Este pequeno apontamento de reportagem da SIC-N mostra bem como é o jornalismo actual das tv´s. O movimento/partido Livre comiciou perante uma centena e meia de pessoas em Almada e a oradora de relevo foi Isabel do Carmo, a revolucionária nem por isso arrependida e que aparentemente tinha mais medo de gatos do que das bombas que ajudou a colocar, para destruir o "fassismo" , já depois do 25 de Abril de 1974.
Na reportagem dá-se conta de que aquela revolucionária que se assume de pacotilha afinal andou a brincar às bombinhas sem ser no carnaval, aos assaltos a bancos sem ser em filmes de Hollywood e à execução sumária de camaradas sem ser nos idos dos anos 30 em Moscovo.
Como a memória das pessoas é muito curta e a dos jornalistas de tv inexistente , convém lembrar que foi precisamente esta gente que justificou a existência da PIDE/DGS:
Os revolucionários do PRP/BR e mais tarde as suas excrescências nas
FP25 justificaram a seu tempo ( aqueles do PRP/BR) a existência de uma
polícia política no tempo de Marcello Caetano, porque não há país algum
que sobreviva ao terrorismo das bombas e assassinatos com objectivos
políticos. Em democracia, o grupo Baader-Meinhoff, na Alemanha e as
Brigate Rosse na Itália, são o melhor exemplo dos émulos do PRP/BR e
cujas ideias políticas aliás partilhavam. A Alemanha prendeu o casalinho
do grupo que acabou por se suicidar na prisão e a Itália teve os anos
de chumbo para aprender a lidar com o fenómeno que causou centenas de
mortos, em atentados em lugares públicos, como hoje faz a AlQaeda.
Mais:
sem esta gente ou este terrorismo não haveria polícia política no tempo
de Marcello Caetano e não parece ser um prognóstico póstumo demasiado
arriscado. Portanto...
Em 1979, o mesmíssimo PRP/BR da
mesmíssima Isabel do Carmo agora convertida à pacatez da endocrinologia
hospitalar pública, matava gente. A mesmíssma Isabel do Carmo, apesar
de ser dirigente de topo da organização, parece que de nada sabia...mas O
Jornal de 23 de Março de 1978 contava outra história...e em Junho os dirigentes de tal grupo terrorista eram presos.
Ainda
assim, a polícia Judiciária ( a nova PIDE para os PRP/BR) juntava as
pontas soltas e com ajuda de arrependidos que colaboraram na delação,
fez um retrato do terror daqueles. Por isso mesmo, em 15 de Novembro de
1979, um dos arrependidos, José Manuel Azevedo Plácido foi executado,
morto a tiro de pistola, disparados dentro de um "Mini" com três
indivíduos no interior. Nenhum deles era Carlos Antunes ou Isabel do
Carmo e é de supor que estes se manifestaram surpresos e indignados
quando tal souberam...
Como
se sentiam completamente inocentes destes e doutros crimes, os presos
do PRP entraram em greve de fome, às pinguinhas e que durou meses ou
anos, provocando um problema para além do mais...político, como relata O
Jornal de 31 10 79 ( os 29 presos terminaram uma greve de fome que
durou 30 dias) e de 2 7 82. Eram "antifascistas" presos...
.
E
como é que os envolvidos, os maiores responsáveis por este terrorismo
justificavam as suas condutas? Assim: primeiro a pacatíssima Isabel do
Carmo, no O Jornal de 4 6 82.
Depois o hirsuto Carlos Antunes, logo a seguir, no Expresso de 26 de Junho de 1982.
A
situação agravava-se, mesmo politicamente e por isso toda a gente se
reunia a debater o assunto. Até o Patriarcado ( é preciso não esquecer
que estamos em 1982...).
E
como é que o "arrependido" Altino explica tudo isto? É simples,
lendo...o Expresso de 20 de Dezembro de 1980 ( antes do problemas
político se colocar...):
A seguir: as FP25, uma excrescência do PRP/BR. Filhotes tresmalhados de uma mesma monstruosidade.
E ainda convém lembrar que esta revolucionária das bombas inteligentes há muito que tem este discurso deletério para enganar papalvos.
Mas não se livrou de responder em tribunal penal, já depois do 25 de Abril de 1974 e ter sido condenada por essas actividades beneméritas e de brincadeira. E ainda falam no advogado Garcia Pereira que só quer ganhar o dele...
Isabel do Carmo, a revolucionária que renega as bombas assassinas em
prol das que não matam e só moem, deu uma entrevista ao i do
passado dia 17. Nela conta coisas do seu passado revolucionário.
