O Correio da Manhã decidiu assim fazer a primeira página:
Em destaque a notícia sobre o fait-divers do ladrão que foi morto por um turista, no decorrer de um assalto, no Algarve. Quem viu nos noticiários da tv da noite anterior ficou a saber essencialmente tudo, com algumas imagens que as tv´s reportam a acompanhar o assunto. Nada de especial a não ser a típica ocorrência do homem que morde no cão- é uma vítima de assalto quem mata o ladrão que lhe entra em casa. Está tudo dito, mas o CM adiantou mais um pouco e recolheu opinião sobre o caso; dá duas páginas ao assunto e na primeira ilustra o possível cenário. A redacção da notícia é factual no que se refere ao acontecimento e se corresponder à verdade dos factos nada há a apontar. Ao lado a opinião de um jurista que aventa a possibilidade de existência de crime de homicídio no caso de não se verificar legítima defesa, mesmo excessiva e a opinião de uma moradora que não compreende uma eventual condenação de quem matou o assaltante. Tirando a ilustração que ocupa pelo menos um quarto da página, a notícia é jornalística e nada tem que se lhe possa apontar. As tv´s terão informado assim?
Vejamos agora o tratamento jornalístico dado a esta notícia pelos restantes jornais.
O Diário de Notícias, assinada por J.C. colocou esta em que dá conta do facto e explica melhor o que ocorreu. Sem imagem ou opiniões alheias. Vantagem para o DN, embora o CM contenha todas as informações na mesma notícia, embora redigida de modo diverso. Prefiro a do DN.
Afinal, depois de se saber pelas tv´s ( particularmente a CMTV) o que teria ocorrido qual a vantagem de comprar um jornal para ler o que já se sabia? Só vejo uma: se a notícia contiver pormenores mais esclarecedores. Será o caso? Não me parece.
O Público ( neste caso edição do Porto, mas será idêntica à de Lisboa) não tem uma única menção ao assunto. Zero.
O i igualmente zero de notícia sobre o assunto. O jornal, aliás, parece que não se dedica a notícias mas a opiniões sobre diversos temas.
E agora outra notícia: o caso do acidente de viação na EN2 em Castro Verde. Essencialmente as tv´s deram conta do assunto logo em cima do acontecimento, quase e como é costume. Os jornais neste aspecto não têm vantagem alguma, nem mesmo a de fornecerem pormenores que serão ainda desconhecidos.Por exemplo, o bebé de dez meses que seguia na carroça também acabou por falecer e os jornais fecharam antes dessa notícia.
O Correio da Manhã tratou assim o caso:
O DN nem pegou no assunto. O I idem aspas e o Público ( que atribui 18 meses ao bebé) colocou assim uma notícia assinada ( Mariana Oliveira) na última página:
O que separa as duas notícias? Uma coisa muito importante e que as tv´s provavelmente não noticiaram: "todas as vítimas mortais são de etnia cigana e têm relações entre si", disse ao CM fonte dos bombeiros.
Porque é que o Público não mencionou que se tratava de uma família de ciganos? E porque não mencionou outro facto, aliás frequente nestes acontecimentos que envolvem ciganos - o de a GNR levar dali para fora os condutores dos carros envolvidos, que sofreram ferimentos ligeiros, por questões de segurança devido à revolta gerada pela chegada ao local de outros familiares das vítimas mortais"?
Ambas as notícias terminam do mesmo modo. CM: " o cavalo que puxava o veículo sobreviveu à tragédia". Público: "O animal que puxava a carroça, um cavalo, sobreviveu ao acidente".