sábado, outubro 22, 2016
O chique radical continua actual
No outro dia estava a ler esta entrevista com Tom Wolfe, na edição desta semana da L´Express e tal conduziu-me a outras paragens de leitura que glosam o fenómeno muito burguês do "chique radical". A "Esquerda caviar" é uma variante do fenómeno que assenta bem nos fradecas do BE, mas esta perversão do "chique burguês" vem lá de fora e já tem décadas.
E entrevista de Tom Wolfe revela que o mesmo considera o seu escrito sobre a "radical chic" um dos seus melhores artigos de sempre.
Apareceu originalmente na revista New York, em 8.6.1970 e teve este enquadramento temporal:
"On the evening of January 14, 1970, Felicia Bernstein hosted approximately 90 people in the Bernsteins' home to raise funds to support the families of the "Panther 21," a group of twenty one Black Panther Party members arrested on April 2, 1969 and charged with conspiring to kill police and bomb New York police precincts, department stores, and other public buildings. The Panther 21 had been held in jail for nine months—many on bails set as high as $100,000—without a trial and without adequate resources to prepare for their defense.
The Black Panther Party, a radical, socialist organization committed to the empowerment of African Americans, was a source of anxiety for many Americans. FBI Director J. Edgar Hoover called the Black Panther Party "the greatest threat to the internal security of the country." Yet to civil libertarians, the arrest of the "Panther 21" appeared to be a case of government engaging in preventive, political detention and ignoring due process. A group of concerned New Yorkers established a fund to help with legal expenses and to assist the families of the accused while the prisoners awaited trial; the gathering at the Bernstein apartment was held to raise awareness and contribute to this fund.
What was intended as a serious meeting to address a violation of civil liberties became a sorely misunderstood event that led to a media frenzy and extensive personal attacks on the Bernsteins. Years later, it was further understood to be a glaring example of FBI intrusiveness at its very worst.
In attendance at the Bernstein apartment on January 14th were numerous prominent figures in the arts and media, including Otto Preminger, Jean vanden Heuvel, Peter and Cheray Duchin, Sidney and Gail Lumet, Cynthia Phipps, Barbara Walters, Bob Silvers, Mrs. Richard Avedon, Mrs. Arthur Penn, Julie Belafonte, Peter Stone, Sheldon Harnick and Burton Lane. Also present were Black Panther Party members Robert Bay, Donald Cox and Henry Miller, as well as some wives of the accused. Members of the press were not invited to the event, but Charlotte Curtis of the New York Times and Tom Wolfe of New York Magazine somehow managed to slip in."
A crítica acerada de Tom Wolfe acerca da festa que os Bernstein deram na sua casa de luxo aos esquerdistas do activismo negro, socialistas de comunismo tipo americano, na altura, fundou-se no mesmo fenómeno da actualidade de sempre, espelhada hoje no artigo do tal Melo, no Sol, acerca de Che Guevara: uma condescendência para com uma esquerda radical cujos métodos de acção se relevaram muitas vezes criminosos em termos de direito comum e passaram para o lado do terrorismo.
Actualmente, em Portugal, as organizações revolucionárias dos anos sessenta e setenta, todas de índole comunista e de extrema-esquerda gozam de uma boa imprensa e de uma imagem de romantismo revolucionário a toda a prova. Um dia destes veremos ainda a recuperação de imagem das FP25...
Frequentemente vemos ouvimos e lemos relatos na primeira pessoa, como os do pirata Mortágua, acerca dos feitos antigos em prol do derrube do "fassismo" e da recuperação de uma pretensa liberdade que fatalmente conduziria a outros gulags...mas enfim.
Este fascínio pelos revolucionários de bombas feitas e rebentadas que chegaram a matar pessoas inocentes, revela uma mentalidade que ainda não se ultrapassou, em Portugal , eventualmente pela simples razão de que os que escrevem sobre isso ou viveram esses tempos do lado dessa barricada ou são filhos dos seus autores, espirituais que sejam.
Esta mentalidade começou algures nos anos sessenta e há mostras das suas manifestações.Tal como Tom Wolfe mostrou no seu escrito antológico, o chique radical assenta numa grande hipocrisia: a celebração de um romantismo revolucionário cujas consequências reais conduziriam ao seu desaparecimento, com vastas consequências que aqueles nunca admitiriam.
Então porquê a celebração? Porque "é chique a valer", como diria um Dâmaso Salcede.
Em 1970 o maestro e compositor Leonard Bernstein era popular em Portugal por causa dos "concertos para jovens" , série de televisão que a então RTP adquirira em 23 episódios e destinada a divulgar música erudita sem o peso de casacas e com explicações avulsas acerca das peças de Mozart ou Stravinsky.
E por isso foi capa da Nova Antena de 28 de Agosto de 1970. Esta capa e artigo apareceu alguns meses depois do artigo de Tom Wolfe na New York e é muito improvável que tivesse algo a ver com o mesmo. Porém, mostra bem a influência mundial, no mundo da cultura que Bernstein tinha na altura.