Aparentemente foi tudo muito suave e discreto, tendo sido uma luta
patriótica contra o fascismo que prendia e torturava e "matou muita
gente na guerra". Supõe-se que se refere à guerra do Ultramar...o que só
denota a obscenidade da observação, por contraposição ao branqueamento
da sua acção, após o 25 de Abril de 1974 ( tendo sido comunista do PCP,
apostatou para se dedicar à Revolução, tendo assim contraído a doença
infantil habitual) em que como membro fundador do PRP-BR foi responsável
directa por acções armadas e mortais. Diz que nunca pôs bombas. Ajudou a
pôr...
Foi presa duas vezes, as duas quando os seus filhos tinham oito meses.
A
primeira vez foi depois da morte do Ribeiro dos Santos, assassinado
pela PIDE. Era filho de um colega médico e emitimos um comunicado na
Ordem. Deixei lá ficar o documento com a minha letra, a PIDE encontrou-o
e prendeu-me, ia eu com a minha filha ao colo. Cinco anos depois foi
com o meu filho, já posterior à contra-revolução. Estive presa quatro
anos e foi duríssimo.
Não se arrepende de nada desses tempos de maior activismo político?
Do
que fiz, nada, defendi aquilo em que acreditava. Às vezes pergunto-me
se não fui uma mãe como as outras, é talvez a única mágoa. Penso para
mim que eles não tiveram as coisas que outras crianças têm. Os pais
estão sempre presentes, vão às actividades, fazem férias, vão à piscina.
Quando saí da prisão tinha a minha filha 11 anos, e o meu filho cinco.
Sendo médica, como é que se gere a defesa da luta armada?
Gere-se
bem. Fui uma das pessoas que mais se bateu dentro das brigadas para as
bombas não matarem ninguém. Era uma questão de princípio que não
houvesse mortes. Depois houve mortes de dois colegas nossos que
colocaram mal a bomba. Mas mortes provocadas em terceiros, nunca
aconteceu. Colocávamos as bombas à noite, quando não estava ninguém nos
edifícios do Estado, e avisávamos as pessoas por telefone, para não se
assustarem.
Pôs bombas?
Antes do 25 de
Abril transportei material explosivo, estive integrada na organização
das acções, fiz observação de locais. Participei completamente na
organização, mas nunca instalei. A minha cara já era conhecida, a PIDE
andava em cima de mim. Este regime matou muito na guerra,
oposicionistas, mas sobretudo torturava muito e há muita gente que foi
muito torturada que não é lembrada. Torturava brutalmente para obter
confissões e, às vezes, já depois de terem confissões, continuavam só
para humilhar. Mesmo aquele ano final do marcelismo, que para alguns
aparecia como uma primavera, foi um ano de brutais torturas.
E isso justificava as bombas?
Com
certeza. Não como vingança ou resposta, mas para abalar o regime.
Porque uma coisa é a actividade clandestina: panfletos, jornais e até
greves. Para um regime como o Estado Novo, isso era previsível, tinham
informadores em todo o lado. As bombas, não. Eram uma coisa física:
atinge e é inesperado. Não se sabe onde ir à procura delas. As bombas
dos últimos anos abalaram muito o regime. O Otelo, no livro “Alvorada em
Abril”, reconhece a nossa influência.
Sente-se injustiçada no rótulo de bombista?
A história de eu ser bombista veio sempre da direita ou da extrema-direita. Não me afecta nada.
E no trabalho, nunca ouviu críticas?
Quando
fui condecorada pelo Presidente Jorge Sampaio, o CDS tomou posição
pública. Aí houve uma polémica com o Pires de Lima, que foi reproduzir o
que estava escrito na internet por um site apócrifo – aliás, fácil de
perceber, porque não falava das Brigadas Revolucionárias, mas das
Brigadas da Revolução. Nessa altura fui explicar-me à televisão porque
havia uma calúnia. Falava em morte de pessoas e isso nunca aconteceu.
Francamente, emocionalmente, vivo bem. E, depois de todos os
julgamentos, fiz a minha vida profissional de forma que isso não fosse
objecção. O que exigiu muito esforço.
Em que sentido?
Foi tudo a pulso. Não tanto pela política, mas porque, para uma pessoa ganhar espaço, precisa de se afirmar pelo mérito.
