Em 18 de Junho de 2014 coloquei aqui um postal para dar conta do que foi a evolução nos media impressos, em Portugal, desde os tempos da manhã de Abril de 1974 e até antes até então.
Tal postal permanece actual e carece de uma actualização para que se entenda o domínio efectivo da esquerda que incensa a manhã de Abril até ao paroxismo do "25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!".
Actualmente, com uma excepção muito mitigada num jornal semanário, O Diabo, redactorialmente muito fraquinho, não há um único órgão de informação geral em Portugal, impresso e que se venda em quiosque, capaz de contrapor ao discurso do "fascismo nunca mais!" um qualquer argumentário convincente e eloquente, susceptível de mostrar que no tempo de Salazar e Marcello Caetano, anterior portanto àquela manhã de Abril, houve muitas coisas que merecem ser contadas e apreciadas devidamente e mesmo seguidas como modelos porque nos honram como país e nação. E principalmente não há ninguém que escreva e saia do modelo do antifassismo militante que execra Salazar acima de tudo.
Pelo contrário, todos os media existentes estão pejados de jornalistas que para exercerem a profissão carecem de um juramento à bandeira antifassista. De tal modo que o discurso escrito da classe sobre esse assunto é unitário, unidimensional e de sentido único. Quem não professar o credo antifassista elaborado pela esquerda comunista e socialista não tem lugar nas redacções escritas e muito menos nas direcções mediáticas.
Isso é profundamente antidemocrático se quisermos seguir a cartilha professada na profissão. Um regime que não admite opinião que possa pôr em causa esse pensamento único é um contraponto ao regime que os mesmos apelidam de fascista. Com uma agravante: no regime de Salazar e Caetano a esquerda socialista e comunista manifestava-se nos escritos, entre linhas e nas escolhas redactoriais porque já então dominavam as redacções, o que aliás é reconhecido pelos próprios.
Actualmente não há registo de tal escrita publicamente impressa e quem o faz em blogs, como este, é simplesmente apelidado de reaccionário ( "cada vez mais...") o que revela o carácter profundamente antidemocrático desses democratas que na maioria dos casos professaram o comunismo, muitas vezes esquerdista que os marcou indelevelmente.
Quem dirige actualmente os jornais que temos? Todos profissionais do antifassismo primitivo, o que foi ensinado nas escolas oficiais, antes e depois daquela manhã de Abril. Será isto normal e digno de uma sociedade que se diz democrática?
Qual a diferença entre um regime destes e o que os mesmos apelidam de fascista, existente antes da manhã de Abril? Só de polarização e nem isso. Antes havia "oposição democrática" com direito a expressão, mesmo encriptada porque subterrânea e mesmo clandestina. Aliás, esta mentalidade forjou-se nesse tempo e passou o testemunho nas escolas de jornalismo entretanto criadas, okupando todo o espaço mediático e ideológico.
Isto não é normal e quem acha que é e assim deve ser sofre de défice democrático.
Quem é que dirige e escreve no Público? Um antifassista encartado nas escolas posteriores à manhã de Abril. Por isso foi escolhido. E por sua vez escolhe quem escreve opinião e artigos. Antes dele, deste Dinis, esteve uma outra antifassista artsy artsy, ultimamente muito preocupada com uma certa audiência de julgamento que decorre à porta fechada, mas antes nunca ocupada noutras audiências bem públicas como o caso Face Oculta, por exemplo e para ficar por aqui.
Antes dela, o actual redactor principal no site Observador, José Manuel Fernandes, reconvertido ao liberalismo, à falta de melhor expressão que designe alguém que tendo sido de extrema-esquerda viu a luz muito tarde na vida adulta e seguiu o caminho da conversão, sem abandonar o antifassismo matricial que o impede de ver para além disso.
Antes dele esteve um que ainda anda a militar no antifassismo de raiz socialista democrática e por isso sectário qb., Vicente Jorge Silva.
Assim, o Público é desde a sua origem um jornal antifassista que exulta sempre nas efemérides daquela manhã de Abril.
E o resto?
O Diário de Notícias, desde o tempo de Saramago e antes dele, faz o que o poder que manda nele manda fazer. É um jornal pau-mandado e tem actualmente como director alguém que há pouco tempo nem se achava capaz de o ser. Porém, desde a manhã de Abril, como é natural, é um bastião antifassista, sem uma brecha que seja na estrutura genética. O Jornal de Notícias, agora no mesmo grupo, segue naturalmente as pisadas ideológicas e sempre seguiu aliás, mesmo no tempo dos redactores intelectuais como Manuel António Pina, já falecido e um antifassista encartado na poesia.