Aliás, nesse tempo já tinha sido publicado por cá, na editora Livros do Brasil, o livro de Bernstein, O Mundo da Música ( The joy of music) publicado originalmente em 1954 e por cá também nessa altura, reeditado várias vezes ( a edição actual tem capa verde e azul). Um livrinho muito recomendado aos jovens de então e depois.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
15 comentários:
o nome do judeuzinho bernstein significa
âmbar
o seu ego sempre esteve num plano superior
prefiro outros dirigentes, como Herbert von Karajan,
que nunca se puseram de cócoras
esperei que Vargas Liosa se pronuncia-se mais abertamente a este submundo de cano de esgoto
Ah, que maravilha esta partilha, José. O arguto do Wolf topou-os bem. Até desconfiaram que foi gravado quando lhe bastou a estenografia.
E incrível os "intelectuais" e cineastas que foram à recolha de fundos e "sessão de terapia"
ehehehe
Lembro esses concertos para jovens do Bernstein.
Ainda há pouco tempo voltei a vê-los no canal Mezzo.
Foi através deles que comecei a entender melhor a música.
Mais tarde até chegaram a passar concertos dirigidos por Ivo Cruz.
Mas eram tempos rotulados de obscurantismo.
Era, era...do obscurantismo cuja cultura na televisão era mais avançada do que hoje.
Não havia reality shows mas havia concursos como o Zip Zip.
Concursos, não. Programas de variedades. Concurso havia O tempo em que você nasceu, com o Artur Agostinho, um fassista preso em 28 de Setembro de 1974.
os abrantes voltaram com nomes diversos, mas a mesma
subserviência
José o ELP do Spínola também matava gente e não me consta que fosse de esquerda.
Grande resenha sobre os acontecimentos político-revolucionários desses Black Pathers e dos que os seguiam polìticamente. Soube pouco deste grupo na altura e menos ainda sobre o que eles pretendiam política e socialmente - hoje sei que era a apologia da revolução comunista para a alteração completa das regras sociais e políticas da sociedade conservadora norte-americana, claro) li e ouvi pouca coisa sobre aquele grupo sobretudo porque sendo novita tinha desinteresse por aquele género de grupos musicais, mas também porque em Portugal, pelo menos que fosse do meu conhecimento, pouco ou nada se falava deles nos rádios e nas notícias.
Sei que li numa revista qualquer francesa (ou teria sido na capa d'algum jornal americano ou de uma das revistas de cinema editadas em Hollywood - que eu comprava na altura - jornais que se podiam ver nos escaparates e montras de uma ou outra livraria, já não me recordo) que pouco tempo depois de alguns elementos do grupo terem sido presos, a actriz norte-americana Jean Seberg, que se dizia ter vivido com o vocalista(?), veio refugiar-se em Paris com o intuito de ficar a trabalhar neste país. Foi criticadíssima nos E.U. por estar ligada ao grupo e por viver (ou ter vivido) com o elemento principal. Algum tempo depois foi encontrada morta, completamente despida, dentro de um carro junto ao Sena.
Não faço a menor ideia o que terá acontecido aos elementos do grupo depois deste ter acabado, mas não terá sido coisa boa.
O José, que está dentro destes assuntos por ter muita documentação da altura, sabe se a senhora Bernstein, que promoveu a tal reunião em sua casa convidando revolucionários e personalidades muito conhecidas incluíndo gente do cinema - não por acaso quase todos eles judeus - para ajudar a reunir umas maças generosas para a defesa dos detidos, era a mulher do famoso maestro Bernstein? Se era, valha-nos Deus! Se não era, seria sua aparentada de certeza. Como dizia o outro, isto está tudo ligado...
Também tiveram a ADL a chagá-los por haver anti-semitismo nos Panteras
AHAHHAHAHAHAH
na ditadura comunista do monhé a música é a da 'canção do bandido'
na comunicação socialista não aparecem os partidos da oposição. principalmente o PSD, excepto para dizer mal
consta que o beijoqueiro se tornou caixeiro- viajante e porta-voz dos 'filhos do putin'
sem ofensa para Putin em guerra quente contra o nabo do gringo
Cara Zazie
vem citada no Insurgente
por cá temos o
'monhé power'
enquanto escrevo aumenta a dívida dos contribuintes numa ditadura comunista
onde o estado a que isto chegou já não presta serviços
porque o dinheiro emprestado e sacado vai todo para ordenhados
na Venezuela protestam. por aqui agacham-se e põem as nalgas à disposição
ehehe
Lembrei-me daqueles encontros "simples" com o 44 a teorizar acerca das vantagens da Liberdade cibernáutica
":OP
A senhora Bernstein é a mais fustigada no artigo de Tom Wolfe, o escritor que deveria ter ganho o Nobel, em vez do Dylan. Seria escândalo à mesma mas para mim ainda mais delicioso.
Dos poucos livros que li e guardo recordações de ter relido com o mesmo prazer, está A Fogueira das Vaidades. É um romance à francesa do antigamente, dos Zolas. Ou Queirosiano, se fosse de cá.
Sim. O Tom Wolfe merecia-o bem e a iconoclastia aí é que era a valer.
consta que o fugitivo mais falado acaba de encomendar uma pizza pelo telemóvel
nada se sabe dos fugitivos do Barreiro
no mistério púbico
tudo bem
como convém
o confisco do ralha e centeno não os encontra
na CGD o presidente já começou a falar
antes de trabalhar
afinal não há capital para o banquinho
o PR ainda se não pronunciou
admirava!
fala de tudo
Enviar um comentário