terça-feira, abril 17, 2018

A condição da informação actual e passada

Em meados de 1969 gerou-se no sector metalomecânico nacional que então empregava dezenas e dezenas de milhar de pessoas, em pequenas fabriquetas de aldeia e até cidades, um movimento de contestação a três decretos-lei, provenientes do Governo de Marcello Caetano que protegiam objectivamente a indústria siderúrgica nacional, então privada e que produzia aço, em diversas formas, para aquele sector.

A Siderurgia Nacional fora inaugurada em 1961 e destinava-se a prover o país dessa matéria primordial para a indústria, com o propósito confessado de nos tornar independentes de fornecedores externos e desse modo termos uma economia mais saudável e competitiva. Em 1965 conseguira uma ampliação para o Seixal e no final de 1968 tinham sido aprovados esses decretos proteccionistas.
Os diplomas em crise concediam vantagens e protecção industrial à SN, mas tiveram como consequência tornar os preços mais altos para aqueles pequenos e médios empresários das fabriquetas.
Eram medidas de protecção pautal, de incidência aduaneira, aos produtos siderúrgicos.
Alguns deputados na Assembleia Nacional preocupados com esses interesses localizados, trouxeram tal assunto a discussão, aquando da apreciação na generalidade o que obviamente perturbou o funcionamento da Siderurgia numa fase de expansão.
Essencialmente a discussão centrava-se na questão da rentabilidade de tal indústria que assim carecia de protecção. Não se negava a necessidade de tal, mas a extensão da mesma. E apontava-se o efeito: prejudicar o industrial do sector, o tal das fabriquetas que empregavam mais de 100 mil pessoas na altura, em Portugal.

Os defensores da SN indicavam que o projecto iniciado com o começo da década já tinha poupado ao país mais de 8 milhões de contos e prometia melhor futuro nesse campo, mas nem assim desarmaram aqueles contestatários que não eram esquerdistas mas industriais locais, como João Ulbach Chaves, dos lanifícios e outros.

Nessa altura estava no auge o problema do processo da herança Sommer que obrigou Champalimaud , o mentor de todo o projecto da SN apesar de não ser gestor da mesma ( delegava isso em técnicos),  a refugiar-se no México, pelos vistos a conselho de Adriano Moreira que não sabia que na altura o Brasil serviria na mesma como refúgio seguro . Estas informações foram recolhidas da biografia de Champalimaud, da autoria de Isabel Canha e Filipe S. Fernandes, aqui já referenciada.

Como é que esta discussão se fez na opinião pública? De um modo que agora não se faz relativamente a outros projectos, por exemplo o do TGV...

A revista Vida Mundial, de 4.7.1969  dava a capa ao assunto e explicava num pequeno ensaio, assinado por Adelino Cardoso o que se passava, claramente e sem subterfúgios. Adelino Cardoso era um esquerdista que consultou fontes que indicou expressamente, ao contrário do que hoje sucede com os jornaleiros da ensaística avulsa. Não condicionava a informação, como hoje o fazem.
Ah! E não menciona uma única vez o nome de Champalimaud...



Há por aí muitas pessoas a bolsar asneiras sobre o "condicionamento industrial", sem saberem o que foi e como foi e apenas baseados nas opiniões esquerdistas de outros asneirentos como eles.

Questuber! Mais um escândalo!