domingo, abril 08, 2018

A Espanha na lua: que Deus guarde os portugueses!

Esta crónica de Filipe Pinhal no Sol de ontem suscita-me este postal.


Há muito tempo que procurava oportunidade para colocar aqui este recorte antigo de que até esqueci a data mas é dos início dos anos noventa e de um jornal que suponho ser o Expresso, mas poderia ser o Independente.

O tema é a Espanha e Portugal e a comparação de termos aponta-se ao longo dos anos até à época.
A comparação de Filipe Pinhal, cada vez mais interessante nas crónicas que publica, resume-se  a alguns fenómenos económicos: Telefónica, Santander, Corte Inglès e Zara, versus PT, BES, Armazéns do Chiado e Maconde.

Ora como é que isto sucedeu?

A revista francesa L´Histoire deste último trimestre dedica um número especial a Espanha e à sua história. Talvez um dia destes a revista de História do Jornal de Notícias ou a Visão História faça o mesmo. Até lá podemos sempre ler o que escrevem...



Por ocasião da comemoração dos 30 anos do seu aparecimento, o jornal El País, em 2006, publicou-se um número especial cujos recortes informam o essencial da história contemporânea espanhola, após o desaparecimento do franquismo, em finais de 1975 e a transição para a democracia.


Enquanto os portugueses aguentaram neste mesmo espaço de tempo de três anos, um PREC comandado pela Esquerda, com os comunistas ainda estalinistas a orientar ideologicamente, os espanhóis não embarcaram nessa aventura e tal fez toda a diferença para os anos vindouros. O PC espanho tinha-se social-democratizado ( tal como o PCI italiano)  para grande enfado dos comunistas portugueses que nem queiram ouvir  falar nisso. Até hoje, aliás.

A razão para aquelas discrepâncias económicas acima apontadas reside em grande parte nesse fenómeno que nos assolou durante mais de 15 anos, a seguir ao 25 de Abril de 1974 e continua a influenciar através da ideia de geringonça política: a política de esquerda condizente com as nacionalizações. A Espanha não teve nada disso e parece-me ser essa uma das principais explicações para o nosso atraso relativo. Nesse período de tempo tivemos duas bancarrotas iminentes e a Espanha nenhuma. Enquanto eles progrediram nos regredimos e afastámo-nos da Europa de que aqueles se aproximaram mais.

Ou seja e em resumo: a principal razão do nosso atraso é imputável à ideologia esquerdista que ainda permeia a nossa intelligentsia, plasmada na Constituição que continua a ser um farol para essa mesma esquerda, comunistas incluídos, naturalmente.

Além disso, culturalmente deixamo-nos atrasar também. Pegando num aspecto que afeiçoo, o da cultura popular, a Espanha nos anos oitenta tinha uma produção de banda desenhada invejável e comparável aos franceses da época, mesmo que aí fossem buscar grande inspiração.

Mais recortes, de 1981 e 1987:



Nós, em 1989, tínhamos quase nada de original e disso dava conta o Independente de 28 Abril de 1989.

 
 Tínhamos um Relvas ( que morreu no outro dia na miséria, depois de ter desenhado no Sete), um Colombo em duplicado ( os irmãos Vasco e Jorge que aliás faz a resenha do estado dessa arte menor, nessa altura, porque era director gráfico da revista do Independente) e um Eduardo Teixeira Coelho que já não existia graficamente ou um ilustrador como Carlos Alberto que fazia capas para revistinhas semi-pornográficas, depois de ter ilustrado centenas delas para livrinhos de cóbóis, nos anos sessenta e setenta. Tínhamos ainda um Zíngaro, às vezes em capas de discos. E nada mais que me lembre.

Dos espanhóis, só de ver as ilustrações do galego Miquelanxo Prado até doía apreciar tanto talento que nunca tivemos.

Portanto, nos anos sessenta e antes disso nós nem éramos destituídos de valores. Basta ler este recorte publicado no jornal Aurora do Lima, do passado 29 de Março deste ano:


Picasso, nessa altura era quase nada, para essa escola e para os demais cidadãos comuns.  E com alguma razão porque o mito apareceu muito tempo depois.

Para além de Picasso, a Espanha tinha para mostrar vários contemporâneos, com museus dedicados. Por exemplo, Salvador Dali que em Abril de 1981 foi retratado assim na revista alemã Pan:


Para além disso a Espanha evoluiu ao longo destes anos e dei por mim a folhear esta revista no quiosque, para concluir depois de a comprar que é...espanhola e cujo número um é deste mês.  Uma imitação da ideia lançada pela Monocle ( que não consigo ler) e outras The Good Life ( francesa e que leio melhor) mas com um interesse possivelmente maior:


Escrita integralmente em inglês, o título é um programa- Man on the moon- e os artigos são curtos, bem como as pequenas entrevistas. Neste primeiro número também se fala de Lisboa e aparece o presidente Medina, de boas graças com a redacção da revista...o que é de desconfiar, mas enfim.

Portugal não tem disto nem nada que se pareça. Porquê? Uma explicação pode ser esta que aparece em página dupla no Correio da Manhã de hoje:


Um almoço comemorativo de assassinos salvos pelo gong das prescrições processuais penais, com uma contribuição omissiva da actual responsável pela PGDL, Maria José Morgado.
Neste caso, por razões políticas?  Terroristas das diversas facções que descambaram nas FP25 e que não sentem qualquer vergonha pelo que fizeram. Até comemoram!

Esta gente que comemorou ( o quê, afinal?) algo hediondo,  queria para Portugal um regime democraticamente insuportável a exemplo das piores ditaduras do séc. XX.  Pois não têm qualquer vergonha disso e a prova aí está.


Questuber! Mais um escândalo!