Os outros jornais do Porto, Comércio do Porto e Primeiro de Janeiro, nos anos oitenta ainda tentaram inaugurar uma tímida divergência ideológica alternativa, com um Freitas Cruz e algumas pessoas ligadas ao CDS, mas ainda assim "rigorosamente ao centro" e portanto antifassistas por empréstimo, também de loas à manhã de Abril.
Em Lisboa, os jornais desaparecidos- A Capital, Diário de Lisboa, Diário Popular- e os entretanto aparecidos e também já desaparecidos, O Século numa nova fórmula, um Portugal Hoje e outros, por falta de audiência, seguiram todos o mesmo guião do unanimismo opinativo e redactorial, antifassista e de loas à manhã de Abril, com o desprezo assinalado no dia próprio, pelo que se passou anteriormente.
Em 44 anos de democracia, esta serviu para execrar e vilipendiar o regime que substituiu. Os argumentos para tal redundam sempre no mesmo: faltava liberdade. E agora, não falta liberdade para se dizer publicamente e sem receio de ser apelidado de reaccionário, que o anterior regime precisa de ser melhor estudado e tinha coisas boas?
A razão para este estado de coisas já nessa altura, no postal de Junho de 2014 as enunciei e por isso reproduzo:
Ao longo dos últimos 40 anos a evolução mediática em Portugal
pautou-se por um fenómeno singular: uma esmagadora maioria de esquerda
domina ideologicamente tais media. Por esquerda compreendo aqueles que
acreditam nas virtudes salvíficas do socialismo, democrático ou nem
isso. Portanto, do PS para a esquerda do espectro político e com grandes
fatias de simpatizantes do PSD e até do CDS.
Para
percebermos como foi possível este estranho fenómeno na sociedade
portuguesa temos que recuar alguns anos antes do 25 de Abril de 1974 e
entranharmo-nos nos próprios anos sessenta, após o Maio de 1968 e das
crises académicas em Portugal, no ano seguinte e com percursores muito
antes disso.
Não obstante tal tarefa ingrata obrigar a
mostrar um Alberto Martins a provocar publicamente o então presidente
da República, Américo Tomás e ainda mais atrás um Sampaio cenoura
sentado a protestar nas balaustradas universitárias, podemos cingir-nos
ao período que começou logo em 1974, no início do PREC.
Um dos
jornais mais esquerdista e desabridamente comunista que apareceu então,
era o semanário Sempre Fixe dirigido por Ruella Ramos que também se
ocupava da propaganda comunista no Diário de Lisboa.
O Sempre Fixe
de Setembro de 1974 exultava com a queima de jornais, num público auto
de fé antifascista. Jornais fascistas, claro está e que só por isso
podiam ser queimados, sem que alguém levantasse um dedo de escrita em
protesto.
Durante
os anos setenta foram aparecendo jornais cuja ficha redactorial ensinam
mais que mil palavras sobre a Esquerda que dominou ideologicamente
esses tempos e logrou implantar ( como quem implanta um dente de ouro
postiço...), um léxico bastardo na linguagem corrente da época.
Quem
melhor dá o retrato do abuso e do crime cometido é um indivíduo que era
então comunista e se reciclou no PS, sendo presidente da Sociedade
Portuguesa de Autores. José Jorge Letria escrevia assim no "E tudo era
possível"...
As
fichas redactoriais desses anos setenta alinhavam os nomes que fizeram
então o jornalismo e ensinaram aos que lá aprenderam e estagiaram que a
Esquerda é quem manda e quem não obedecer não tem lugar ao sol na
profissão.
A Vida Mundial de Março de 1975, apesar de o seu
director ser um cripto qualquer coisa, e ter colaboradores como António
José Saraiva, era um cóio de comunistas que aplaudiram as
nacionalizações, o PREC e o caminho para o socialismo com amanhãs a
cantar numa sociedade sem classes. O Alexandre Manuel que estivera na
Flama católica, era dos piores...
O
Jornal apareceu em Maio de 1975, com jornalistas associados numa
espécie de cooperativa. Tudo de esquerda e próximos do então MFA, com
laivos de revolucionarismo à la "documento dos Nove", com apoio a um
Conselho da Revolução de PREC.
Na mesma altura e para combater a
força política do esquerdismo com doença infantil e o PCP, apareceu o
Jornal Novo, cuja ficha redactorial é muito instrutiva.
A
Opção que saiu em 1976 era socialista até à mediocridade gráfica,
dirigida ainda por Artur Portela Filho, vindo daquele Jornal Novo.