Para
quem não sabe, Isabel do Carmo, juntamente com o seu companheiro de
luta de então, Carlos Antunes, faziam a parelha simbiótica com as
utopias comunistas da época. Eram os baader-meinhoff de cá, mas não se
dão por achados porque de nada se arrependem e nada esqueceram. Mas a
memória é selectiva e só perdura no que lhes interessa. Por isso mesmo
importa lembrar o que não querem e o jornalismo de trazer por casa, tipo
para quem é bacalhau basta, aprecia e serve.
A Wikipedia resume assim
o percurso de Isabel do Carmo e do partido que fundou, o PRP-BR e da
sua particular ideia de justiça revolucionária ( julgamento e execução
sumária e morte dos "traidores", num exemplo subido de humanismo
actualizado por esta pacata endocrinologista ):
"Entre 1975 e 1979 o PRP desenvolveu actividade clandestina através
das suas Brigadas Revolucionárias, que estiveram envolvidas em
actividades de "recuperação de fundos" (através de assaltos a bancos e
repartições da fazenda pública) e colocação de engenhos explosivos.
Estas actividades deram origem ao chamado "Caso PRP", que terminou com a
condenação de vários dos envolvidos, incluindo dos dirigentes Carlos
Antunes, Pedro Goulart e Isabel do Carmo. Também reivindicada pelas BR
do PRP foi a execução, em Novembro de 1979, de José Plácido,
ex-militante da Marinha Grande, por delação e alegada corrupção
(apropriação pessoal de fundos do partido, oriundos dos assaltos).
Um importante grupo de militantes do PRP e das BR acabou por fundar, já nos anos 80, as FP-25."
O
chamado "caso PRP" colocou vários problemas jurídicos relativamente à
repartição de responsabilidades criminais, directas e indirectas, dos
seus militantes e dirigentes. O ministro da Justiça de então, Meneres
Pimentel ( 1982) confrontado com a greve de fome dos presos do caso
PRP-BR, não sabia como resolver o problema e apareceram logo os demais
beneméritos a propor a salvífica amnistia.
Como agora se lê,
Isabel do Carmo foi uma santa de uma ladeira íngreme de luta contra o
fassismo. Uma heroína que lutou contra os algozes do povo português e
por isso aplaudiu os atentados bombistas, ajudando a prepará-los,
aplaudiu os assaltos de recuperação de fundos aos capitalistas
exploradores e aproveitou o seu resultado, aplaudiu os assassínios dos
vários inimigos do povo abatidos a tiro, alguns de forma cobarde. Na
altura dirigia o PRP-BR e que se saiba nunca se demarcou pessoalmente
dos homicídios cometidos. Vem agora verter as lágrimas de crocodilo
sobre o leite derramado, atirando a responsabilidade pelas " calúnias"
para a "direita e extrema-direita" .
Para além disso, Isabel do
Carmo teve sempre o beneplácito de uma certa esquerda moderada
entranhada no O Jornal e depois na Visão. Várias foram as reportagens
que a mostraram a ela e aos filhinhos sem que idêntica imagem fosse dada
dos filhos daqueles que morreram às mãos dos terroristas do PRP-BR e
depois das FP-25, uma excrescência da mesma hidra.
Em 15 de Agosto de 1975, a Flama ( imagens tiradas daqui) mostrava numa entrevista do que era feito o espírito de Isabel do Carmo, a actual santinha da ladeira do comunismo renegado.
E explica o aparecimento do nosso grupo baader, perdão, revolucionário das causas perdidas, o PRP-BR:
Por
isso vale a pena lembrar o que dela e dos demais, incluindo o outro
benemérito Carlos Antunes, disse um que os conheceu demasiado bem:
Altino Alves Dias de Oliveira que no Expresso de 20 de Dezembro de 1980
( estava Isabel do Carmo presa, juntamente com outros elementos do
PRP-BR, enquanto cá fora os outros revolucionários do grupo estavam
prestes a formar as FP-25 que nos anos seguintes espalharam o terror em
Portugal) .
O
artigo prossegue por mais páginas...mas estas chegam para lembrar a
Isabel do Carmo que há quem tenha memória dos factos e nem todos os
jornalistas são mentecaptos.
Ah! Já me esquecia: as manas Mortágua ainda não eram nascidas quando estas coisas sucederam. O pai das ditas, da antiga Luar também andou nestes preparos cripto-revolucionários de pôr bombas, assaltar bancos e liquidar pessoas por interpostos capos. Uma delas também já assegurou do limbo da sua inexistência que tal coisa nunca sucedeu com o papá, uma jóia de pessoa que agora até é latifundiário sem ser patrão.