresponder à verdade dos factos nada há a apontar. Ao lado a opinião de um jurista que aventa a possibilidade de existência de crime de homicídio no caso de não se verificar legítima defesa, mesmo excessiva e a opinião de uma moradora que não compreende uma eventual condenação de quem matou o assaltante. Tirando a ilustração que ocupa pelo menos um quarto da página, a notícia é jornalística e nada tem que se lhe possa apontar. As tv´s terão informado assim?

Vejamos agora o tratamento jornalístico dado a esta notícia pelos restantes jornais.

O Diário de Notícias, assinada por J.C. colocou esta em que dá conta do facto e explica melhor o que ocorreu. Sem imagem ou opiniões alheias. Vantagem para o DN, embora o CM contenha todas as informações na mesma notícia, embora redigida de modo diverso. Prefiro a do DN.

Afinal, depois de se saber pelas tv´s ( particularmente a CMTV) o que teria ocorrido qual a vantagem de comprar um jornal para ler o que já se sabia? Só vejo uma: se a notícia contiver pormenores mais esclarecedores. Será o caso? Não me parece. 
 O Público ( neste caso edição do Porto, mas será idêntica à de Lisboa) não tem uma única menção ao assunto. Zero.
O i igualmente zero de notícia sobre o assunto. O jornal, aliás, parece que não se dedica a notícias mas a opiniões sobre diversos temas. 

E agora outra notícia: o caso do acidente de viação na EN2 em Castro Verde. Essencialmente as tv´s deram conta do assunto logo em cima do acontecimento, quase e como é costume. Os jornais neste aspecto não têm vantagem alguma, nem mesmo a de fornecerem pormenores que serão ainda desconhecidos.Por exemplo, o bebé de dez meses que seguia na carroça também acabou por falecer e os jornais fecharam antes dessa notícia.
O Correio da Manhã tratou assim o caso:


O DN nem pegou no assunto. O I idem aspas e o Público ( que atribui 18 meses ao bebé) colocou assim uma notícia assinada ( Mariana Oliveira) na última página:

O que separa as duas notícias? Uma coisa muito importante e que as tv´s provavelmente não noticiaram: "todas as vítimas mortais são de etnia cigana e têm relações entre si", disse ao CM fonte dos bombeiros.
Porque é que o Público não mencionou que se tratava de uma família de ciganos? E porque não mencionou outro facto, aliás frequente nestes acontecimentos que envolvem ciganos - o de a GNR levar dali para fora os condutores dos carros envolvidos, que sofreram ferimentos ligeiros, por questões de segurança devido à revolta gerada pela chegada ao local de outros familiares das vítimas mortais"?

Ambas as notícias terminam do mesmo modo. CM: " o cavalo que puxava o veículo sobreviveu à tragédia". Público: "O animal que puxava a carroça, um cavalo, sobreviveu ao acidente".

15 comentários:

zazie disse...

Pois é.

Mas depois também existem as notícias sensacionalistas e, acerca dessas, lembro-me sempre da charge dos Homens de Negro. Dizia um deles que comprava sempre o pasquim para investigar as movimentações reais de ETs.

eheheh

josé disse...

Notícias sensacionalistas é verdade que podem existir. Porém, no CM não costume dar assim muito por elas. No JN do Porto dou mais...

josé disse...

Os títulos, ilustrações e modo de paginação do CM é que pode tornar-se sensacionalista, mas geralmente as notícias são bem escritas e não fogem da realidade.

Anjo disse...

Também procurei, em vão, saber se seria uma família de ciganos. Intuí que deveria ser o caso, porque quem se deslocaria de noite numa carroça (não sinalizada) e com uma família numerosa? Já poucos rurais usam essa forma de transporte e não creio que o façam em tais condições de perigo.

Por acaso, o DN mencionava correctamente que a família era cigana:

http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4792589

zazie disse...

Não estava a pensar no CM a propósito das notícias sensacionalistas.

Estava mais a referir que não é o tom do jornal que faz a verdade ou a mentira do que relata.

Daí a brincadeira com os Homens de Negro.

Não é o "jornal de referência" que torna a notícia mais verdadeira.

Anjo disse...

Enfim, nunca ninguém diz assim, a cru, que são/eram ciganos ou que se tratava de uma família cigana. Há sempre o prurido que leva a acrescentar, numa manobra que consideram ser "suavizante", "de etnia...".

Esta coisa da etnia tornou-se tão automática que chego a ouvir, a pessoas com obrigação de saber o que dizem: "de etnia chinesa", de "etnia russa"!

Contaram-me que o politicamente correcto fez com que, numa escola alemã, há uns anos, obrigassem os alunos a substituir "Die Zigeuner" nos títulos de diversos posters ilustrativos de um trabalho escolar por "Leute mit Sinti- und Roma-Hintergrund", excesso de que até os visados já se queixam:

http://www.welt.de/kultur/history/article13811031/Wir-sind-Zigeuner-und-das-Wort-ist-gut.html

Anónimo disse...

A malta nem sabe o que quer dizer ETNIA!
E eu não vou explicar. Aprendam.

Floribundus disse...

só não morrem os FdP

como dizia Dalai Lima
deu-se o 'regresso âs jaulas'

os pais cansados de meses de férias despejam os índios filhos nas escolas

o meu 'cumpadre' de etnia Rom
entrava pela porta da frente

não foram só eles a mudar depois do 25.iv

todos preocupados com os refugiados que se propõem
promover a balcanização da Europa

ninguém se lembra do povo Rom, excepto para maus exemplos

José disse...

O DN na versão em papel nem pegou no assunto. Comprei para verificar.

Floribundus disse...

nunca ninguém refere a etnia do
tó monhé

disseram erradamente da do Hussein (50%)

a sua campanha parece um velório

as outras primam pela pinderiquice

quando passo segundo pelas tvs penso estar no Zimbabué

Anjo disse...

Curiosa, essa do DN em papel nada referir e a versão digital sim...

Bic Laranja disse...

O livro de estilo que nos dá a imprensa mundial em uníssono num coro de «migrantes» renega raça com etnia cuidando que faz de ciganos, pretos, índios, o que seja, todos uma raça pegada.
Uma dum jovem que era cigano e outra duns reclusos que eram homicidas perigosos, condenados, evadidos e... ciganos.
São todos charlies mas é borrados.
Cumpts.

zazie disse...

Agora o coro já passou de migrantes a refugiados para a palhaçada passar melhor.

aragonez disse...

Um pequeno detalhe: Todas as notícias que vi, referem que o acidente se deu de noite, envolvendo uma carroça sem luzes.
Eu ouvi o Comandante dos Bombeiros,em directo, dizendo que tinham sido chamados pelas 19:30.
De dia e bem de dia!
Algo não bate certo?

zazie disse...

Dizem que era no início da noite. Por volta das 8 horas já fica escuro.

http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4792589

Não faço ideia.

O Público activista e relapso