Estes
jornalistas, mais os que estavam nos diários, como Diário de Notícias,
República ou Jornal de Notícias do Porto, essencialmente são os que
fizeram a escola de jornalismo portuguesa e em que aprenderam os que
agora estão a afundar os jornais todos, com a desculpa da Internet, da
crise e outras de mau-pagador. São todos de esquerda, da bem-pensante e
da extremista, alguns reciclados no socialismo democrático e outros
ainda não. Basta atender ao que passa a Antena Um para o perceber.
Em
finais dos anos setenta ( Março de 1979) apareceu o Correio da Manhã,
um jornal
abertamente popular e populista, sem interesse para o caso que nos
interessa e apenas revelador de que começou a aparecer gente que queria
ganhar dinheiro com jornais, nomeadamente os que ganhavam dinheiro com a
Maria e a Crónica Feminina e quejandas. O Tal& Qual, surgido
logo a seguir, em 1980, não andava longe do conceito, embora fosse
redigido por gente de esquerda, notoriamente. E notava-se. Ferreira
Fernandes, por exemplo.
Nos anos oitenta foram
aparecendo outros para onde transumavam alguns dos jornalistas que saiam
daqueloutros, entretanto findos e falidos, como ficaram quase todos.
Nenhum se aguentou nas canetas de tinta esquerdista.
O Expresso de Julho de 1984 tinha esta ficha redactorial:
O Tempo, semanário maldito e marginalizado pelos bem-pensantes, tinha esta, em Agosto de 1984:
O
Diário de Notícias de Setembro de 1985 já deixara o PREC há dez anos
mas ainda acolhia a nata da esquerda democrática, aquela que não deixava
abolir o artigo que impedia a reversibilidades das nacionalizações, na
Constituição.
O
Jornal de Notícias de Janeiro de 1984 era o que mais se aproximava do
jornal popular com correspondentes por todo o lado, como agora nem há.
Quase todos de esquerda.
A
Grande Reportagem aparecida a lume em 1985 refulgia na novidade da CEE,
com as luminárias do antigamente de uma esquerda democrática e
associada a um PS desmarxizado, como António Barreto e António-Pedro
Vasconcelos, com figuras como Vasco Pulido Valente iconoclasta, mas
também algo jacobino.
Nos
anos noventa apareceram outras publicações que enquadraram os mesmos
jornalistas ou outros entretanto surgidos e seguidores da mesma escola.
Em primeiro lugar e na primeira fila dos herdeiros de O Jornal e da esquerda bem pensante, a Visão, saída em Março de 1993.
O
semanário Já, do proto-BE, apareceu em Março de 1996 e era graficamente
um mimo. Substancialmente de esquerda e com os devidos tiques.
A Factos, de Outubro de 1997 durou pouco porque também prestava pouco.
Em
meados da década de oitenta começou a delinear-se o novo paradigma: as
aquisições e fusões editoriais, tendo sempre os mesmos ou quase como
protagonistas.Daqui sairam as rádios e as televisões privadas, com gente
do antigamente esquerdista a mandar de novo.
Este
artigo é do Semanário ( um jornal que não tinha ficha redactorial, mas
fugia um pouco ao padrão esquerdista) de 1 de Março de 1986.
Faltam aqui outros jornais e outros jornalistas porque isto pretende apenas ser uma mostra do essencial.
Há
um ponto comum a todos estes jornais e revistas: nenhum deles alguma
vez, durante estes últimos quarenta anos escreveu um artigo sobre
Salazar como o que mostrei num postal anterior, no jornal A Rua e da
autoria do "fascista" Manuel Maria Múrias.
Todos, provavelmente, cuspiriam para o lado se os questionassem sobre o assunto publicamente e perante a tv...
É
isso que mostra a diferença e o mal que temos na nossa democracia:
afinal é mesmo uma democracia limitada e entregue à tutela da Esquerda,
incluindo a dita democrática, ou seja o PS e franjas do PSD.
Esta mentalidade pode melhor ser compreendida se lermos o que diz o actual presidente da República numa entrevista ao Jornal de Notícias do passado dia 22:
Há qualquer coisa de estranho e esquisito nisto: Marcello Rebelo de Sousa, filho de um dos ministros do regime deposto, adoptou os tiques do antifassismo mais primitivo, logo desde o início, quando sabia que o regime deposto não era tão mau que tal merecesse. E principalmente não era tão mau como o que os antifassistas originais queriam como regime substitutivo.
Por isso, ajudou a fundar o PPD, depois PSD. Mas nunca se demarcou daquele antifassismo e ostenta cravo na lapela para celebrar aquela manhã de Abril.
Coisa esquisita...este pensamento de tabula rasa. Estranha mesmo.